Médicos cubanos: preconceito contra os hermanos ou corporativismo local?

Tive oportunidade de visitar Havana e pude constatar, in loco, a qualidade do curso de medicina que lá é oferecido, onde há inclusive centenas talvez milhares de brasileiros estudando



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Um tema polêmico, em pauta há tempo suficiente, para exigir que eu, como figura pública, me pronuncie. Qualquer pessoa que conheça minimamente o Brasil, tendo ou não participado de governos, sabe que SAÚDE e EDUCAÇÃO são absolutas prioridades na construção do país que queremos.

 A EDUCAÇÃO é o único caminho possível para o verdadeiro desenvolvimento humano, tecnológico, econômico, democrático. A SAÚDE é a premissa número 1 da vida, sem a qual, nada mais existe ou pode existir.

 Isto posto, partimos do pressuposto que qualquer investimento nessas duas áreas são, a priore, positivos. Então por que tanta grita com o “Mais Médicos” e a importação de médicos cubanos?

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 Não sou especialista no assunto, porém venho acompanhando tudo que se divulga a respeito e formando assim, minha opinião.

1 - Sobre o Revalida: com a palavra o jornal Estado de São Paulo, que não pode ser considerado mídia comunista, nem pró-governo do PT, em sua edição de 02/09/2013: “Médicos formados em Cuba foram os mais aprovados no Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida) em 2011 e 2012. Dos 65 que conseguiram revalidar o diploma em 2011, 13 estudaram na Escola Latino-Americana de Cuba (Elam - que oferece curso de Medicina para estudantes de 113 países, incluindo brasileiros saídos de movimentos populares), assim como 15 dos 77 aprovados em 2012. Os dados são do Ministério da Educação (MEC) e foram obtidos via Lei de Acesso à Informação”.

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2 - Sobre a dificuldade da língua: ainda o Estadão: “O médico uruguaio Gonzalo Lacerda Casaman, de 31 anos, do programa Mais Médicos, fez seu primeiro atendimento no Brasil, por volta das 13 horas, ao atender uma mulher que foi atingida por uma moto ao atravessar a rua, no município metropolitano de Vitória de Santo Antão, onde está sendo ministrado treinamento para os profissionais estrangeiros. ‘Entendi tudo que ele disse’, afirmou Helena Paulina de Araújo, de 63 anos, ambulante. ‘Ele me disse para ficar calma, me tirou da rua e me examinou’, afirmou”. Ao que me conste, os uruguaios também têm o espanhol como língua.

3 - Sobre o trabalho escravo: agora a palavra com a Folha de São Paulo, em artigo de 01/09/2013: “Ana, uma médica cubana com mestrado em emergências médicas e professora de 49 anos aprovada no programa Mais Médicos, afirma que o salário recebido aqui será cerca de 40 vezes superior ao que ela ganha trabalhando lá. E que é uma chance de fazer um pé-de-meia”.

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4 - Sobre os médicos serem revolucionários profissionais é um crítica tão sem pé nem cabeça, tão absurda que parece ter saído da mente daqueles que sonham com a volta da ditadura militar. Para a informação deles: mais de 30 mil médicos cubanos já trabalharam e estão trabalhando na Venezuela e no Haiti e ainda não houve revolução comunista nesses dois países.

5 -  Parecem empregadas domésticas... a crítica de Micheline Borges, jornalista do Rio Grande do Norte, merece ser enquadrada no rigor da Lei seguindo a Constituição brasileira que declara adotar o princípio de repúdio ao racismo (artigo 4º, VIII), inclusive considerando crime inafiançável a sua prática (artigo 5º, XLII).

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6- Por que não médicos de outras nacionalidades? Ora, o Governo Federal abriu, em princípio, as vagas para os próprios médicos brasileiros. Muitos se inscreveram no concurso para o Mais Médicos apenas com a intenção de tumultuar o processo. Para sua informação, estão, sim, vindo médicos espanhóis, portugueses, uruguaios como citados e de outras nacionalidades. Mas poucos países do mundo têm a capacidade de exportar grande quantidade de médicos como Cuba que faz desse “produto” o segundo em sua balança comercial, perdendo apenas para o turismo, mas ganhando dos charutos e do rum, por exemplo.

7 - O Brasil precisa de “infraestrutura” na saúde. Ninguém discorda disso. Condições de atendimento, equipamentos, material hospitalar. Esse mesmo argumento foi usado para combater as cotas nas universidades. Precisávamos construir mais universidades e não dar cotas. Quantos anos leva para construir universidades? Enquanto isso, o povo brasileiro, em particular os negros, humilhados há quase 500 anos iriam esperar? Betinho (Herbert de Souza) dizia: “quem tem fome, tem pressa”; eu complemento: quem tem dor, quem tem doença, também. Os médicos cubanos que estão vindo têm, em no mínimo 16 anos de formados, sendo em sua maioria pós-graduados com experiência em atendimento básico, saúde da família, cuidados de higiene, medicina preventiva. Para mim, algum médico é melhor que médico nenhum. Em 700 municípios, 11 milhões de brasileiros hoje não têm NENHUM MÉDICO.

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Me pergunto por que ninguém esbravejou quando Fernando Henrique Cardoso trouxe médicos cubanos, ou em 2005, quando o governador  de Tocantins não conseguia médicos para a maioria dos seus pequenos e afastados municípios, recorreu a um convênio com Cuba e viu o quadro de saúde mudar rapidamente com a presença de apenas uma centena de profissionais daquele país?

 Os mesmos críticos do programa Mais Médicos, criticaram o Bolsa Família, a política de cotas; o PEC das domésticas. A impressão que dá é que são uma oligarquia que não admite ver o país tornado-se mais humano e social com os brasileiros mais necessitados.

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Não vou julgar questões políticas, formas e modelo de governar, porém, certo é, que Cuba é modelo a ser seguido no que tange à EDUCAÇÃO e a SAÚDE do seu povo. Se praticam ou cursam medicina numa ótica diferente do capitalismo, não significa dizer que não tenham competência, fazem pelo capital de manutenção da vida.

Tive oportunidade de visitar Havana e pude constatar, in loco, a qualidade do curso de medicina que lá é oferecido, onde há inclusive centenas talvez milhares de brasileiros estudando. Brasileiros que sonharam em um dia ser médico e que jamais teriam condições de acesso a faculdades de medicina no nosso país, que tanto clama por mais e melhor educação.

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EDUCAÇÃO e SAÚDE são patrimônio da soberania do povo brasileiro. Que sejam bem-vindos os médicos cubanos e de qualquer outra nacionalidade. Que eles possam contribuir para melhorar a saúde dos brasileiros nos mais distantes rincões, que possam mostrar a alguns médicos brasileiros, como os flagrados recentemente em Araruama batendo ponto sem trabalhar, que há um quê de sacerdócio na medicina, além da aura de santo e do dinheiro que ela produz. E que possam ajudar a tornar o Brasil num país mais justo e melhor de se viver.

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