O discurso da presidenta e a montagem do governo

É importante se ter consciência de que qualquer fórmula de governabilidade e governança deve ser capaz de criar condições para a realização do discurso da presidenta

É importante se ter consciência de que qualquer fórmula de governabilidade e governança deve ser capaz de criar condições para a realização do discurso da presidenta
É importante se ter consciência de que qualquer fórmula de governabilidade e governança deve ser capaz de criar condições para a realização do discurso da presidenta (Foto: Leopoldo Vieira)


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Assisti ao discurso da vitória da presidenta Dilma no antigo Blue Tree, em Brasília, e ela tem absoluta clareza de que o NOSSO projeto foi o vitorioso nas urnas. Isso ficou nítido nas quatro prioridades para seu segundo mandato: a reforma política por meio de um plebiscito, o combate à corrupção, a escuta à sociedade e o diálogo com o setor produtivo.

Dilma sabe que para aprovar uma Lei de Meios é necessário uma maioria política de outro nível e, como ex-guerrilheira, que não é aconselhável enfrentar duas batalhas de alta intensidade e tão decisivas ao mesmo tempo: a reforma política e a democratização dos meios de comunicação. Diretrizes banhadas nos conteúdos à esquerda apresentados na campanha e em qual estratégia política tornará factível o Novo Ciclo de Desenvolvimento

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Ela aposta no plebiscito por que crê na capacidade popular de compreender o que estará em jogo, uma fé na cidadania que embasou a opção por travar, no primeiro turno, uma disputa programática nua e crua com Marina, apostando que seria politicamente mais vantajoso derrotar, de uma tacada só, as duas faces do neoliberalismo neste pleito, ainda que com o risco de reduzir a diferença eleitoral. Estava em questão a sobrevivência ou não de ilusões e confusões pós-eleitorais no seio do povo.

A presidenta foi correta em dizer que o país não saiu dividido das eleições, mas seu chamado está longe de significar um clássico "governo de união nacional". Ela convoca o Brasil para pensar "prafrentemente" partindo do retrato do presente: um país com inflação controlada, crescimento capaz de assegurar empregos e salários, mercado consumidor de massas, player da Nova Ordem Mundial e que experimentou uma mobilidade social ímpar em sua história.

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Não estamos mais em 2003, mas em 2014, com avanços enormes e intensa luta política neste interregno. Logo, quando se fala em "um ministério com a cara da sociedade" é importante se ter consciência de que qualquer fórmula de governabilidade e governança deve ser capaz de criar condições para a realização do discurso da presidenta. É obviamente contraditório exigir que ela "compreenda" que foi o NOSSO projeto que ganhou, mas proponha uma equipe baseada apenas na ideia de que tal ou qual setor se veja representado no governo. O desafio reside na aliança com as forças sociais e econômicas dispostas a seguirem o rumo consagrado no último dia 26.

Desta feita, o xis da questão na economia não é emitir sinais como entregar o comando dela a empresários, seja na fazenda ou na indústria. Mas em blocar aqueles setores compromissados com a redução dos juros, do spread, da ampliação da oferta de crédito, de um câmbio pró-exportações e anti-especulação etc. O mesmo vale para a indústria. Há que se coesionar empresários que tenham compromissos com os investimentos, com o mercado de consumo de massas, com os empregos e salários, com a proteção aos direitos trabalhistas e que vejam o crédito e os incentivos tributários que recebem como uma aposta no papel deles no projeto de desenvolvimento vigente.

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Portanto, lideranças políticas, com conhecimento do setor, com trânsito entre os grupos em cada setor que tenham acordo com as escolhas explicitadas no discurso da presidenta, dão conta do recado.

No mesmo sentido, a pactuação do Novo Ciclo de Desenvolvimento passa menos por nomear uma liderança de um setor aqui e ali e mais por construir alianças baseadas em instrumentos concretos de gestão e coordenação do desenvolvimento e seus conteúdos, como poderia ser por meio do Plano Plurianual, por exemplo. É o antigo debate com Marina Silva: não basta mais ser uma liderança que tenha visão estratégica, é preciso a gestão desta visão estratégica.

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E a Federação? Em que pese toda a transformação promovida pelos programas ancorados nas transferências obrigatórias, superar o ofertismo, isto é, a relação federativa baseada na oferta de políticas a serem objeto de parcerias para quem quiser qualquer delas ajudará bastante a ampliar a aliança em prol do Novo Ciclo de Desenvolvimento. Novamente, instrumentos de gestão e seus conteúdos, como o PPA, qualificariam a sinergia com o parlamento, com governadores e prefeitos para convergências federativas em torno de objetivos e metas para a Nação nos três níveis de governo. Muito além da costura pontual de apoios advinda de uma postura republicana.

É claro que no Congresso Nacional se deve buscar uma composição mais representativa da aliança vitoriosa, contudo, quando se fala da urgência em aprovar a reforma política, tributária etc, não é só uma coalizão grande, bem coordenada e contemplada que resolve. Se o propósito for governar com o NOSSO projeto, em cada reforma dessas é necessário conferir um conteúdo compatível com ele. Um Congresso mais pulverizado e conservador saiu das urnas. É, então, crucial que a governabilidade passe do patamar da governabilidade parlamentar para abranger a social.

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Esta eleição foi ganha por a presidenta ter resgatado a classe C do pavor com o terrorismo midiático quanto ao futuro da inflação e dos empregos. Sem deixar um milímetro de envidar esforços para dialogar com empresários e por uma coabitação tranquila com a base aliada, é imprescindível construir uma efetiva aliança com a classe C e a classe C foi resgatada quando foi levada à propaganda eleitoral, no rádio e TV, e passou ao centro da mensagem da presidenta. A tarefa de organizá-la é a saída mais consistente para sustentar o encaminhamento do NOSSO projeto. Isso não deve ser obra só do Partido. É um desafio do governo a ser logrado por meio de arranjos de gestão e do incremento da participação social, dentre outros, dos beneficiários dos programas sociais como o ProUni, Minha Casa Minha Vida, Bolsa-Família, Pronatec.

Quanto à militância petista, o papel cumprido foi determinante, mas ele não foi resultante de uma ação planejada. Foi uma insurreição diante da possibilidade da derrota. O momento exige que essa mobilização se converta em força social e política organizada territorialmente a ser permanentemente mobilizada. Então, não está na ordem do dia se o PT será mais autônomo diante do governo, qual a frequência de DIlma às reuniões do Diretório Nacional, mas se o partido conseguirá ser a sustentação do que foi verbalizado pela presidenta no discurso da vitória.

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