É hora de a política reagir e ocupar seu espaço

A pesquisa boca-de-funeral do Datafolha revela que está em curso mais uma forçação de barra midiática. Com seus 20%, Marina apenas retomou sua condição pré-eleitoral, quando era provável candidata pela Rede

A pesquisa boca-de-funeral do Datafolha revela que está em curso mais uma forçação de barra midiática. Com seus 20%, Marina apenas retomou sua condição pré-eleitoral, quando era provável candidata pela Rede
A pesquisa boca-de-funeral do Datafolha revela que está em curso mais uma forçação de barra midiática. Com seus 20%, Marina apenas retomou sua condição pré-eleitoral, quando era provável candidata pela Rede (Foto: Leopoldo Vieira)


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O jornalista Paulo Henrique Amorim disse tudo em uma postagem recente: "a Direita se esforça para converter a morte de Eduardo na de Vargas, de sinal trocado".

Em 54, Vargas se suicidou para evitar um golpe articulado entre os EUA, militares e empresários que queriam interromper a ascensão política e econômica soberana do Brasil. Vargas, como se sabe, fundou um modelo que se sustentava na expansão dos direitos trabalhistas com a industrialização pela substituição de importações, implementada com o forte papel indutor do Estado.

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A pesquisa boca-de-funeral do Datafolha revela que está em curso mais uma forçação de barra midiática. Com seus 20%, Marina apenas retomou sua condição pré-eleitoral, quando era provável candidata pela Rede, só que sem Eduardo Campos e seus 5%, já que este, tragicamente, não é mais presidenciável. Assim, não há uma comoção nacional que gerou uma nova cena eleitoral. Há uma comoção midiática tentando alavancar de qualquer maneira a derrota do projeto representado por Lula, Dilma e o PT com seus aliados, a partir de uma tragédia pessoal e política.

Estes 20% não são fruto de um legado de Eduardo. Ele mesmo buscava se consolidar como herdeiro de um, o arraesismo, que, tendo umbicação nordestina, só faz sentido e tem dimensão nacional se visto no bloco histórico do trabalhismo democrático de Vargas, Jango, Brizola, Lula e Dilma.

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O único legado de Eduardo é a frase de efeito "não desistiremos do Brasil", que pode ser entendida tanto como a persistência diante de um cenário internacional de incertezas e do linchamento ao qual o país é submetido por sua imprensa comercial, quanto com a conotação que tentam empurrar goela abaixo da sociedade: trocar o governo, numa tentativa de dialogar com as bandeiras das tais Jornadas de Junho pela positiva, neogalvanizadora tardia daquela dispersão ideológica.

E trocar o governo era a vontade inculcada àquelas passeatas pela semeadura de uma mídia oligopolizada sócia, desde que os bichos falam, dos derrotados da Revolução de 30, dos golpistas de 32, dos que levaram Vargas ao martírio, da subversão da ordem democrática de 64, dos criadores da candidatura de Fernando Collor e, hoje, do clima de ódio generalizado pela política, aos movimentos sociais, aos direitos humanos, dos justiceiros, homofóbicos, dos que bradam sobre a bolivarianização do Brasil etc. Aquele mesmo consórcio de 54.

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Querem que 2014 seja o 54 da UDN e, quando se fala de UDN, fala-se de farsa.

Marina é um nome sem projeto, propostas, ideias, partido. É um nome de um punhado de ONGS, bancos, grandes empresas, mídias. Parece uma expressão política do Smart Power estadunidense, da Diplomacia Transformacional, o vale-tudo para mudar o governo e tornar o país refém do poder econômico e informacional destes interesses, vergado diante do mundo. Ou, como diria a matriarca da família de William Randolph Hearst quando um dos filhos se dispôs a entrar nas disputas eleitorais dos EUA: este não é um assunto para os nossos empregados?

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Acusam o PT de vale-tudo pelo projeto de poder, mas a estratégia e o programa atuais foram resultado de discussões internas, amadurecimento político, diálogo social e até com partidos e governos de outros países, destaque-se, saudados pela velha mídia. Não foi do "sapo barbudo" ao "operário que veste Armani". Isso é uma falácia. Marina é o contrário. Virou salvadora da pátria – teste já realizado sem sucesso com Joaquim Barbosa – da noite para o dia, quando apenas dissentiu do PT por discordar da mediação entre o PAC e as licenças ambientais quando era ministra do Meio Ambiente.

