O bom ladrão

O corrupto, funcionário público, é um bagre de escama ordinária. Já o corruptor sempre é um peixe grande. E aí é que mora o problema



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A palavra corrupção e corrupto nunca esteve tão em voga. Quem acabou de chegar no Planeta Terra está convicto de que foi o PT quem inventou essa contravenção.

Já a palavra corruptor, larga em nosso léxico, nunca fez parte do vocabulário da mídia familiar e nem dos cartazes dos midiotas.

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A inevitável associação dicotômica corrupto/corruptor é um tabu no Brasil. Mesmo porque, sabemos todos, de corruptor e de louco todo brasileiro tem um pouco.

Atentai bem.

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O corrupto, funcionário público, é um bagre de escama ordinária. Já o corruptor sempre é um peixe grande. E aí é que mora o problema.

Toda vez que um tubarão é preso, Deus o absolve.

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Gilmar Mendes, essa eminente e ubíqua deidade, deu dois Habeas Corpus para o banqueiro Daniel Dantas em 48 horas; recorde olímpico, pan-americano e mundial que demorará mais tempo a ser batido do que o salto triplo do nosso João do Pulo.

Salvatori Cacciola, outro banqueiro escroque apanhado a delinquir, orou e Marco Aurélio Mello assinou um perdão e Caccio, oh glória, zarpou pra Europa com o bolso cheio de grana suja.

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A tadição, desde a cruz de Cristo, é que Deus conceda o perdão aos bons ladrões. E Deus nos dias de hoje você sabe quem é, né? Se não sabe é melhor saber, a multa pelo crime de ateísmo jurídico está atualmente em 5 mil lascas.

Os midiotas dizem que bandido bom é bandido morto, mas isso é retórica reversa. Na real, a turba midiota só deseja a morte do bandido mau.

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E nós sabemos como é que a revistaveja, jornalões e tevezonas definem quem é bom e quem é mau.

Veja o caso dessa traficante loira. A curitibana Marina Stresser de Oliveira. Mesmo flagrada com farto arsenal e uma fartura em drogas e munições, a criminosa não corre o menor risco de ser linchada e amarrada nua em um poste com um cadeado de bicicleta.

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Toda imprensa se esforça para compreender o que a levou a delinquir. É sempre assim.

Dentista, loira, inteligente, vaidosa, bem sucedida e bem vestida... são as qualidades da moça, segunda a nossa imprensa. Por que será que ela se enveredou pelo mundo do crime, perguntam estarrecidos repórteres?

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No entanto, microfone em punho, esses mesmos repórteres se refestelam quando a polícia prende um moleque preto sem camisa e de chinelos, pego com dois papelotes de cocaína no alto de um morrro sujo e caótico.

Não aparece um psicólogo ou sociólogo para dizer que não sendo loiro, nem dentista, nem vaidoso, nem bem de vida e nem bem vestido, era compreensivo que o jovem estivesse vulnerável à pequena contravenção.

Não, homens de bens é igual a homens de bem. Homens sem bens são homens maus.

Atentai bem.

Penso nisso enquanto assisto ao elegante desfile de executivos milionários indo ao cárcere. A mídia faz média e é protocolar.

Por que diabos não vão pra cima destes cabras com sangue nos olhos, como foram pra cima de Genoíno e Delúbio Soares? Por que os petistas condenados foram linchados em praça pública, execrados pelos midiotas e até agora continuam amarrados a um poste com uma tranca de bicicleta e ninguém faz uma única piada com os corruptores?

Na condição de mero dactilógrafo, respostas não tenho.

O natal vem aí e em seguida o Réveillon, é tempo de champanhe e caviar. Deus, generoso, há de deixar os nossos filantropos corruptores fazer a farra em Paris, guardanapos na cabeça.

Atentai para essa anedota arrebatadora.

Como profissional de marketing político, trabalhei na campanha do PSDB em Brasília em 2006. Lá conheci um sujeito chamado Buani, ele estava na companhia da esposa, que a mídia canalha e rasa batizou de musa do mensalinho.

Buani era candidato a deputado, mas sua mulher é que apareceria na TV pedindo voto. Um fiasco. No estúdio, a moça sequer conseguia ler o texto no TP.

Buani era o dono da Fiorella, grife de lanchonetes que funcionavam dentro da Câmara dos Deputados. Para continuar parasitando os gordos auxílios alimentação dos servidores sem ser admoestado, Buani pagava um mensalinho de 10 mil lascas ao pequeno Severino Cavalcanti, então presidente da Casa.

Buani, corruptor, embora tenha perdido as concessões que tinha para empresariar na Casa, saiu-se dessa como uma vítima. Severino teve que renunciar ao mandato e foi execrado pela mídia e pelos midiotas. Dois presos, duas medidas.

Estes elegantes corruptores de agora nem precisarão dizer que foram achacados como o fez Buani. Deus os libertará com o divino benefício da delação premiada.

O diabo é que esse foi um recurso usado por satanás. Judas Iscariotes, eu já o disse, foi o primeiro malandro beneficiado pela delação premiada. Entregou o chefão e ainda saiu, ileso, com uma sacola cheia de moedas.

Atentai bem.

MILAGRE

Estarreço-me ao ler o noticiário. Pizzolato se converteu, se evangelizou.

Com mil diabos!

Jesus foi um prisioneiro, disso todos nós o sabemos. Tomou chicotadas, cusparadas, chutes na bunda, dedo no olho e ainda esfolaram-lhe o lombo no látego.

Dali seguiu pra cruz, de lá pro túmulo e de lá já não se sabe pra onde. Desconfio que o Mestre tenha voltado pro cárcere, é impressionante a quantidade de gente que O encontra por lá.

Não conheço um que entrou na cela cristão e de lá saiu ateu; exemplo inverso há aos milhares. A cadeia é hoje o local com o maior índice de conversão ao cristianismo.

Pizzolato não fugiu à regra. Sentindo-se só, abandonado, faz uma genuflexão semântica e abre seu coração pra Jesus.

O Bom Ladrão, aquele que se arrependeu aos 45 do segundo tempo, confessou-se gatuno e pediu perdão. Assim o faz até hoje todos os larápios que se convertem atrás das grades.

Mas Pizzo é inocente convicto...

Não faz sentido.

GOG E CHICO CÉSAR

Não espere nada do centro se a periferia está morta, dizia Fred Zero Quatro. E a perifa tá viva, elástica e transbordante. Antes se dizia "você pode sair da favela, mas a favela não sai de você". Hoje pode-se dizer que você não entra na favela, mas a favela entra em você.

Essa força centrípeta, da periferia para o centro, ganhará mais força e legitimidade se tivermos Chico César no Ministério da Cultura e o poeta e rapper GOG comandando a Seppir.

Chega de tanta gravata. A periferia já não pode e já não deve mais aceitar apenas fazer figuração em campanhas de 4 em 4 anos.

Palavra da salvação.

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