As revelações do debate

Marina Silva se mostrou tranquila em todas as respostas, mas deu a impressão que, se eleita, poderá governar com figuras carimbadas do neo-liberalismo do governo FHC



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Dos sete presidenciáveis que participaram do debate promovido pela Band, na noite de terça-feira, Marina Silva foi quem mais se destacou. Embalada pela preferência de 29% do eleitorado, 10% à frente do tucano Aécio Neves, conforme a última pesquisa de intenção de votos divulgada pelo Ibope no mesmo dia, a ex-senadora acreana se mostrou tranquila e respondeu com segurança a todas as perguntas, até mesmo àquelas que questionavam a sua ligação com empresários e banqueiros às voltas com problemas na Receita Federal. Deu a impressão, no entanto, que, se eleita, poderá governar com figuras carimbadas do neo-liberalismo do governo FHC.

O debate entre os candidatos, sempre uma excelente oportunidade para uma avaliação do eleitorado sobre os aspirantes ao Palácio do Planalto, poderia ter sido melhor e mais produtivo se não fosse prejudicado por dois aspectos: primeiro, a presença de candidatos sem nenhum preparo ou qualquer chance de ser eleito, como o pastor Everaldo, do PSC; Levy Fidelix, do PRTB; e Eduardo Jorge, do PV, que atrapalharam, por exemplo, Luciana Genro, do PSOL, cuja participação poderia oferecer maior contribuição para o debate; e, segundo, a montagem de um esquema que transformou a presidenta Dilma no alvo de todos.

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Até os jornalistas do Grupo Bandeirantes, que deveriam comportar-se com isenção na condução das perguntas, foram passionais: eles faziam a pergunta a um candidato, mas o seu endereço era a Presidenta. Na verdade, levantavam a bola para os adversários de Dilma, em especial Aécio e Marina, que só tinham o trabalho de cabeceá-la para o gol. E eles souberam muito bem aproveitar a deixa com inteligência. No final, Boris Casoy reconheceu que Dilma foi a grande "vidraça", contra quem todos lançaram pedras, inclusive ele e seus colegas. Ninguém perguntou, por exemplo, sobre o aeroporto familiar construído por Aécio com dinheiro público e nem sobre a situação irregular do jato que transportava os candidatos do PSB.

O candidato do PSDB, Aécio Neves, embora com bom desempenho e até certo ponto corajoso na medida em que assumiu a sua admiração pelo ex-presidente Fernando Henrique, cometeu dois erros graves que devem lhe custar a perda de muitos votos e sua permanência no terceiro lugar: primeiro, escolheu a adversária errada para bater, pois quem lhe tomou o segundo lugar na corrida sucessória foi Marina e não Dilma; e, segundo, em outra atitude ousada anunciou o nome de Arminio Fraga como o seu ministro da Fazenda, caso venha a ser eleito, hipótese cada dia mais remota. Isto porque Fraga, reconhecido por todos por suas estreitas e antigas ligações com o capital estrangeiro, integrou o governo de FHC com uma atuação muito criticada, tendo sido inclusive um dos incentivadores das privatizações.

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Aliás, num dado momento dos debates, o candidato tucano deixou escapar a sua intenção de promover privatizações. Os nanicos pastor Everaldo e Fidelix também escancararam a disposição de privatizar tudo, mas eles não contam porque – ainda bem – não tem a mais remota chance de vencer o pleito. Ainda assim vale registrar o exagerado otimismo do pastor, que insistia em dizer "no meu governo" e chegou até a afirmar que a partir do dia primeiro de janeiro, quando assumiria a Presidência da República, tomaria determinadas providências, etc, etc. Muitos dos presentes tiveram que segurar o riso.

Ainda não se pode avaliar os efeitos positivos ou negativos do debate junto ao eleitorado, porque a audiência ficou aquém do esperado, mas se alguém conseguiu sensibilizar indecisos e atrair votos só existem dois candidatos que, pela sua performance, podem ter realizado esse feito: Marina Silva e Dilma Rousseff. De qualquer modo, a esta altura ninguém mais tem dúvidas de que haverá segundo turno, com as duas mulheres disputando o cargo. Difícil agora, considerando o novo cenário eleitoral criado com a morte de Eduardo Campos e a entrada em cena de Marina Silva, é fazer um prognóstico sobre qual das duas será eleita, mesmo com o Ibope apontando uma vitória da ex-senadora acreana. Isto porque ainda temos mais de um mês de campanha, período em que muita água ainda vai correr por baixo da ponte. E ninguém pode prever a possibilidade de surpresas.

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