Este sistema político-midiático produz uma sociedade e, especialmente uma classe média, despolitizada e preconceituosa que odeia a política, mas enxerga qualquer proposta de melhora, como a Política Nacional de Participação, o voto em lista com financiamento público, mais concorrência no meio informacional, como "comunismo". Ele também é subproduto de um empresariado resistente aos investimentos, às novas rotas comerciais, à existência de um mercado consumidor de massas, apesar dos exorbitantes lucros, porque não tolera acordos e pactos, só a subserviência.

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Neste momento em que surgem pesquisas rastaqueras, coros pró-Marina e até descartes de históricos aliados, como o PSDB, que nada mais foi do que uma barriga de aluguel útil a estas tenebrosas transações cantadas por Chico Buarque, abre-se uma janela de oportunidades para a política.

Quem faz parte de um debate de programa de governo, de um partido, de um movimento social, de um governo, enfim, da política, sabe que não se discute no dia a dia, seja de que espectro ideológico for, trapaças, negociatas, mentiras e manipulações. Discute-se gestão, projetos, ideias, mobilização, direitos, causas, visões de mundo. É a hora de uma insurreição. É impossível? Sim, mas o impossível é só a ausência de alguém que foi lá e fez.

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O PSB de Roberto Amaral tem a chance de defender o legado socialista e dizer que Eduardo representava um projeto partidário, mas Marina é outra história e não compactuar com este jogo. Aécio, que no funeral de Campos relembrou seu avô, para quem "quem deve brigar são as ideias, não as pessoas", mesmo sabendo o quanto isto é difícil porque há muito interesse e capital em jogo, poderia reagir ao modo como está sendo rifado. Vejam: o PSDB foi de um "moderno partido social-democrata", fundado como reação à degeneração pós-abertura do MDB, a um ventríloquo do Smart Power (ainda que tais sintomas estivessem presentes em sua gênese) e, agora, lançado ao lixo político.

Não se está falando de uma grande aliança, utópica e delirante, mas de uma reação mínima. Não se está com medo de Marina, mas de onde esta ladeira de confusões ideológicas pode levar o país, afinal o que quer dizer "Sonhático" seja em 13, 40 ou 45 pontos? É só "não se aliar a Sarney e Renan Calheiros" ou tem alguma a coisa a ver com os conteúdos das matérias votadas pelo Congresso desde 2003, que ampliaram direitos, crédito, empregos, salários, proteção social, preservação ambiental, incentivo industrial, insumos para a produção, infraestrutura logística, integração comercial etc?

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Por óbvio, sou dos que acham que nova política é crescer distribuindo renda com estabilidade e participação social e não um slogan vazio, desconectado dos meios e míope às relações políticas realmente existentes, mas a reação a isto ou à fase em que o país atravessa, com pleno emprego, salários consistentes, oportunidades, reconhecimento internacional, não precisa ser a desestabilização pautada no ódio e na mentira, no factóide, nas questiúnculas parciais unânimes do mercado de notícias. Por óbvio que conheço as circunstâncias da imbricação entre o público e o privado na política brasileira, mas uma reprodução das relações capital e trabalho (sem CLT!) - com vinténs estrangeiros - entre poder econômico e representantes daquela que deveria ser a soberania popular e vontade geral, não pode ser um "destino manifesto".

Este esgarçamento brutal da relação verdade-mentira, tragédia-farsa, é uma possibilidade de dar forma mais coesa e elevada à política como um todo. Para tal, uma reação poderia ser um pacto em torno de uma agenda eleitoral em torno de propostas, principalmente no tempo de TV. Nada de estímulo aos extremismos, à mera troca de acusações, mas, sim, engavetar geral o modus operandi da cobertura da política feita pela grande mídia e se concentrar em discutir o país, fazer o balanço dele, e apontar soluções. É preciso colocar o Instituto Millenium na casinha.

Dilma tem o que falar e tratará Marina, certamente, discutindo o Brasil. Se for a única, sua eleição será uma imperiosidade civilizatória, mas o desejável, numa democracia substantiva, é que seja apenas obra da vontade esclarecida das maiorias.

Qual o caminho democrático para, sendo lúcido como foi Santiago Dantas no manifesto do PTB dos anos 60, impor o sufrágio universal (e seu pleno conteúdo) às elites?

Os políticos, ao menos, tem a prerrogativa de serem os primeiros instados a se manifestar e, coletivamente, salvar a dignidade institucional do Brasil.

 

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