Opinião pública e opinião própria

Afinal quem foram os Vândalos e o que diabo eles fizeram para serem introduzidos assim, de forma tão abjeta e jocosa na história moderna?



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A opinião pública, termo cristalizado no livro homônimo de Walter Lippmann (1922), é a manifestação coletiva da opinião publicada. Max MacCombs no estudo que deu origem ao Agenda Setting revelou como a mídia agendava os eventos políticos exercendo forte influência sobre parcelas significativas da sociedade, o tal "mundo exterior e as imagens em nossas mentes" referidas por Lippmann.

Do gigante, esse que acordou tarde pra caramba, se espreguiçou e foi pra rua, costuma-se dizer, depois que ele voltou a cochilar, que era um monstro sem foco, sem pauta definida, que teria cheirado muito gás lacrimogênio e ficado doidaço.

Nada disso, o que o gigante tomou foi uma overdose de agendamentos mas, preguiçoso, deixou pra reagir a todos eles de uma só vez. Tudo o que estava escrito nos cartazes saiu das manchetes de jornais.

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No entanto, em meio a essa rave cívica, havia os que tinham opinião diversa da opinião da mídia, gente que enxergava que havia outros vilões: a própria mídia, a polícia que mata pobres e pretos, os governantes que foram poupados nas manifestações, os bancos, as lojas, o sistema capitalista...

Esses não queriam tirar uma foto bonita segurando um cartaz pra postar no facebook, queriam ir para o confronto. A mídia e seus agendados, os chamaram de vândalos e os queriam fora das manifestações.

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O diabo é que agora só ficaram eles, os vândalos. Não dá mais pra confundir.

Esses, definitivamente, são os que têm opinião própria e divergente da opinião publicada na grande mídia.

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Mascarados, estão dispostos a desmascarar a selvageria do mundo civilizado; para isso, atacam bancos, prédios públicos, a polícia e os símbolos do capitalismo selvagem.

Estão saindo mal na foto. A grande mídia e a opinião pública, aquela parcela da sociedade que forma sua opinião quando se informam pela opinião dos donos de jornais, execram esses manifestantes.

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O substantivo vândalo serve para adjetivá-los, para desqualificá-los. No entanto, vândalo é a palavra que melhor os qualifica.

Dizem que o vândalo é um rebelde sem causa, um arruaceiro, um desordeiro. Afinal quem foram os Vândalos e o que diabo eles fizeram para serem introduzidos assim, de forma tão abjeta e jocosa na história moderna, por que chegaram assim à idade mídia?

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Por que a mídia os detesta? Teriam sido eles os que incendiaram a Biblioteca de Alexandria, destruindo a memória do conhecimento do mundo? Foram eles que dizimaram os nativos da América do Sul? Por acaso foram eles que botaram fogo em Jerusalém e destruíram o Templo de Salomão?

Seriam eles mais furiosos e insanos que os belicosos Hunos sob o comando de Átila? Pilharam mais que os espanhóis ao império Inca? Estiveram os Vândalos no continente africano, escravizando os seus semelhantes e pilhando suas riquezas? Por acaso foram eles que esfolaram o lombo dos negros na América Latina, açoitando-os noite e dia até que exaustão os levassem a morte?

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Não, filho do homem, muito pelo contrário.

Os Vândalos afrontaram o poder imperial de forma descarada, cínica, destemida, insolente e desordeira. Os vândalos salvaram o mundo da apatia e da servidão.

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Os vândalos esbofetearam reis e cuspiram em imperadores. Mijaram nas escadarias luxuosas e tocaram fogo nas alcovas adornadas em pálios e sedas.

Os Vândalos entraram nas cidades imperialistas sem bater na porta, chegaram arrombando, pagaram os patifes com a mesma moeda.

O vandalismo deveria ser uma doutrina e seus seguidores, heróis de seu tempo. A transformação do vandalismo em algo impensado, insano, débil e doentio é uma tentativa de deturpação e resignificação. É uma fraude semântica e histórica.

Em 455 os Vândalos invadiram Roma, e arrasaram o poder tirânico e sanguinário daquele império. Por duas semanas seguidas, eles atacaram a cidade, ateando fogo e aterrorizando os terroristas imperiais.

As obras de artes, esses fetiches romanos que eram frutos dos saques e pilhagens a Jerusalém, Grécia e outras paragens, essas apropriações de outros povos dominados pelo terror dos romanos, viraram cinzas.

Por isso, hoje, aqueles que depredam bancos, tomam de assaltos palácios e quebram vidraças são chamados de Vândalos.

Assim os chamam para desqualificá-los como baderneiros ou arruaceiros sem causa e sem pudor; mas acabam por qualificá-los, pois eles atacam sempre os mesmos alvos, eles têm um inimigo declarado.

E não têm o menor pudor contra os que têm poder.

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