"Apanhei da truculenta polícia do velho coroné"

Poeta baiano Lula Miranda, "exilado" em São Paulo, faz súplica aos soteropolitanos ao defender a candidatura do petista Nelson Pelegrino para prefeito e relata tristes lembranças pessoais da época do carlismo; "Foram tantas as vezes que perdi a conta e a exata lembrança ou noção. Uma vez, lembro-me bem de escutá-los dizer, entre risos, safanões e bordoadas, que apanhava por ser um cabeludo safado"; veja "Salve Salvador" na íntegra

"Apanhei da truculenta polícia do velho coroné"
"Apanhei da truculenta polícia do velho coroné"


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Bahia 247

Em novo texto publicado no blog Carta Maior, poeta baiano Lula Miranda*, que mora em São Paulo e se auto intitula "exilado do carlismo", faz súplica aos soteropolitanos ao defender a candidatura do petista Nelson Pelegrino para prefeito.

"Apanhei por diversas vezes da truculenta polícia do velho 'coroné'. Foram tantas as vezes que perdi a conta e a exata lembrança ou noção. Uma vez, lembro-me bem de escutá-los dizer, entre risos, safanões e bordoadas, que apanhava por ser um 'cabeludo safado'", lembra o poeta.

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Segundo Lula Miranda, eleger ACM Neto, do DEM, seria resgatar as práticas de seu avô, o falecido ex-governador e ex-senador Antônio Carlos Magalhães, durante o chamado carlismo, período de duas décadas no qual a Bahia viveu sob sua liderança.

Abaixo "Salve Salvador!" na íntegra.

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Esta é uma saudação desse seu filho saudoso, mas também é um pedido de salvamento, de resgate, de socorro. Uma saudação e um pedido que faço aos meus conterrâneos: salvem Salvador!

Sim, também sou apenas mais um retirante vivendo aqui em São Paulo. Não um retirante da seca ou da pobreza, certamente, mas um retirante do famigerado carlismo. Meu pai, já falecido, sofreu com as agruras e perseguições dessa gente. Meus irmãos também sofreram. Eu, "raspa do tacho", também sofri. Essa gente, que tanta dor e sofrimento causou a tantos, essa gente quer voltar. Essa dor e sofrimento não podem voltar.

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Apanhei por diversas vezes da truculenta polícia do velho "coroné". Foram tantas as vezes que perdi a conta e a exata lembrança ou noção. Uma vez, lembro-me bem de escutá-los dizer, entre risos, safanões e bordoadas, que apanhava por ser um "cabeludo safado". Outra vez apanhei por ser "metido a poeta e jornalista". Das outras, nem lembro ao certo o motivo. Mas se apanhei, como têm a desfaçatez de dizer esses "senhores" até hoje, foi porque "mereci". Simples assim.

Eram outros tempos. Tempo pretérito, preterido, mas que pretende se tornar presente, mais uma vez. Não passarão! Não voltarão! Os que não viveram esses tempos, ainda bem, não têm a mais remota noção do que é a humilhação de ser subjugado pela força do arbítrio e pelo medo, nunca sentiram a dor da chibata estalando no lombo. Talvez por isso, por desconhecimento e inocência, pensem em votar agora em verdadeiros verdugos. Pretendem, sem perceber, devolver a chibata e a força para aos seus próprios algozes. Abolição.

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"Porrada dada ninguém tira". Não à toa, e só quem é da Bahia, sabe aquilatar a força dessa expressão popular e o que ela representa: o estupro da dignidade do cidadão. A violação da cidadania. Abolição.

Sim, esse tempo passou. É passado. Mas, desgraçadamente, repito, pretende voltar. O lobo agora volta na pele de cordeiro. O velho oligarca pretende, redivivo, das sombras renascer e se impor na pessoa de seu Neto, seu herdeiro.

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O tempo passou. Porém nunca me esqueci das reiteradas humilhações, o mandonismo. Também nunca perdi o meu desejo de um dia retornar, com a Graça do Nosso Senhor do Bonfim, à minha Salvador, agora livre da chaga do carlismo. Não mais. Não mais!? Abolição.

"Não permita Deus que eu morra sem que um dia eu volte para lá". Esse canto doído gritado por mim, quase todos os dias, todas as manhãs, entre o alarido ensurdecedor dos carros nas marginais da cidade de São Paulo, acalentava minha melancolia de migrante. Agora o desalento me abate, minha Salvador parece ficar mais distante.

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Visito Salvador sempre, ao menos duas vezes por ano, e sou testemunha de sua "ruína". Encontrei uma cidade suja, fedida, com lixo por toda a parte. O mais perfeito retrato do descaso e do abandono.

Lá pude ver um verdadeiro monumento à incompetência do prefeito da minha cidade. Uma linha de metrô de pouco mais de 6 Km, creio, que nunca acaba de ser construída. Após tantos anos em construção, boa parte já está depreciada. "Aqui tudo ainda é construção e já é ruína" – como diria o outro poeta [cito seus versos aqui de memória] que hoje, para meu ainda maior desalento, revela-se um líder de um suposto e bastardo "TROPICARLISMO".

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Logo agora que o povo de Salvador poderia reconstruir a sua cidade e sua dignidade, agora com o apoio do governo estadual e do governo federal... logo agora, quando a sorte parecia nos sorrir finalmente, novamente nos assombra e ameaça a sombra do retrocesso. É uma lástima.

Emocionado, dedico-lhes essa crônica em forma de súplica: "Não permita Deus que eu morra sem que um dia eu volte para lá". Salvem Salvador!

*Lula Miranda é poeta e cronista. Foi um dos nomes da poesia marginal na Bahia na década de 1980. Publica artigos em veículos da chamada imprensa alternativa, tais como Carta Maior, Caros Amigos, Observatório da Imprensa, Fazendo Média e blogs de esquerda.

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