O Brasil e os coveiros da democracia

Um impeachment não pode ser um capricho de derrotados. Me admira um partido como o PSDB passar de protagonista da redemocratização a coveiro da democracia. O que a ânsia pelo poder não faz

Senador Aécio Neves (PSDB-MG) na porta do Plenário do Senado. Foto: Ana Volpe/Agência Senado
Senador Aécio Neves (PSDB-MG) na porta do Plenário do Senado. Foto: Ana Volpe/Agência Senado (Foto: Fátima Bezerra)


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A oposição segue seu intento de golpear o Brasil e atropelar a democracia, desrespeitando o resultado legítimo das eleições de 2014, quando as forças conservadoras foram derrotadas pela quarta vez consecutiva. Os fatos recentes, que já eram esperados, estão sendo apresentados como um novo "fim do mundo". Fizeram esse mesmo alarde quando uma agência internacional rebaixou a nota do Brasil.

Independente da divergência de opiniões e dos conflitos entre governo e oposição, quem faz política pensando no país e nos interesses da população, tem obrigação de agir com seriedade e se portar com senso de responsabilidade para aguardar os desdobramentos. Sem querer falsear a realidade ou tergiversar sobre a crise econômica e política, o fato é que a votação do parecer do Tribunal de Contas da União sobre as contas da presidenta Dilma tem que ser avaliado com o peso real que possui.

O TCU emitiu um parecer e as recomendações ali contidas devem ser analisadas pela Câmara e pelo Senado, cujos deputados e senadores podem avalizar, rejeitar ou optar por uma aprovação com ressalvas. O debate será instalado e o governo terá oportunidade de apresentar as argumentações políticas e técnicas necessárias. Ao final, será feita uma votação e mesmo que o resultado não seja favorável ao governo este não significará a senha automática para abrir um processo de impedimento da presidenta Dilma.

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A questão política central é que os golpistas enxergam nesse episódio do TCU uma oportunidade para criar um ambiente político que justifique a derrubada de um governo eleito de forma legítima. Um impeachment não pode ser um capricho de derrotados. Me admira um partido como o PSDB passar de protagonista da redemocratização a coveiro da democracia. O que a ânsia pelo poder não faz.

Mas antes de pensar em golpe, a oposição conservadora terá muito com que se preocupar. A semana começa com o deputado Eduardo Cunha dedicado a justificar as novas denúncias que lhe foram imputadas e com a abertura de processo no STF contra o senador José Agripino por corrupção e lavagem de dinheiro. Que fique claro: não quero aqui fazer julgamento prévio, apesar da gravidade da situação. Que os dois se defendam e provem que são inocentes. Ou que a Justiça, após investigação dos órgãos de controle, os julgue - e os penalizem, se os considerarem culpados.

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Acredito que nos próximos quinze dias, o governo conseguirá recompor sua base parlamentar, o Congresso Nacional apreciará os vetos da presidenta Dilma e iniciará a análise do relatório do TCU. Sem açodamento, com toda a responsabilidade e prudência que a questão requer. Sem transformar esse fato em espetáculo midiático. É tudo o que país não precisa nesse momento.

O governo certamente tem erros e isso a própria presidenta já reconheceu. Por exemplo, a demora em reconhecer a gravidade da crise econômica, a articulação com os partidos e os parlamentares da base aliada, o diálogo com a sociedade civil organizada para discutir as medidas de enfrentamento da crise, além de questões relativas à comunicação. Mas o que vem determinando a deterioração do ambiente político e a extensão da crise econômica (que tem forte viés internacional) é o comportamento predatório e claramente golpista de uma oposição conservadora, que busca na fomentação ao ódio a instalação de um clima de beligerância política poucas vezes visto na história da república.

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Busca-se argumentos jurídicos para esconder sorrateiros propósitos de lesa-democracia. É de causar espanto que muitos que foram vítimas do golpe de 64 e se proclamem democratas, tramem uma saída golpista para o Brasil nesse momento de dificuldades, retomando uma tradição histórica que foi tentada contra Getúlio Vargas nos anos 50 e que resultou no seu suicídio em 1954; contra Juscelino Kubstchek e que levou à eleição de Jânio Quadros; e que finalmente se concretizou com a deposição de João Goulart em 1964.

Nós temos uma grave crise econômica a enfrentar. O país precisa se debruçar sobre isso e a presidenta está empenhada na busca de alternativas para superação desse momento de dificuldades. Não podemos virar uma Grécia que foi tragada pelo ambiente de instabilidade política. Os que têm compromisso com a democracia estão sendo cada vez mais convocados a assumir uma postura de resistência ao golpismo conservador, que busca trazer de volta o projeto que não deu certo no Brasil e que, por isso mesmo, foi derrotado pelo povo. Projeto este que sucateou o Estado e quebrou o Brasil três vezes. Um governo que vivia ajoelhado aos pés do FMI. Superar a crise não pode ser um passo atrás, travestido por uma fantasia moralista. É unir o país, corrigir erros e seguir em frente.

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Enganam-se os que pensam que nós vamos nos omitir a tentativas golpistas. A reação popular não será de conivência. A conquista da democracia nos foi muito cara para abdicarmos dela. Além do mais, voltar ao passado é um retrocesso que o Brasil não merece. Cometemos erros sim, mas o legado do PT para o país é infinitamente maior do que os possíveis equívocos. Em que período da nossa história se conseguiu combinar crescimento econômico, distribuição de renda, combate à exclusão social, políticas afirmativas, geração de emprego e sustentabilidade ambiental como nos governos Lula e Dilma? Vamos vencer a crise sim. Sem desviar o país do projeto que vinha sendo executado nos últimos 12 anos e que mudou o Brasil.

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