Uma visão vesga

Os EUA e seus aliados europeus se revelam muito mais interessados, por questões de política externa, no caso da queda do avião malaio do que na guerra no Oriente Médio



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Enquanto Israel bombardeia a Faixa de Gaza e mata idosos, mulheres e crianças inocentes, os Estados Unidos e os países da Europa estão mais preocupados em impor sanções econômicas contra a Rússia, acusando o seu presidente, Vladimir Putin, como responsável pela queda do avião da Malasya Airlines, que matou 298 pessoas. O avião comercial teria sido abatido por um míssil lançado pelos separatistas ucranianos, que o teria confundido com um avião militar, mas Putin foi acusado porque o armamento utilizado é de fabricação russa. Se houvesse efetivamente preocupação em se fazer justiça, olhando o problema por essa ótica, o presidente Barack Obama seria acusado como responsável por todas as mortes causadas por armamentos fabricados nos Estados Unidos, inclusive pelo morticínio de palestinos. A alta comissária para os direitos humanos da ONU, Navy Pillay, aliás, disse nesta quinta-feira que "os Estados Unidos não apenas forneceram armamento pesado para Benjamin Netanyahu como, também, gastaram 1 bilhão de dólares no sistema antimíssil de Israel, proteção que os civis de Gaza não têm".

Não há dúvida de que os responsáveis pela queda do avião malaio e a morte dos seus passageiros devem ser punidos pelo crime cometido, mas antes é preciso identificar efetivamente os autores e as circunstâncias da tragédia, porque até agora as informações não passam de especulações. Somente após a análise das gravações das caixas pretas do avião e a conclusão das investigações é que se poderá saber, realmente, o que aconteceu. Até lá as acusações ao presidente russo e as sanções contra o seu país parecem precipitadas, frutos da guerra fria que sempre marcou as relações entre o Oriente e o Ocidente. E, por outro lado, o foco sobre a queda do avião malaio se mostra muito conveniente para desviar a atenção da guerra entre israelenses e palestinos.

Na verdade, os Estados Unidos e seus aliados europeus se revelam muito mais interessados, por questões de política externa, no caso da queda do avião malaio do que na guerra no Oriente Médio, onde o número de mortos já ultrapassa mil. A tragédia do avião certamente deve merecer a atenção do planeta, tanto quanto o conflito entre israelenses e palestinos, mas esses países fazem vista grossa para o que está acontecendo na Faixa de Gaza, limitando-se alguns deles a meros discursos sem medidas práticas destinadas a por fim ao confronto. Como o dinheiro e a mídia do mundo estão, em grande parte, nas mãos de judeus – como disse recentemente em artigo o teólogo Leonardo Boff – esse grupo de países liderado pelos americanos, além de apoio, trata com exagerada cautela tudo o que envolve Israel, que não dá ouvidos a ninguém, nem mesmo à ONU. E quem não se alinha com eles é considerado antiamericano ou antissemita.

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O Brasil, um país de tradição pacifista, foi um dos poucos que condenou a ação militar israelense contra mulheres e crianças inocentes, sendo por isso classificado de "anão político" por um porta-voz do governo de Netanyahu. Em seu número do último final de semana, a revista "Veja", que deu enorme importância à declaração desse porta-voz até então desconhecido, não apenas aprovou o que ele disse como, também, usou a palavra da moda – "apagão" – para definir a iniciativa da diplomacia brasileira. Se o Planalto tivesse apoiado a ofensiva israelense, como os Estados Unidos e seus aliados europeus, o Brasil certamente seria considerado pelo inexpressivo porta-voz e pela revista dos Civita um "gigante diplomático". Ou seja, de acordo com a ótica deles o tamanho da importância da diplomacia é medido pela sua orientação contra ou a favor de alguém, não exatamente pelo seu objetivo pacifista ou pela sua neutralidade.

Dando sequência à sua linha furiosa de oposição ao governo da presidenta Dilma Rousseff, a revista "Veja" atacou o Planalto misturando a queda do avião malaio, a guerra Israel-Hamas e a visita do presidente cubano Raul Castro ao Brasil para definir a diplomacia brasileira como alinhada ideologicamente a Cuba e ao terrorismo. Todo mundo sabe que isso não é verdade. Mundialmente reconhecido como um país pacifista, o Brasil tem se manifestado condenando veementemente todas as ações, em qualquer parte do planeta, que envolvam a morte de inocentes. Aliás, no seu texto confuso, a revista acaba sem querer dando razão à posição do governo brasileiro quando transcreve uma frase do escritor argelino Albert Camus, a propósito de um conflito no seu país-natal, quando disse: "Quaisquer que sejam as origens antigas e profundas da tragédia argelina, um fato permanece: nenhuma causa justifica a morte de inocentes".

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A frase se encaixa como uma luva no caso da guerra no Oriente Médio.

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