“Destruíram a porta de um teatro para protestar contra a Copa”

Relato é do diretor de teatro Roberto Alvim, que ensaiava Beckett no Club Noir, que fica na Rua Augusta, em São Paulo, quando os atores ouviram um estrondo: um grupo "jogou uma pedra que arrebentou completamente o vidro da fachada do teatro", conta ele; em texto publicado no Facebook, o dramaturgo protesta: "os imbecis que quebravam TODOS os estabelecimentos no caminho gritaram: ESTAMOS LUTANDO POR JUSTIÇA! NÃO À COPA! não. não pode haver nível mais alto de barbárie e imbecilidade absoluta do que isso que acontece agora nas ruas de SP"

Relato é do diretor de teatro Roberto Alvim, que ensaiava Beckett no Club Noir, que fica na Rua Augusta, em São Paulo, quando os atores ouviram um estrondo: um grupo "jogou uma pedra que arrebentou completamente o vidro da fachada do teatro", conta ele; em texto publicado no Facebook, o dramaturgo protesta: "os imbecis que quebravam TODOS os estabelecimentos no caminho gritaram: ESTAMOS LUTANDO POR JUSTIÇA! NÃO À COPA! não. não pode haver nível mais alto de barbárie e imbecilidade absoluta do que isso que acontece agora nas ruas de SP"
Relato é do diretor de teatro Roberto Alvim, que ensaiava Beckett no Club Noir, que fica na Rua Augusta, em São Paulo, quando os atores ouviram um estrondo: um grupo "jogou uma pedra que arrebentou completamente o vidro da fachada do teatro", conta ele; em texto publicado no Facebook, o dramaturgo protesta: "os imbecis que quebravam TODOS os estabelecimentos no caminho gritaram: ESTAMOS LUTANDO POR JUSTIÇA! NÃO À COPA! não. não pode haver nível mais alto de barbárie e imbecilidade absoluta do que isso que acontece agora nas ruas de SP" (Foto: Gisele Federicce)


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247 – O relato do dramaturgo e diretor de teatro Roberto Alvim dá o tom do que foram os protestos contra a Copa realizados neste sábado 25 na capital paulista. Pelo Facebook, ele conta que ensaiava a peça Bechett no Club Noir, localizada na Rua Augusta, região central da cidade, quando todos ouviram um estrondo.

"Uma turma enfurecida jogou uma pedra que arrebentou completamente o vidro da fachada do teatro", conta ele. "Saímos do ensaio correndo para ver o que tinha acontecido e os imbecis que quebravam TODOS os estabelecimentos no caminho gritaram: ESTAMOS LUTANDO POR JUSTIÇA! NÃO À COPA!!!!!", prossegue Roberto Alvim.

O protesto continua: "os caras destruíram os vidros da porta de um teatro para protestar contra a Copa... não. não pode haver nível mais alto de barbárie e imbecilidade absoluta do que isso que acontece agora nas ruas de SP...". Leia abaixo outros posts do diretor de teatro sobre o inacreditável ocorrido de ontem, que comprova não ter rumo:

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Roberto Alvim

Ingmar Bergman estava ensaiando REI LEAR
quando um grupo totalitário assassinou
num suposto protesto político
um importante político sueco (que tinha uma postura democrática e pró-liberdade).

no dia seguinte
Bergman e seus atores chegaram ao ensaio.
os atores choravam, estavam chocados,
e sugeriram que Bergman cancelasse o ensaio e
talvez,
até mesmo a encenação.

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Bergman respondeu
que eles iriam ensaiar, SIM
e que iriam estrear na data marcada SIM,
porque tudo o que o tal grupo queria
era que o caos se intaurasse
- e que ele
como ARTISTA
jamais se deixaria tornar
refém de assassinos.

voilá!

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(os black-blocs nada mais são
que a versão contemporânea
do lumpem-proletariado:
estúpida e ignara
massa de manobra...)

Roberto Alvim

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pois é:
estamos agora limpando as pichações inócuas
que os desocupados furiosos fizeram em nosso teatro
e consertaremos os vidros assim que possível.

porque somos artistas e cidadãos
e vamos continuar trabalhando incansavelmente por uma sociedade mais sensível e fundamentalmente poética
(posto que a experiência estética
proporcionada pela obra de arte
é o ATO MAIS RADICALMENTE POLÍTICO a ser perpetrado
- nós combatemos as CAUSAS da corrupção,
não seus meros efeitos...).

