O dia em que o País não parou

O que assistimos ontem, respeitável público, foi um show de pirraça da elite descontente com a nova realidade social do país, tendo as ruas como picadeiro

O que assistimos ontem, respeitável público, foi um show de pirraça da elite descontente com a nova realidade social do país, tendo as ruas como picadeiro
O que assistimos ontem, respeitável público, foi um show de pirraça da elite descontente com a nova realidade social do país, tendo as ruas como picadeiro (Foto: Nêggo Tom)


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Raul Seixas ficou conhecido como o “maluco beleza”, devido as suas ideias consideradas fora de lógica e nem um pouco convencionais. Coisa de gênio. Uma de suas composições polêmicas, e porque não dizer profética, “O dia em que a terra parou”, traz no refrão o seguinte verso: “Essa noite eu tive um sonho de sonhador. Maluco que sou, eu sonhei com o dia em que a terra parou”. Como eu também não gozo da tal normalidade padrão que a sociedade tenta nos impor, eu também tive um sonho. E maluco que também sou eu sonhei com o dia em que o País deveria parar, mas não parou.

Ao longo do dia acompanhei pela internet e pela TV, a cobertura da tão esperada manifestação que aconteceria pelo Brasil a fora. Estava na expectativa para ver o que iria acontecer. A todo instante algumas emissoras interrompiam a sua programação para mostrar a manifestação. Algumas transmitiram ao vivo durante um bom tempo. A todo instante estimativas sobre a presença do público nas manifestações eram atualizadas. Umas tinham como fontes dados da Policia Militar local. Outras tinham como fonte dados dos organizadores do evento. Como sempre os números não bateram. E por vezes chegaram ser decepcionantes. Segundo dados da P.M, cerca de 20 mil pessoas estiveram nas ruas do Rio de Janeiro. No jogo Flamengo x Santo André pela final da copa do Brasil de 2004, estiverem presentes 73 mil pagantes no maracanã, fora os bicões.  Acho que dava para ter marcado essa manifestação carioca para o estádio das Laranjeiras ou ter convidado 1% da torcida do Flamengo para engrossar o coro de protesto. Em Goiânia a P.M estimou a presença de 2 mil pessoas na manifestação. Estima-se que na última festa promovida pelo jogador Adriano, o Imperador, o número de "primas" convidadas tenha sido superior. Em Aracaju, a P.M estimou a presença de 900 pessoas na manifestação de hoje. Os organizadores disseram que 5 mil pessoas compareceram. Só o Salgueiro campeão do carnaval carioca em 1993 tinha 5.500 componentes em seu desfile. Possivelmente só na ala das baianas tinha mais gente do que no protesto em Aracaju. 

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Em São Paulo foi diferente, a P.M estava estimando a presença de um público bem maior do que aparentava ter. Em dado momento percebi que num intervalo de 30 minutos anunciou-se a chegada de aproximadamente mais 200 mil pessoas a Avenida Paulista. Ao final da noite os números oficiais davam conta de que mais de um milhão e duzentas mil pessoas estiveram presentes ao local. Quem é que estava fazendo a contagem do número de pessoas presentes na manifestação em São Paulo? Seria o mesmo sistema que computa os votos do paredão no Big Brother? Outra coisa que me intrigou foi o perfil e os estereótipos dos manifestantes mostrados na TV e em fotos na internet. O que deu a entender que o sistema de cotas sociais e raciais adotado pelo governo também estava na pauta dos protestos. Não se via negros, nem pardos. Nem moreninhos, nem mulatos. Será que a manifestação foi patrocinada pela Ku Klux Klan e pelo 3º Reich ou apenas era restrita a Elite branca do País? Não usavam black tie, mas trajavam a camisa da seleção brasileira de futebol como uma espécie de abadá do carnaval da Bahia. Será alguns usavam pulseirinhas coloridas que lhes permitiam acesso a área vip da manifestação? Pode parecer deboche da minha parte, mas não é. É apenas uma constatação da triste realidade que vive o país. Cada dia mais dividido por classes sociais. 

Estamos vivendo um momento de loucura. Alguns estão desesperados. Outros estão muito doidos. Malucos nada “beleza”. Alguns estão tão sem controle que declaram abertamente que querem ver a Presidenta da república sangrar. Outros beiram a insanidade e pedem intervenção militar, quando na verdade eles deveriam ser interditados por clamarem por tamanho retrocesso. A noite tivemos outro panelaço nas varandas gourmets da classe média alta e da elite. Até porque pobre só bate panela quando está com fome. Motivo este, aliás, bem mais justo. Eu entenderia melhor essa manifestação se a turma da varanda gourmet que resolveu bater panela, estivesse indignada com as injustiças e desigualdades sociais no País.  Se a revolta deles era por saber que toda essa grana desviada nos “mensalões” e “petrolões” da vida, poderia estar sendo investida em comunidades carentes, em escolas públicas, no aumento da renda da população mais pobre, na construção de moradias dignas para quem não tem teto.  Eu entenderia e acreditaria na indignação da turma da varanda se ela fosse a favor de um país igual para todos os cidadãos, se fosse a favor da Pec das domésticas ou em favor de uma distribuição de renda mais justa. Eu entenderia e admiraria se eles estivessem protestando para que todos pertencessem a uma só classe, sem distinção de qualquer natureza.  Se a preocupação fosse com o bem estar de todos. Mas eu duvido que na mente da maioria dos manifestantes tenha espaço para pelo menos para um motivo dos quais eu citei acima. Por isso não vejo razão para eles baterem panela e muito menos para pedir o impeachment da Presidenta da república.

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O que assistimos ontem, respeitável público, foi simplesmente uma apresentação única de um grande circo burguês distribuído em unidades móveis espalhadas pelo país. Um show de pirraça da elite descontente com a nova realidade social do país, tendo as ruas como picadeiro. Não que o governo seja uma maravilha e não mereça ser contestado. Pois não é, e deve ser contestado.  Toda manifestação popular é legítima e deve ser respeitada. Mas deve estar pautada pela união e não pela divisão de classes. Enquanto não houver união de fato entre as pessoas e as classes, seguiremos andando na corda bamba nesse circo dos horrores e sonhando com o dia em que a nação vai parar.

O último que sair recolhe a lona e apaga a luz.

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