A arbitragem é o retrato do nosso futebol

Chega de tratar a injustiça desportiva como algo fortuito ou natural. Antes que percamos de vez a capacidade de nos indignarmos



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Aconteceu de novo. Um gol legítimo da Ponte Preta foi anulado e o time perdeu a vaga na semifinal do Campeonato Paulista para o Corinthians. O lance não apresentava dificuldade, nem exigia interpretação. Tampouco bloqueou uma jogada com desenlace imprevisível. A bola entrou, de maneira límpida e incontroversa.

Os responsáveis pela arbitragem justificaram o prejuízo irremediável dizendo que "o erro faz parte do jogo". Acontece que todo ano ocorrem "acidentes" parecidos. Sempre favorecendo os times poderosos, em decisões com equipes menos privilegiadas. É impossível acreditar em casualidade.

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A CBF e suas representações estaduais manipulam descaradamente os campeonatos que organizam. No sistema de pontos corridos, repassando (muito) mais dinheiro da TV aos seus favoritos. Nas disputas eliminatórias, escalando juízes e auxiliares que "erram" contra adversários indefesos. Não há recursos possíveis às vítimas.

As instâncias capazes de influir nos resultados de jogos e torneios estão sob controle dos clubes das capitais, através de seu poder nas federações. É como se as disputas de certo ramo corporativo fossem fiscalizadas por funcionários das maiores empresas.

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Isso parece aceitável apenas no futebol brasileiro, visto como atividade menor, folclórica, indigna de obrigações com a legalidade. Repetindo o vício usual nas relações de consumo, abandona-se o esporte num limbo jurídico, onde torcedores, atletas e agremiações não têm qualquer proteção contra o cartel em exercício.

A imprensa possui grande responsabilidade na legitimação do esquema. Porque endossa a mentira do equívoco inocente. Porque evita fazer levantamentos estatísticos das lambanças das arbitragens. E principalmente porque subestima o problema, ignorando-o nas suas bravatas moralistas.

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Não faltam propostas viáveis para amenizar o problema. O recurso visual, por exemplo, corriqueiro em diversas modalidades. Mas o ideal seria quebrar o domínio da CBF e das federações sobre a arbitragem, pelo menos concedendo aos times o direito de fugir dos conchavos regionais. Ou alguém acredita que a Ponte passaria pelo São Paulo nas semifinais da Copa Sulamericana de 2013 se os árbitros fossem brasileiros?

Qualquer projeto digno de moralização do futebol precisa coibir esse absurdo ancestral e reincidente que pereniza o poder de uma elite corrupta. Chega de tratar a injustiça desportiva como algo fortuito ou natural. Antes que percamos de vez a capacidade de nos indignarmos.

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