O provincianismo de se xingar o presidente

Teria querido dizer, o 'doutor', que se pudesse, como médico, a deixaria morrer? Triste a manifestação de um médico diante de um mal estar alheio. 'Mesmo' que de Dilma, pessoa que ele não 'gosta'



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O tema não é novo entre observadores da política brasileira. Presidentes da República são historicamente xingados e ridicularizados sob um misto de algo como ódio vulgar invejoso e projeção de personalidade imbecil.

A 'inveja' parece ter ficado bem nítida, por exemplo, na era Lula. Não seria por ele 'ser' o presidente. Mas, como diziam muitos que 'possuíam' curso superior, por ele 'nem' ter curso superior. Ou outros ainda que não tinham o tal curso e então não queriam ser 'governados' por um 'qualquer'. Para estes, sem o tal nível superior. É uma crítica primária. É a previsibilidade do provincianismo discriminatório.

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Adorno e Horkheimer (Dialética do esclarecimento, p. 173) tratam da tragédia que foi a 'superioridade bem informada' na época nazista. Dizem: 'Quantos não foram os argumentos bem fundamentados com que os judeus negaram as chances de Hitler chegar ao poder'.

É a soberba de querer 'manter' Lula torneiro mecânico. Um verdadeiro prazer social desses 'superiores bem informados' em gargalhar nos salões e galerias perfumados.

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Agora, um novo episódio de ódio explícito, envolvendo inclusive violação profissional à medicina. O médico gaúcho Milton Pires escreveu no Facebook sobre a queda de pressão de Dilma Rousseff no último debate: "Tá se sentindo mal? A pressão baixou??? Chama um médico cubano, sua grande filha da puta!"

Teria querido dizer, o 'doutor', que se pudesse, como médico, a deixaria morrer? Triste a manifestação de um médico diante de um mal estar alheio. 'Mesmo' que de Dilma, pessoa que ele não 'gosta'.

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A manifestação é livre e garantida, está na Constituição da República. Não a ofensa, que, juridicamente, pode gerar responsabilidades civis e criminais para qualquer um. Mas, releve-se o legalismo de leis e códigos, e dane-se a ofensa. O que chama atenção é a jactância pessoal da intolerância ruminada. E o ódio ofensal que parece estar recrudescendo nas entranhas da sociedade internetiada.

Intelectualmente, percebe-se, não há grandes diferenças entre esse 'doutor' e sua conterrânea, a que ficou conhecida como 'racistinha' que xingou o goleiro Aranha, do Santos, de 'macaco'. Não é porque este aí é médico que se vai exigir uma cabeça organizada à não ofensa preconceituosa, ao não ódio. Tanto é assim que ele babou seus problemas e desejos.

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Presidentes brasileiros foram a vida toda retratados e caricaturizados como asnos, jumentos, burros, cavalos, hipopótamos, antas e outras espécies semanticamente ridicularizadas do reino animal.

Parece haver essa sanha social brazuca. Este é o nosso útero antropofágico. Votamos, mas não queremos o eleito. Não é assim noutros países em que a figura do presidente é até protegida. E não se venha, de novo, com o provincianismo de que os nossos são mesmos imbecis autênticos.

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Para quem se derrete com Aécio, que ainda não foi presidente, se vier a ser, não escapará da mania.

Atrás de ser favorável ou contra um ou outro candidato ou presidente, há o ódio nítido, a ofensa, a discriminação e a intolerância. A sociedade brasileira tem dado tristes mostras disso. Foi assim com os médicos cubanos xingados e humilhados até o osso, com negros, gays, travestis e presidentes. Mas também é assim nas escolas com nossos filhos e com qualquer um.

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Os médicos sempre foram queridos pela sociedade. Contrariamente aos advogados que despertam ódios profissionais imensos, por exemplo, nas portas dos tribunais de júri com uma horda berrando 'justiça!' e querendo bater nos defensores. De qualquer forma, o ódio não é um superproduto da inteligência. Em casos como estes aí, é uma manifestação humana baixa e triste.

Do blog Observatório Geral

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