Mais Médicos + Golpe = menos médicos

Ou como ao se desrespeitar o princípio democrático do voto uma minoria pode prejudicar a imensa maioria



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Em 2013, o Governo Dilma lançou o Programa Mais Médicos em resposta ao pedido de ajuda dos prefeitos para enfrentar o problema da falta de médicos no SUS e às reinvindicações por mais saúde dos movimentos que tomaram as ruas em junho daquele ano.

O PMM tem três eixos. No primeiro, garante atenção básica à saúde de 63 milhões de brasileiros em 4 mil municípios. No segundo, financia a realização de mais de 25 mil obras em Postos de Saúde em 5 mil municípios (mais 50% já estão prontas). No terceiro, amplia as vagas nas escolas de medicina já existentes e cria novas escolas onde ainda não existem para democratizar o acesso ao ensino superior e possibilitar que mais brasileiros possam se formar como médicos. Também muda o currículo da medicina buscando formar um médico mais humanista, com um atendimento mais integral, que resolva mais problemas de saúde e mais compromissado socialmente. Por fim, reorienta a formação de especialistas em função das necessidades do SUS e de saúde da população.

O PMM cuida do presente, garantindo atendimento médico e infraestrutura e prepara o futuro com a criação de 11,5 mil vagas de medicina até 2017, a criação de mais de 20 mil vagas de especialização e buscando a meta de, em 2026, ter no Brasil 600 mil médicos em vez dos atuais 400 mil.

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O PMM enfrentar problemas que o Brasil historicamente apresentava com relação ao atendimento médico da população.

1- O Brasil, além de ter os médicos mal distribuídos (quanto mais pobre o estado ou município, mais a população precisa e menos médicos existem naquele local), tinha em 2013 apenas 1,8 médicos por mil habitantes. Menos que a vizinha Argentina (3,9 p/mil), menos que países com sistemas públicos universais de saúde como Reino Unido (2,7) ou Portugal (3,8), e bem menos que a média dos 33 países da OCDE.

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2- Também as escolas de medicina são mal distribuídas, tem poucas vagas por habitante (muito abaixo dos vizinhos Uruguai e Argentina e da média da OCDE) e um mercado de trabalho aquecido de modo que o Brasil só formava 2/3 da quantidade necessária de médicos que o mercado de trabalho exigia a cada ano.

3- O Brasil sempre foi muito protecionista e restritivo com relação à possibilidade de médicos, brasileiros ou estrangeiros, que se formaram fora do Brasil, atuarem aqui. Ao contrário do Reino Unido, no qual 37% dos médicos que lá atuam serem estrangeiros, em 2012 esse número no Brasil era de ínfimos 2%.
4- Por fim, a formação médica, tanto na graduação quanto na especialização, é ainda muito atrasada e voltada para o mercado privado, para o que é raro e caro, se importa mais com a parte que com o todo, mais com a doença que com a pessoa.

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No Documento "Ponte para o Futuro" não temos menção específica ao PMM, mas temos algumas propostas que o afetam além de informações que não nos deixa dúvida de qual será o destino do Programa.

Num dado momento é afirmado no Documento que todos os Programas serão reavaliados em função de seus resultados. Se fosse só isso estaria ótimo. O PMM é bem avaliado por gestores, usuários e médicos que participam do Programa. Recebe nota 9 dos cidadãos por ter melhorado e humanizado o atendimento e garantir mais acesso e em menos tempo. Ampliou em 33% o número de consultas no Brasil além de ter reduzido as internações por doenças que agora são evitadas e tratadas adequadamente.

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Contudo, Roberto Requião, senador do próprio PMDB, analisando o documento e os debates no partido diz que Temer e companhia não sabem "o que fazer" com o SUS. Buscariam justificativas para "reduzir os repasses orçamentários do Ministério da Saúde". Pensam em "concentrar os programas sociais apenas aos mais miseráveis, os 10% mais pobres".

