Marina Silva: nova política, blefe ou um novo “Cacareco”?

Entre erros e acertos está aí Marina Silva, novamente candidata à Presidência. E, novamente, "queridinha" da grande mídia e de boa parte da classe média dita "descolada"

BRASILIA, DF - 28/06/2014 - Convencao do PSB em Brasilia que oficializou a candidatura de Eduardo Campos e Marina Silva a Presidencia da Republica. FOTO: ALEXANDRE SEVERO
BRASILIA, DF - 28/06/2014 - Convencao do PSB em Brasilia que oficializou a candidatura de Eduardo Campos e Marina Silva a Presidencia da Republica. FOTO: ALEXANDRE SEVERO (Foto: Lula Miranda)


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A candidata Marina Silva, aos olhos de alguns eleitores mais críticos e exigentes, adotou uma postura deplorável quando, lá atrás, ao não conseguir o registro da Rede Sustentabilidade, buscou, de modo oportunista, coligar-se com o PSB para disputar a Presidência na chapa de Eduardo Campos. Por outro lado, a mesma Marina, já na condição de vice, adotou postura louvável ao se opor a certas coligações regionais – "incongruentes", para dizer o mínimo. Como, por exemplo, a coligação do PSB, parceiro histórico do PT, com o PSDB de Alckmin em São Paulo.

As criaturas de Deus, e também os políticos, são assim mesmo: uma atitude deplorável aqui, outra louvável acolá. Um pé no basta e outro na bosta.

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Entre erros e acertos está aí Marina Silva, novamente candidata à Presidência, por desígnio dos homens, esclareça-se, para que não reste dádiva ou dúvida. E, novamente, "queridinha" da grande mídia e de boa parte da classe média dita "descolada" e, por mais paradoxal que possa aparentar, também bem quista por uma boa fatia de parte da classe média mais conservadora. Seduz, portanto, a gregos e troianos – mais, notadamente, cariocas e paulistas e demais eleitores de regiões metropolitanas.

Para uns, a candidata, apesar dos seus supostos "pecados" e dos seus novos companheiros de hoje, é um expoente daquilo que se convencionou chamar de "nova política". É prudente que acompanhemos bem de perto, daqui pra frente, as suas articulações, acordos e coligações políticas para nos certificarmos de que essa história de "nova política" é realmente pra valer ou se é apenas mais um rótulo de ardilosa "marquetagem" política moderna. Ou seja: um blefe.

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O fato é que essas notícias, que hoje nos chegam pelos jornais, não me parecem lá muito alvissareiras. De que o PSB teria colocado uma espécie de "cabresto" na candidata, para que ela "honrasse" [não seria mais apropriado dizer "obedecesse"?] os acordos alinhavados pelo falecido Eduardo Campos. Isso me cheira a velha e mofada política do tal "pragmatismo eleitoral", a que se submetem também o PT e o PSDB.

Outra: esse negócio de transformar em ato de campanha as exéquias de um grande homem público, que morreu de uma forma tão repentina, traumática e trágica, não me pareceu também um auspicioso paradigma para a nova política. E ainda com direito a panfletagem explícita da militância uniformizada, "selfies", risos e outras atitudes impróprias ao necessário e respeitoso luto que ocasião exigia.

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Como se vê, Marina, apesar de sua profissão de fé, evangélica, ainda tem seus pecados para se redimir – como todos, aliás, sejam evangélicos, católicos, espíritas ou agnósticos.

Oxalá Marina Silva seja de fato um expoente da nova política [sem aspas] e, com seus gestos e atitudes, ajude-nos de fato, com seu possível e modesto exemplo, a renovar/arejar, ao menos um pouco que seja, a nossa cultura política e a nossa democracia. Desejo o melhor para a candidata e para sua candidatura – torço para que não deixe que se corrompa de uma vez a utopia da Rede Sustentabilidade. Pois enredados nessa Rede tem muita gente boa, talentosa e decente.

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Por outro lado, torço para que os analfabetos políticos e os conservadores da classe média não transformem e reduzam toda a trajetória política de Marina, seu patrimônio eleitoral, seu possível e desejável protagonismo na política brasileira – falando-se em tese, decerto –, numa espécie de "voto de protesto", a exemplo do já folclórico episódio do rinoceronte Cacareco, que numa eleição para a Câmara Municipal na cidade de SP, nos idos de 1959, amealhou cerca de cem mil votos, tornando-se o "candidato mais votado" daquele pleito.

À época da simpática rinoceronte boa de voto [sim, era uma fêmea], o estado de SP era governado por Adhemar de Barros, um político com o "jeitão" do conservadorismo paulista – "jeitão" este que se mantém no poder ainda hoje.

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À época também corria solta uma, digamos, campanha barata de incentivo ao descrédito e ao desrespeito à política, e aos políticos em geral, por parte de alguns (de)formadores de opinião. Possivelmente, como hoje, não totalmente destituída de fundamento ou sentido, ao contrário até. Mas, sabemos, ou ao menos já deveríamos ter aprendido essa lição, votar num "Cacareco" ou num palhaço não é a melhor maneira de se mudar a política.

Votar em Marina seria uma maneira de se mudar a política? Façam suas próprias reflexões e/ou apostas.

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Oxalá Marina Silva não seja tratada, seja pelos conservadores ou pelos desavisados úteis, como um novo Cacareco. Que seja votada sim, mas pelos seus propósitos, pelos seus méritos e qualidades, mas não como um mero "voto de protesto".

Sim, pois Marina Silva, em que pese suas limitações e defeitos, não deve ser tratada como nenhum "Cacareco", em todos os sentidos – tampouco como uma "tiririca de saias". Afinal, estes são fenômenos já muito bem conhecidos e catalogados na nossa história e tradição política. Conhece-se bem o enredo: cidadãos que não se interessam e, portanto, não participam da política do seu bairro, da sua cidade, do seu estado e do seu país; pessoas que sequer frequentam o seu sindicato ou reunião em seu condomínio, e que, boquirrotos, arrogantes em sua ignorância e alienação, costumam bradar aos quatro ventos: "Eu não voto. Detesto política!" ou "Vou votar nessa (ou nesse) aí mesmo, só de pilhéria. Pior que tá não fica".

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O pior é que pode ficar pior, sim. E como pode!

Essas são formulações tão retumbantes quanto equivocadas, que podem até soar sérias e críticas, mas são somente grandiloquentes, coisa de boquirrotos e inconsequentes – posto que não pesam as consequências de seus atos ou palavras.

Que Marina seja, se for o caso, realmente um voto consciente ou uma opção para valer; uma escolha madura, pensada.

Que seja uma candidata que represente de fato uma nova política e uma alternativa legítima à dicotomia PT X PSDB, a chamada 3ª via; que não seja apenas, como dizem alguns, um novo atalho para o poder de um PSDB que não ousa dizer o nome.

Que busque, portanto, manter uma previdente e saudável distância das oligarquias – na política e na mídia –, bem como manter-se longe dos políticos e economistas neoliberais que num passado recente quase arruinaram o país.

Que realize, através dos atos, da obra e dos exemplos, de fato, uma NOVA POLÍTICA.

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