Minhas experiências com a direita e seus algozes (II): a falência do ensino

A sociedade para o ensino só serve como fonte de clientes, de alunos imbecilizados e insensíveis. Vale a lei vulgar do comércio: os clientes sempre têm razão

A sociedade para o ensino só serve como fonte de clientes, de alunos imbecilizados e insensíveis. Vale a lei vulgar do comércio: os clientes sempre têm razão
A sociedade para o ensino só serve como fonte de clientes, de alunos imbecilizados e insensíveis. Vale a lei vulgar do comércio: os clientes sempre têm razão (Foto: Dom Orvandil)


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Na postagem anterior (vê aqui) comecei por definir que há dois tipos de direita ideológica, sempre presentes em nossa sociedade. Equivoquei-me. Na verdade há três modelos.

Um é o organizado em partidos oficiais como o PSDB, o DEMOCRATAS, o PPS, o PP, o PSC e outros de menor expressão. Outro meio de organização são os grupos patrocinados por banqueiros e por empresas estadunidenses, como TFP, a Opus Dei, Vemprarua, Revoltados Oline, Brasil Livre, Fóruns da Liberdade e outros poucos conhecidos, além da mídia descontrolada e irresponsável na tarefa perversa de alienar a opinião pública.

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O segundo grupo de direita é composto exatamente dos alienados pelos aparelhos dominantes da elite massacrante. Esse segmento de pessoas pensa que pensa, mas, na verdade, lamentavelmente apenas repete o que a direita lhes indica como dogma. As escolas, ruas, igrejas, clubes, ginásios de esportes etc se superlotam de fanáticos que não pensam, apenas berram e são manadas tocadas pelos capitães a serviço do golpismo. O que é uma pena para as pessoas que têm suas consciências e direitos sabotados pelo fanatismo.

Para servir aos propósitos do massacre social da direita entram escolas de todos os níveis, igrejas, religiões, futebol, músicas sem conteúdo, mas embaladas, enlatados “culturais” e outros lixos do mercado manipulador.

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O terceiro pelotão de direita é feito dos que pensam ser de esquerda, mas que são linhas auxiliares da direita. Vê-se isso seguidamente no Congresso Nacional com Deputados e Senadores alinhados taticamente com Caiado, Aécio, Serra, Cunha e outros arautos do atraso. Volta e meia esses esquerdistas infantis se unem à direita para golpear direitos democráticos e perseguir pessoas que lutam numa perspectiva mais ampla na conquista do poder.

Os esquerditas auxiliares da direita gostam muito de discutir, de questionar tudo e a todos e são muito teóricos, sem militância consequente. Enquadram-se no que Lênin definia como a pior das oposições: dizem que lutam a favor do povo, mas não fazem nada na prática pelo povo. Quando conseguem um poderzinho qualquer se acomodam e se vendem.

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Conheço muitos desses. Não são solidários, não defendem os que lutam e quando podem dão o bote para golpear. Vivem de lutas do passado e gostam de dar testemunho do que já fizeram, mas atualmente torpedeiam os que lutam. São prejudiciais e perigosos à luta por uma sociedade justa quanto os dois primeiros. Não são de confiança.

Nesta carta proponho compartilhar minhas experiências no ensino com alunos, com professores e com instituições.

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Penso que o que temos predominantemente hoje é ensino e não educação. Ensinar significa marcar, sinalizar, por uma marca nos alunos como se faz com o gado nas fazendas. Enquanto que educar é tirar de dentro, extrair dos alunos os potenciais humanos. É ajudar a parir o conhecimento construído com a participação de todos.

Enquanto ensinar é a ação de impor o conhecimento e este já ideologicamente formatado para dominar e conduzir rebanhos, com o objetivo de manipular os dominados para os interesses dominantes, educar é buscar o que os educandos já sabem, suas culturas, suas relações, sua condição de classe, sua consciência adormecida e domesticada contando com eles como sujeitos construtores e democraticamente protagonistas dos direitos humanos.

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No ensino há professores donos do saber e alunos que nada sabem. Na educação há educandos que aprendem e ensinam e há educadores que ensinam e aprendem com os educandos, num processo crítico incessante e transformador da sociedade.

Na educação educadores e educandos apontam a sociedade e suas contradições como campo de ação. Sabem que nessa sociedade nada é casual nem vontade dos deuses ou dos demônios. Os pobres existem com suas terríveis mazelas porque há quem os explore e viva do seu sangue, empobrecendo-os nos seus direitos.

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Educandos e educadores são parceiros que se unem a milhões de outros atores sociais na luta pelos direitos de todos. A sociedade e a realidade integram a sala de aula e esta aquelas. Na educação a instituição educacional não é uma ilha nem um convento acima da realidade, como no ensino.