O Mais Médicos hoje já atende 63 milhões de brasileiros que não contavam com médico regularmente (31% da população). Podemos esperar então redução do Programa. Mas como seria isso? A resposta nos vem ao considerar acordos que o grupo golpista já faz com algumas organizações médicas conservadoras, alguns deles denunciados recentemente pelo Deputado Paulo Pimenta.

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Algumas dessas organizações confirmaram que, na eleição de 2014, havia um pacto com Aécio Neves de retirar os estrangeiros do PMM. Com efeito, mesmo tendo perdido a eleição, o PSDB, por meio do senador Cássio Cunha Lima, tentou cancelar o acordo que o Brasil tem com a Organização Pan-Americana da Saúde e esta com Cuba e, com isso, retirar os mais de 11 mil médicos cubanos do PMM. Vale destacar que estes foram os únicos que se dispuseram a ir cuidar das pessoas em cidades, bairros, campos e florestas que nenhum médico brasileiro ou mesmo estrangeiros quiseram ir.

Hoje o PMM tem 18.240 médicos: 67% são cubanos, 24% são brasileiros e 9% são de 40 países diferentes. Retirar os médicos estrangeiros do Programa deixaria 44 milhões de brasileiros sem atendimento médico depois de terem experimentado tê-lo todos os dias da semana perto de sua casa e com qualidade. Além de ser uma profunda ingratidão com quem se afastou de seu país para vir cuidar de nossa gente nos lugares que nossos médicos não se propunham a fazê-lo.

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Poderia-se argumentar que as vagas seriam preenchidas por médicos brasileiros. Ora, se de um lado é fato que os brasileiros têm batido recordes de inscrição no Programa e ocuparam todas as novas vagas em 2015 e 2016, de outro é preciso entender as possibilidades e limites da adesão dos médicos brasileiros ao Mais Médicos.

Em primeiro lugar o tempo de permanência dos brasileiros é menor. Apenas 8% dos cubanos e 15% dos estrangeiros não cumpriram o tempo que se propuseram a cumprir no Programa (3 anos). No caso dos brasileiros esse número chega à 40%, mesmo eles podendo optar por 1 ou 3 anos.

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Em segundo lugar, embora tenha ampliado o número de localidades que os Brasileiros se dispõem a ir, ainda é um número bem menor que os locais que os estrangeiros ou brasileiros formados no exterior vão. No último edital por exemplo, é fato que os médicos brasileiros ocuparam as 2.100 vagas disponíveis, mas, passado 1 mês, 30% deles já saíram do Programa justamente nas áreas com maior necessidade.

Em terceiro lugar, é preciso entender que só a formação de Mais Médicos no Brasil e com outro perfil é que resolverá, no médio prazo, a insuficiência de médicos. Até lá, teremos sim cada vez mais médicos brasileiros no Programa e na Atenção Básica à Saúde no SUS, mas os estrangeiros ainda seguirão sendo muito importante para atender nossa população. Não podemos prescindir deles. Quem disser o contrário está mal informado ou mentindo.

Vale ressaltar que as pesquisas mostram que os estrangeiros são muito bem avaliados pela população. Menos por serem estrangeiros e mais por serem especialistas no atendimento básico, o que mostra o acerto do Programa em querer mudar a formação dos médicos brasileiros desde a graduação.

Por fim, é importante entender que as organizações médicas conservadoras também são contra as demais ações do Mais Médicos como a abertura de novas escolas de medicina, a mudança do currículo e da formação médica nos moldes definidos na Lei do Programa e no avanço da Lei em definir, como em vários outros países, a especialidade de medicina de família e comunidade como a especialidade prioritária de formação dos médicos para uma atuação com qualidade na atenção básica.

Assim, a Ponte para o Futuro é uma negociação que abre mão do futuro e volta ao passado.

Sem dúvida, num processo democrático, submetido ao debate com o povo e ao voto, uma proposta assim nunca seria vitoriosa, mas quando o futuro da nação é tomado de assalto num golpe, pequenos grupos, nas negociações às sombras conseguem ver seus interesses contemplados mesmo que com isso prejudiquem dezenas de milhões de brasileiros.

 

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