Um gol de placa
A Fifa não é flor que se cheire, nem Brasil é a Casa da Mãe Joana. Descoberta da quadrilha dos ingressos da Copa é exemplar
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A desarticulação de um esquema mafioso que lucrava milhões com a venda irregular de ingressos foi anunciada esta semana pela Polícia Civil do Rio, com a cooperação da Polícia Federal. Foram presos e serão processados alguns dos seus principais integrantes. O negócio não é novo. Já funciona há quatro Copas e, ao longo desse tempo, rendeu milhões de dólares aos criminosos. Há seis anos era investigado pela Scotland Yard, que, por sinal, elogiou o trabalho da polícia do Rio.
O caso se reveste de mais gravidade porque envolve a própria Fifa. Ficou demonstrado que - embora a maior parte dos acusados seja ligada a uma empresa privada, a Match Services - esta foi credenciada com exclusividade pela direção da Fifa para o fornecimento de ingressos e a venda de pacotes de hospedagem para estrangeiros nas Copas.
Mais: está provada a participação de pessoas próximas a dirigentes da entidade no esquema criminoso. Muitos dos acusados estão hospedados em hotéis reservados para a FIFA e têm salvo-conduto fornecido por ela para a livre circulação em todos os eventos da Copa.
O rastreamento das ligações de um dos presos, um franco-argelino, mostrou que ele fez 900 chamadas para um celular da Fifa. Além disso, Humberto Mario Grondona, filho do argentino Julio Grondona, que ocupa a vice-presidência da entidade, é um dos acusados de envolvimento no esquema. Outro é um sobrinho do todo-poderoso Joseph Blatter, presidente da Fifa.
Enfim, tudo cheira muito mal.
O episódio aparece para o povo brasileiro quase como uma desforra. Com justa razão, a Fifa é vista no Brasil como vilão. Tornou-se, aos olhos da maioria da população, profundamente antipática. É arrogante e fez exigências descabidas para a realização da Copa – muitas delas erradamente aceitas por nosso país. Tudo isso sem falar nos inúmeros escândalos que envolvem o nome da entidade e os de seus dirigentes.
Em vários momentos, a entidade chegou a ser desrespeitosa. Depois de uma vistoria que não o satisfez em estádios que estavam sendo construídos, seu secretário-geral, Jerome Valcke, afirmou que o governo brasileiro deveria levar um chute no traseiro. Mesmo que as críticas em relação ao atraso nas obras pudessem ter alguma procedência – ainda que, nem tanto, como se viu depois – isso não é maneira de se referir ao país que hospeda a Copa e aos seus dirigentes.
Por isso tudo, o episódio da desarticulação da máfia dos ingressos e a demonstração de seus vínculos com dirigentes da Fifa é extremamente positiva.
Foi um verdadeiro gol de placa.
Primeiro, porque comprova o que já se sabia: a Fifa não é flor que se cheire.
Depois, porque deixa claro que o Brasil não é a casa da mãe Joana.
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