‘Vingamos o profeta’, de novo: contra sátira, assassinatos religiosos

Nada justifica a matança. Começa a haver uma relativização intelectualoide dizendo que a revista poderia ter ‘atraído’ a chacina com sua sátira. Infame

Nada justifica a matança. Começa a haver uma relativização intelectualoide dizendo que a revista poderia ter ‘atraído’ a chacina com sua sátira. Infame
Nada justifica a matança. Começa a haver uma relativização intelectualoide dizendo que a revista poderia ter ‘atraído’ a chacina com sua sátira. Infame (Foto: Jean Menezes de Aguiar)


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Religião. Esta é a última palavra para o atentado de 7/1/2015 na França, com 12 mortos, fora os terroristas, e reféns. Contra sátira, fundamentalistas optaram pela chacina. Lutero reconhecia que a religião é arqui-inimiga da razão. O cineasta espanhol Luis Buñuel observava: ‘Deus e a Pátria são um time imbatível; eles quebram todos os recordes de opressão e derramamento de sangue.’  Bingo.

Todo o terrorismo islâmico se assenta na religião e tem por base algum deus. Não só islâmico.

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Século 21, janeiro de 2015, a festa da virada mal acabava e essa gente feia [medonha, já reparou?] continua invocando mito de profeta para matar. O alvo, a revista francesa de humor Charlie Hebdode. O fundamento, vingar um ente mítico invisível, perdoe-se o pleonasmo. São uma gente de quinta esses imbecis fundamentalistas religiosos.

Não aguentam comédia, inteligência, racionalismo, ciência e sátira. Vivem enfezados e só pensam em violência em nome de algo pseudocósmico, deístico ou divinal e que creem superior.

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Nada justifica a matança. Começa a haver uma relativização intelectualoide dizendo que a revista poderia ter ‘atraído’ a chacina com sua sátira. Infame. É a mesma lógica de dizer que mulher de minissaia atrai estupro. O ativista árabe Dyab Abou Jahjah postou que ‘não era Charlie’ (Hebdo) porque teria havido ridicularização da fé e cultura dele, mas era Ahmed, o policial morto. Como marola serve. O policial morreu no típico exercício da função que envolve risco de morte. Mas e cartunistas, satíricos, jornalistas e comediantes? O atentado é típica intolerância religiosa. Declarada inclusive. Em nome de ‘profeta’.

A intolerância religiosa é velha conhecida de estudiosos. Em nome dela são os ataques suicidas; o 11/9; o 7/7 londrino; as Cruzadas; a caça às bruxas; a Conspiração da Pólvora; a partição da Índia; as guerras entre israelenses e palestinos; os massacres sérvios/croatas/muçulmanos; a perseguição dos judeus como “assassinos de Cristo”; os problemas da Irlanda do Norte; o Talibã e cristãos a explodir estátuas antigas ou chutar novas; as decapitações públicas de blasfemos; o açoite da pele feminina pelo crime de ter se mostrado em um centímetro; a infame discriminação em Israel pelos nascidos naquele país que não são judeus.

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A sátira é estudada no Direito. Ivana Pedreira Coelho esmiúça o tema no artigo ‘Direito de sátira: conflitos e parâmetros de ponderação’ (livro Direito e mídia, Atlas). Existe diferença entre ofensa e sátira. Muitos satirizados ‘querem’ para si o status de ofendidos. Mas isto é um problema pessoal de cada um. E mesmo a ofensa em si, jamais em hipótese alguma autoriza o homicídio.

A sátira é livre, por pior – ou melhor- que seja; por mais desagradável que seja. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal está cansado de corrigir decisões judiciais inferiores um tanto quanto conservadoras. Se a sátira invadir as estritas searas jurídicas da ofença criminal por opinião e a da responsabilidade civil deixa de ser sátira para ser objeto de atenção jurídica, podendo fazer com que o ofendido vá ao Judiciário.

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Mas matar?

Aí está o naco do atraso e do bestialismo fundamentalista. Mas aí também estão a intolerância e a ausência de razão, pela suposição jactanciosa e egocêntrica – ou financeiramente malandra- de que algum terráqueo pode ser investido ou autorizado por um mito qualquer, seja Deus, Buda, Alá, Maomé, Jesus, São Jorge, Iemanjá etc.

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O historiador francês Georges Minois ensina que a raiz da intolerância não tem que ver com o problema da verdade: ‘Ninguém persegue os que não creem no teorema de Pitágoras, ou os que negam que dois e dois são quatro; contentam-se em tratá-los de loucos’. O problema da intolerância é com o conceito de Deus. Zombe de Pitágoras e você não morre. Experimente zombar de Deus.

Je suis Charlie! A convocação do presidente francês e da maciça sociedade francesa, a dos intelectuais e pensadores, a da Sorbonne, não será em vão.

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Desgraçadamente para os chacinados mais nada adianta, nem o recorde de tiragem previsto da revista e a continuidade da sátira, livre, transgressiva e anárquica como deve ser.

O mundo do ‘politicamente correto’ já provou ser patrulhador, formalista, conservador, crédulo, ofendível, autoritário, inconveniente, chato e burro. Agora, sob fundamento similar, de que não se pode zombar e satirizar livremente, mostra seu lado assassino. Não é lógico e possível que esses fundamentalismos religiosos que excluem, discriminam e odeiam sejam avanço, progresso e modernidade. O século 21 tem que dar um basta a esta coisa bestial. 

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