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Roberto Alvim

enquanto a versão contemporânea do lumpem-proletariado
(e tão boçal, manipulável, alienada e burramente violenta quanto)
quebra teatros e estabelecimentos da classe trabalhadora
imagino que Marx
deva estar desgostoso em sua tumba
- uma revolução
que principia em totalitarismo cego
(já compreendera o próprio Marx em seus últimos textos)
só poderá resultar
em um regime cegamente totalitário...

Roberto Alvim shared Juliana Galdino's status.

é isso.
nem mais
nem menos.
Nathalia Timberg, hoje, aqui no Club Noir, encarnando seu Beckett sob estampidos de bombas e helicópteros, dizendo, nos dizendo: "Vamos seguir! Essa será nossa resposta a isso tudo! Manter a chama acesa em meio a tamanha escuridão e cegueira... Avante!"
E ela chegou cansada, com dores, mas fundamentalmente feliz! (E assim, a vida continua! E se somos nós, apenas nós, os responsáveis em criar um sentido para ela, que ele quando criado perpetue o belo e o desejo de uma sociedade mais sensível e madura.)

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Roberto Alvim

de Juliana Galdino:
"Nathalia Timberg lembrou agora de um episódio na época da ditadura, em 68, no qual a polícia deixou, deliberadamente, que os manifestantes quebrassem o máximo possível de coisas e lugares, para legitimar a repressão posterior. Ou seja: no fim das contas, as pessoas que se aproveitam das manifestações para vandalizar indiscriminadamente, podem acabar sendo um instrumento do poder estabelecido, justificando uma brutal repressão policial."

comento:
o que me deixa
mais do que puto
mas sobretudo triste
é que eu não sou um inimigo.
ao quebrarem o vidro da fachada do teatro
eles nos colocam em um lugar
que absolutamente não nos cabe:
estamos devendo 3 meses de aluguel
fazemos teatro com ingressos gratuitos ou a preços módicos
damos o nosso melhor diariamente para construir obras que transfigurem uma noção apequenada e castradora acerca do que seja a vida
ou seja:
trabalhamos febrilmente
(e monasticamente)
pela formação de uma sociedade na qual cada indivíduo conquiste sua singularidade,
sua autonomia de percepção,
sua liberdade em relação às formas e discursos hegemônicos;
lutamos
diariamente
pela eclosão de uma sociedade propositiva e consciente.

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e aí os caras
imbuídos de uma raiva indiscriminada
nos colocam
- justamente a nós, que estamos gramando ao seu lado -
como inimigos...

Roberto Alvim

ao não pesarem as CONSEQUÊNCIAS de seus atos
estes grupos black-blocs (ou seja lá como se chamam)
se perdem completamente
e cometem o erro fatal
de instaurar um campo de violência indiscriminada...

você não pode destruir uma coisa
sem propor que OUTRA coisa se instaure no lugar.
neste sentido
eles acabam expondo o fato
de que são pessoas sem nenhum vínculo ou relação...

o que eles fariam com algumas pessoas
contrárias a suas ações?
as executariam como inconvenientes?
eles querem que esses outros
as escutem e se libertem
ou esse pessoal
no fundo
simplesmente não acredita em nada?

não há ação política
nestas bases...
pois o ponto crucial é:
quando o poder cair em suas mãos
o que você fará?

há maturidade, responsabilidade, proposição e convicção nestes grupos?
eles distribuiriam o poder
ou agiriam EXATAMENTE como aqueles que detém hoje o poder?
seriam libertários
ou perpetrariam coação e cerceamento
(do mesmo modo como uma série de repúblicas de bananas ditatoriais na América do Sul?)

o que legitimaria e tornaria maduro todo este posicionamento
seria a confiança de que as pessoas (os outros) vão se reconhecer
inevitavelmente nestas ações
em vez de configurarem procedimentos (quebra-quebras generalizados)
tão sem-caráter
antevendo que não haverá fruição libertária por parte dos OUTROS
(isto é: nós, qualquer cidadão que almeja os mesmos ideais de liberdade e igualdade)
a partir dessa operação...

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