O Governo desaprendeu a travar a batalha da comunicação

Como sair do atoleiro se o Governo desaprendeu a travar a batalha da comunicação? Não basta comunicar-se mais. É preciso reorientar toda a comunicação

Como sair do atoleiro se o Governo desaprendeu a travar a batalha da comunicação? Não basta comunicar-se mais. É preciso reorientar toda a comunicação
Como sair do atoleiro se o Governo desaprendeu a travar a batalha da comunicação? Não basta comunicar-se mais. É preciso reorientar toda a comunicação (Foto: Antonio Lassance)


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Em sua primeira reunião ministerial (27/1), Dilma exortou seus ministros a travarem a batalha da comunicação. Falou, repetiu, insistiu. Quase perguntou se precisava desenhar.

A ordem é a seguinte:

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"Nós devemos enfrentar o desconhecimento, a desinformação sempre e permanentemente. Vou repetir: sempre e permanentemente. Nós não podemos permitir que a falsa versão se crie e se alastre.

Reajam aos boatos, travem a batalha da comunicação, levem a posição do governo à opinião pública, a posição do ministério, a posição do governo à opinião pública. Sejam claros, sejam precisos, se façam entender. Nós não podemos deixar dúvidas."

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No fundo, Dilma sabe que ela não é a melhor comunicadora do governo e pede ajuda a todos de sua equipe para uma tarefa que, de qualquer forma, nenhum presidente, sozinho, é capaz de realizar: dizer ao público o que está acontecendo e o que o governo tem feito.

Até aí, tudo bem. A maioria dos governos anteriores tinha ministros mais desenvoltos para a comunicação do que o presidente. Lula foi uma das exceções. Ele era, sem sombra de dúvida, o melhor comunicador de seu próprio governo.

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Com Dilma é diferente e a constatação pode ser perfeitamente administrada. Mas há uma pedra no meio do caminho.

Se o pedido da presidenta não significar uma completa reorientação na concepção, nas práticas e nas mensagens do governo, o tiro irá sair pela culatra. Vai estar aberto o caminho para uma sucessão de trapalhadas.

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De todo modo, não se deve, em hipótese alguma, tentar esconder um presidente da República. Não há como tirar um assunto do colo da presidenta quando o assunto é o Brasil.

Um presidente da República jamais pode fingir que alguns grandes problemas não são seus.

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Toda semana a presidenta precisa mostrar que existe, que está trabalhando, que está fazendo.

Mesmo que não queira, Dilma precisa aparecer regularmente, dar sua opinião e orientação, ainda que os detalhes e as piores partes do tratamento de algum problema fiquem por conta de outra pessoa.

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Ao invés de aparecer pouco e, quando aparece, falar muito (Dilma é a primeira a se cansar de seu próprio discurso), é melhor a presidenta aparecer mais vezes e falar menos, fazendo discursos mais curtos e diretos.

Se não for pedir demais, em nome da clareza na comunicação com o público, Dilma poderia usar mais metáforas e analogias. Alguns não vão gostar, mas a maioria vai.

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Fazer comunicação com o quê e com quem?

O atual governo gasta muito e gasta mal em comunicação. E conseguiu a façanha de desmontar boa parte dos bons instrumentos próprios que haviam sido construídos no primeiro mandato do governo Lula.

É bom fazer o registro: a situação já estava assim antes do atual ministro Thomas Traumann assumir o posto. O problema é que, até agora, nada mudou e Traumann não tem qualquer controle sobre a área de publicidade.

O governo faz regularmente uma pesquisa para aferir os hábitos de consumo da população.

Para quê? Não se sabe. A pesquisa mostra que o rádio é quase tão presente como fonte de informação quanto a tevê. Em seguida, vem a internet. Por último, bem atrás, a mídia impressa.

Apesar disso, o governo prefere gastar em tevê valores estratosféricos, extraordinariamente maiores do que gasta em rádio.

