Ecce homo

Pretos, pobres, nordestinos, beneficiários do Bolsa Família e de qualquer programa do governo, cotistas, domésticas... toda essa gente passou a ser ridicularizada. Aécio Neves, em nenhum momento, veio a público tentar acalmar os ânimos

Pretos, pobres, nordestinos, beneficiários do Bolsa Família e de qualquer programa do governo, cotistas, domésticas... toda essa gente passou a ser ridicularizada. Aécio Neves, em nenhum momento, veio a público tentar acalmar os ânimos
Pretos, pobres, nordestinos, beneficiários do Bolsa Família e de qualquer programa do governo, cotistas, domésticas... toda essa gente passou a ser ridicularizada. Aécio Neves, em nenhum momento, veio a público tentar acalmar os ânimos (Foto: Lelê Teles)


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Eis aí as novas pesquisas, frescas, levemente bafejadas pelo suor dos debates, carregada da tensão catártica dos embates públicos nas redes sociais, repercutindo o ruído violento das ruas.

E o que nos revelam os números, esses frescos números que agora apontam Dilma na dianteira? Olhando daqui, me parece que o nosso bom Aécio está derretendo.

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Por um tempo, ele contou com a simpatia do eleitor desinformado, ou mal informado.

Aquele cara que tinha ouvido falar apenas que o mineiro havia feito uma ótima administração em seu estado e que, por isso mesmo, de lá havia saído com 92% de aprovação a seu mandato e feito o seu sucessor.

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É pra glorificar de pé.

Além destes dados, esse eleitor e essa eleitora sabiam no máximo que Aécio era neto de Tancredo Neves (aquele que foi sem nunca ter sido) e que era senador da república eleito com esmagadora quantidade de votos.

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E só sabiam disso porque era só isso que a imprensa dizia sobre ele.

A revistaveja lhe dava capas atrás de capas, sempre sorridente, altivo, olhos vidrados, como quem acabou de tomar uma injeção de cavalo.

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O colunismo da grande imprensa ora o abandonava, ora se agarrava a ele, mas sempre afável.

O eleitor disposto a não votar em Dilma, não sabia se votava nele ou em Marina, demorou-se a decidir. Os dois, Marina e Aécio, falavam de coisas um pouco sem sentido e usavam, quando não o ódio puro e irracional, uma linguagem vazia, produzida para enganar trouxas.

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Aí começou o segundo turno, Aécio ficou em evidência, teve que se apresentar à nação e nego parece não ter gostado muito do que viu.

Sabemos todos que aqueles que odeiam o PT votam em Aécio porque odeiam o PT e não porque amam Aécio. Esse voto é de Aécio.

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E cada um de nós sabe que temos aí também que computar o voto dos inocentes úteis, ou midiotas, esses ventríloquos que papagueiam o discurso dos barões da mídia.

E há aquele eleitor e aquela eleitora que não morrem de amores nem por Dilma e nem por Aécio e que observam o desenrolar da campanha para conhece-los melhor.

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Pois foi justamente agora, na reta final, que Aécio e sua gente diferenciada se mostrou ao país em toda a sua glória.

Coroado pelos números que o projetava à frente de Dilma, o mineiro abusou da autoconfiança, nomeou ministros, pediu aplausos pra o insepulto FHC, abriu seu leque de apoios, desafiou a mandatária para o confronto direto e, com isso, encheu seus eleitores de empáfia.

A conta veio.

FHC desdenhou de pobres e nordestinos, agiu como um jumento.

Armínio Fraga foi flagrado a dizer que sobraria muito pouco dos bancos públicos numa gestão Aécio, falou-se em tomar medidas impopulares inclusive.

Aí acendeu a luz vermelha, via-se eleitor caminhar nas ruas com as orelhas em pé, perscrutando.

O apoio de Marina, como já se sabia, não lhe deu votos, mas o apoio de Bolsonaros, Felicianos e Malafaias fez crescer sua rejeição.

E nos debates televisivos Aécio, finalmente, se apresentou à nação.

Soubemos todos, estarrecidos, que o nobre senador amordaçava a imprensa em seu estado, driblava a lei para investir menos em saúde, empregava vários membros de sua família e ele mesmo, veja você, foi sempre empregado pela família que sempre esteve no poder, desde os avós.

Ouvimos que o senador é proprietário de rádios, e que inclusive ganhou uma de presente do bigodudo José Sarney. Essa foi de lascar.

Vimos, igualmente estarrecidos, que Neves era agressivo com as mulheres e desrespeitoso com seus oponentes. Um machista arrogante para ser mais preciso.

Descobrimos que ele construiu um aeroporto com nítida intenção de privilegiar os negócios da família; um não, dois.

Sua militância, os soldados de Bolsonaro e Malafaia, foram às ruas e às redes, envenenados pelo ódio de seu candidato nos primeiros debates, e passaram a destilar todo tipo de preconceito: racial, social, regional, de gênero...

Aécio gritava que o PT estava querendo dividir o Brasil, mas os eleitores do mineiro deixavam claro que eles é que já viviam em um mundo à parte. Lobão chegou a afirmar que se Dilma vence ele vai embora, talvez para Marte.

Andar com bandeira ou camisa do PT virou razão para insultos.

Estamos vendo surgir uma onda de violência: um cadeirante com camisa do PT foi chacoalhado e ameaçado por dois bruta montes; médico xinga a presidenta nas redes sociais, a coxinha do SBT tripudia da saúde da mandatária, um ator é escorraçado num restaurante e em seguida é ofendido por um colega de profissão, este defensor de Aécio e um velho conhecido por gostar de bater em mulher.

Pretos, pobres, nordestinos, beneficiários do Bolsa Família e de qualquer programa do governo, cotistas, domésticas... toda essa gente passou a ser ridicularizada nas redes sociais, difamadas como uma gente burra, vagabunda, conivente com a corrupção, petralha, parasita e que vota com o estômago.

Aécio Neves, em nenhum momento, veio a público tentar acalmar os ânimos. Mesmo sabendo pelo noticiário que partia de seus eleitores a maioria das agressões físicas e verbais. Parece mesmo corroborar com eles.

As novas pesquisas que acabam de ser divulgadas, ainda frescas, mostram que esses selvagens estão a afugentar eleitores e que a injeção de cavalo que Aécio aplicou em seus seguidores repeliu o eleitor civilizado.

Mas não tenhamos dúvida, a selvageria não tem limite. Como a boca do jacaré abriu, é o que dizem as pesquisas, e agora a tendência é Dilma se distanciar cada vez mais do tucano, os barões da mídia vão jogar sujo e pesado em busca de uma bala de prata.

Sairá pela culatra.

Palavra da salvação.

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