Será que Marina acha que Deus vota?

Imaginar uma gestão presidencial, uma governança pública, um Estado pontuados por este nível de crendice declarada é um afronta



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Marina Silva tem invocado sua fé religiosa para fundamentar falas e decisões públicas. Fica claro que esta é sua ‘visão de mundo’, o que a filosofia alemã denomina Weltanschauung.

Na qualidade de candidata a cargo oficial, num Estado laico, isso preocupa. Ou verdadeiramente assusta. É uma prática pessoal que, em todos os casos, teria que ser abandonada, se porventura a candidata fosse eleita. Mas será que Marina abandonaria, ou se apoiaria, por exemplo, na estranhíssima e inexplicável ‘bancada evangélica’ para aprofundar mitos, crenças e fundamentalismos?

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O que uma bancada evangélica poderia querer num Estado laico? Apenas ‘representar’ as ovelhas ou, se deixarem, tomar o Estado e impor religião oficial? Qualquer partido político é legítimo para lutar pela tomada do poder pelo voto. Nenhuma bancada religiosa, num Estado laico, sê-lo-á.

É assim nos três poderes. A sentença do juiz não pode invocar deuses. A produção do legislativo, a lei, não pode invocar mitos, fé e crenças religiosas. Os atos e manifestações do poder executivo também não podem se apoiar em rezas e livros ‘sagrados’. Isto seria um estupro constitucional.

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Há no Direito um instituto chamado ‘natureza jurídica’. Dentre outras coisas, ele qualifica, juridicamente, um ato ou uma manifestação de qualquer ‘autoridade’ pública, no exercício do cargo. Como o Estado brasileiro, assim como todas as democracias evoluídas, é laico, nenhuma manifestação oficial, seja oral ou escrita, pode pretender utilizar vieses religiosos, santos, deuses, descarregos, orações ou rezas.

Nem se precisa entrar muito no mérito de o que Marina tenta ‘explicar’ com sua crença. No episódio da morte de Eduardo Campos, por exemplo, a candidata afirmou que se livrou de embarcar naquele voo por ‘providência divina’. Providência divina? Por essa ‘lógica’, o Deus que a poupou não teve pena de Campos.

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Imaginar uma gestão presidencial, uma governança pública, um Estado pontuados por este nível de crendice declarada é um afronta.

A fé de cada um é inalienável. Há santos e deuses para todos os gostos e nacionalidades. Richard Dawkins (Deus um delírio) chegou à contagem de 5120 santos na Igreja Católica. Já os deuses são uma meia dúzia. Mas fé não deve [ria] ser motivo de panfletarização. Muito menos de curralização psicoeleitoral para obtenção de votos.

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A Constituição da República quando criou o Estado de 1988 em sua forma laica, mantendo uma tradição brasileira e conteste com o que há de mais evoluído no mundo acertou. Fé e crenças não podem embalar uma campanha eleitoral. Nem religiosos de plantão podem pautar candidatos e ameaçar não votar com seus currais e bolsões religiosos-eleitorais. O Brasil é de todos. Inclusive dos ateus. 

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