Ainda mais absurdo é que jornais e revistas impressos recebam bem mais que a internet e até que o rádio. Isso não é e nunca foi mídia técnica. É um escândalo de compadrio da publicidade com os grandes veículos.

O governo tem um gosto todo especial em financiar a concentração da mídia.

Sem contar que o Ibope e a vendagem de muitos veículos são alimentadas por informações de dirigentes e gestores governamentais que dão a alguns veículos um tratamento privilegiado. Esquecem-se que informação oficial é um bem público, e não um produto a ser barganhado na troca de favores do mercado da notícia.

Comunicação estatal, considerada um palavrão, foi quase reduzida a zero

A grande maioria dos ministros não sabe o que é o governo, seus números, seus planos, suas metas, suas dificuldades.

O governo já teve, mas extinguiu, um boletim informativo regular, chamado Em Questão.

O Em Questão era o principal veículo diário de informação sobre as ações, números e argumentos em defesa do governo.

Deveria ser ressuscitado pela presidenta, isso se ela quiser pautar pelo menos a fala de seus ministros.

Em 2008, o próprio gabinete pessoal do Presidente Lula começou a produzir um informativo, chamado Destaques, com dados e outras informações sobre as ações de governo.

O último caderno Destaques data de julho de 2013.

O último programa de rádio Café com a Presidenta foi ao ar em 30 de junho do ano passado.

O cargo de porta-voz está vago há mais de um ano.

Falar em comunicação estatal virou palavrão, desde que extinguiram a Radiobrás e surgiu a EBC.

A fusão da Radiobrás com a TV e rádios educativas do Rio de Janeiro gerou uma grande bagunça entre o que era a comunicação pública, feita pela Acerp (que controlava a TV e Rádio Educativa do Rio de Janeiro) e a comunicação estatal (feita pelo sistema Radiobrás, em Brasília).

A antiga e extinta Radiobras ensinou Câmara, Senado e Justiça a implantarem seus veículos. Hoje, a comunicação do Executivo está longe do padrão de excelência alcançado pela comunicação dos outros Poderes.

A comunicação governamental se resume a um canal de tevê a cabo, a NBR, para o qual o próprio governo não dá a mínima importância. A NBR já deveria ser tirada da EBC e estar sob o comando direto da Secom faz tempo.

Da forma como está, com a EBC agindo como mera empresa de prestação de serviços, é mais barato para o governo contratar a empresa da esquina que filma aniversários e casamentos.

É na rua que se anda pra frente

O governo vai realmente travar a batalha da comunicação? Para falar o quê? E com quem?

O principal alvo para uma batalha da comunicação, antes dos veículos de imprensa, é o público.

O governo vai para a rua? Se não for, não vai poder dizer que está travando a batalha da comunicação.

Ministros e suas equipes vão por o pé na estrada, visitar capitais e cidades do interior, dar entrevistas aos veículos locais e blogueiros de cada cidade?

O governo poderia gastar um pouco menos em propaganda e um pouco mais em sola de sapato, telefonemas, e-mails, interação em mensagens pelas redes sociais e vídeos no Youtube.

A principal forma de comunicação que falta ao governo chama-se conversa. É preciso pegar o telefone para ligar e conversar com prefeitos, dirigentes sindicais, entidades estudantis, movimentos agrários e de luta pela moradia e ativistas das redes sociais.

Ativistas das redes sociais? Sim, é uma categoria nova, influente na formação de opinião e, a não ser no caso dos direitosos, ainda é absolutamente desconhecida e desprezada pela maioria dos que fazem comunicação governamental.

Não custa também perguntar: quantos ministérios já estão chamando suas conferências nacionais? Quantos já implantaram conselhos e comitês para discutir políticas públicas.

Talvez muitos ministros não saibam, mas o decreto que instituiu a Política Nacional de Participação Social continua valendo.

Seria bom alguém se dedicar a informá-los.

Artigo publicado no portal Carta Maior

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