A educação é humanista e coletivista. O ser humano como ser social e coletivo é o eixo central na educação. Por isso nela não há preconceitos, fundamentalismos, discriminações e exclusões, que são produtos marginais da dominação. O que mais lhe interessa são as pessoas e não o lucro dos donos de escola. Por isso ela é alegre, celebrativa e criativa.

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No ensino professores cuspidores de conteúdos não sabem nada da sociedade e os alunos obedientes escamoteiam a realidade desumana em busca de um canudo ou de um título “profissional”. Visam apenas o mercado. São puro adestramento de manadas e nada mais.

No ensino os professores são concorrentes e predatórios. Os alunos são clientes e traiçoeiros. Buscam-se uns aos outros por puro interesse e mesquinharia.

O ensino é o campo propício dos preconceitos, do autoritarismo, da falta de diálogo, da falta de respeito ao outro, de alunos contra professores que querem pensar e construir pensadores. No ensino não há lugar para pensadores, somente para copiadores e repetidores do discurso dominante.

Nesse sentido carrego frustrações e dores com o que vejo nas instituições particulares de modo geral. São antros de prostituição da juventude em troca do que esta lhe paga nos setores financeiros.

Choco-me com professores que leem e recomendam sujeiras como a revista Veja e órgãos da mídia manipuladora. Lembro-me de um diretor que tem os Estados Unidos como o ideal de País e de sociedade. Para tanto é capaz de corromper usando os poderes de Estado para mandar o filho estudar lá, segundo ele, o melhor País do mundo. Esse coitado é bom motorista para transportar professores da capital para a cidade do interior, onde atua com essa pobreza filosófica educacional, mas como coordenador geral é um vergonhoso obstáculo. Vergonhoso não porque nada entenda de educação, mas porque é arrogante, autoritário, alienado e traiçoeiro, como o são geralmente os que atuam nas coordenações das instituições de ensino de todos os níveis.

Poxa, o sujeito é diretor formador de opinião da única faculdade da região do interior onde atua. Impressionante. Sem concorrência serve de aparelho corruptor da consciência de centenas de jovens trabalhadores.

Recordo-me de uma diretora que ameaça os professores, que promove o ódio de classe na instituição onde atua, com a complacência e omissão do diretor que se diz de esquerda (essa esquerda que defini acima).

Certa vez levei a essa diretora um projeto de formação humana para aproveitar as horas complementares e ajudar os alunos – aqueles são apenas alunos – a acessar possibilidades de construção humanizadora. A dona não aceitou alegando que aquilo não ajudaria os estudantes a aumentar os lucros das empresas e que essas coisas de humanidades aumentam os custos dos empresários.

Daí se percebe, por esses exemplos e milhares de outros, que os resultados estão aí nas ruas do Brasil.

Claro, Paulo Freire confirma que a educação não muda o mundo, mas afirma que sem ela não transformamos a realidade.

Essa é a diferença entre a educação que os donos, coordenadores e diretores de faculdades, todos com práticas daninhas de direita odeiam e desprezam e o ensino exercido por eles.

A educação empurra as instituições e os seus agentes para o meio da sociedade e do povo enquanto o ensino, por ser alienado e autoritário, nem imagina que eles existam.

Para a educação a sociedade é o campo privilegiado de ação e de protagonistas a serem resgatados com respeito e seriedade.

A sociedade para o ensino só serve como fonte de clientes, de alunos imbecilizados e insensíveis. Vale a lei vulgar do comércio: os clientes sempre têm razão. Por isso alunos consumistas, que só sabem reclamar papel higiênico, estacionamentos e professores que escrevem matérias no quadro giz são sempre atendidos porque as instituições não podem perder seus fregueses, que por qualquer coisa trocam de boteco.

Esse modelo faz os coordenadores se sentirem patrões e autoridades vazias que ameaçam professores, sem nenhuma ideia do que sejam companheirismo e processo educacional.

Contudo, infelizmente, são esses despreparados que passam todo o tempo de sua juventude sendo clientes de ensino caro e de baixa qualidade, sem qualquer profundidade humanística, que consomem as manipulações da mídia e se dispõem a golpes autoritários e anti democráticos.

Tenho alguns destes alunos que participam de grupos no What’s app que apoiam a redução da idade penal, que defendem atos violentos da polícia assassina, que mata crianças pobres e negras e que apoiam também o golpe contra os direitos dos trabalhadores através da terceirização. São miseráveis em argumentos, fenômeno que denuncia a falta de fundamentação humanística e de leitura. Pior, muitos desses alunos são pobres e trabalhadores.

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