Pra sempre nem sempre
Não adianta brigar, rezar, fazer promessa nem macumba. Não adianta buscar fórmula nem estudar bem o assunto: acaba
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Pra sempre não é pra sempre. Estranha contradição. Óbvia afirmação.
Você já deve ter se dado conta disso antes de mim. Tenho a nítida impressão de ter sido uma das últimas pessoas a descobrir isso.
É duro de acreditar. Eu devia ter suspeitado. Deve ter coisa pra sempre. Mas só coisa chata, sem graça. Coisa que não dá vontade de ser. Tô falando de pedra, tijolo, cimento, tronco de árvore, areia. Aí, só de teimosia elas são - são pra sempre.
Mas voltando à minha descoberta, como eu demorei tanto a perceber que o pra sempre é fake? Conversa pra boi dormir. Vou processar os irmãos Grimm e todos os demais da turminha deles por danos morais: eu acreditei nos contos de fadas. A gente morre. E se a gente não é pra sempre, por que algo que tem a ver com gente deveria ser? A verdade é uma baranga, feia que dói: nada é pra sempre. É no mínimo algo que, se não acaba, se transforma. E isso se considerarmos a morte como o prazo de validade máxima do pra sempre.
Sendo o pra sempre até que a morte chegue e separe todo mundo, eu abro exceção pro amores maternais, fraternais, filiais. Esses podem sempre, ser pra sempre.
Mas os demais afetos jamais serão pra sempre. Nossas paixões não são pra sempre. As estações não duram pra sempre. Nem as gestações.
Nem o inevitável teto preto que bate em todo mundo um dia pelo menos ao longo da vida. Nada dura tanto que não acabe. Feio assim. O pra sempre sempre acaba (e isso não foi dito nem cantado por mim).
E cá entre nós, se os casos, paixões, tesões e amores fossem pra sempre, sempre os mesmos, acho que iam ser sem graça como as pedras, troncos e areias. Eles acabam. Ou ao menos tem um fim pra recomeçar com algo de novo, diferente.
Não adianta brigar, rezar, fazer promessa nem macumba. Não adianta buscar fórmula nem estudar bem o assunto: acaba.
E olha, dizem por aí que muito do que acaba tá abrindo alas pra algo que, até que se acabe de novo, será melhor. Hei, não tô falando de namorada, marido ou afins tão somente. Pode ser dentista, psicanalista, manicure ou professora de Inglês. Tô falando de se acostumar ao fim. Tô falando de pra sempre enquanto durar. Aquela tal chama que mantém a gente aceso e pulsando (também não fui eu que recitei) - eterna enquanto dure.
É.
Não processarei mais os ficcionistas históricos da humanidade que patentearam o "viveram felizes para sempre". O pra sempre deles tinho o prazo de até a próxima. Eu que não captei a mensagem tã rápido.
E assim caminhamos. Acreditando numa verdade mais formosa e atraente, onde nossos instintos e impulsos teimam em nos fazer crer que é pra sempre.
Mesmo sabendo que não, tá valendo a crença.
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