'Investidas conservadoras ameaçam autonomia da América Latina'

Para o ex-ministro de Relações Exteriores Celso Amorim, governos populares no continente lidam com ataques ferozes às conquistas sociais e econômicas dos últimos anos; 

O ministro da Defesa, Celso Amorim, fala em audiência nas comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional; e de Fiscalização Financeira e Controle, sobre a compra de 36 caças suecos (Wilson Dias/Agência Brasil)
O ministro da Defesa, Celso Amorim, fala em audiência nas comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional; e de Fiscalização Financeira e Controle, sobre a compra de 36 caças suecos (Wilson Dias/Agência Brasil) (Foto: Gisele Federicce)


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Rede Brasil Atual - As conquistas sociais e econômicas dos últimos anos em países como Brasil, Venezuela, Bolívia, Uruguai e Argentina estão em risco? A questão foi direcionada ao ex-ministro de Relações Exteriores (governos Itamar e Lula) e ex-ministro da Defesa (governo Dilma) Celso Amorim, durante debate na última terça-feira (25), durante congresso realizado pela Fundacentro, pela Associação Latino-americana de Advogados Trabalhistas (Alal, na sigla em espanhol) e pelo Ministério Público do Trabalho.

Mediado pelo editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil, Silvio Caccia Bava, o debate também contou com a participação do economista e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) Ladislau Dowbor.

Amorim lembrou a resistência do Brasil à Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que previa o fim das barreiras alfandegárias entre os 34 países que compõem o continente, e cuja implantação era liderada pelos Estados Unidos. "Um dos grandes desafios do início do governo Lula [2003] era a negociação da Alca, porque em vários aspectos o projeto era vantajoso para os Estados Unidos, mas prejudicava Brasil e outros países da América Latina", afirmou.

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Como exemplo, o diplomata citou as regras para a agricultura – os norte-americanos propunham a manutenção de suas tarifas de importação para laranja, açúcar a álcool, produtos nos quais o Brasil era competitivo –, para a indústria farmacêutica – com a manutenção de patentes que impossibilitariam o desenvolvimento da indústria de genéricos no país – e para a indústria nacional de um modo geral, em especial a naval que, segundo Amorim, não teria se desenvolvido com a Alca. Diante do impasse, o acordo não vingou e está paralisado desde a 4ª Cúpula das Américas de Mar del Plata (Argentina), em 2005.

"Há cerca de dois meses li um artigo assinado por dois economistas muito famosos, um brasileiro e um norte-americano. Após considerações sobre a retomada das relações entre Estados Unidos e Cuba, sobre a Cúpula das Américas, sobre 'dificuldades econômicas' pelas quais estaríamos passando e sobre as 'insuficiências' da política industrial, eles questionavam se não estaria na hora de ressuscitar a Alca. Então, se vejo ameaças às nossas conquistas e às do continente nos últimos anos? Sim, eu vejo", afirmou Celso Amorim, sem informar os nomes dos economistas.

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Mercosul

A ampliação do Mercosul foi outro exemplo de política externa do governo Lula destacado pelo ex-ministro. Hoje, o bloco é formado por cinco integrantes plenos – Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Venezuela (cuja entrada em 2005 contou com forte apoio do governo brasileiro) – e cinco países associados: Chile, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. "Muito mais que uma área de livre comércio, nosso empenho sempre foi pelo fortalecimento da autonomia, da paz, da democracia e da independência do continente. Por uma América Latina com capacidade de tomar decisões próprias e fazer suas próprias regulamentações", disse.

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Ainda assim, o comércio no Mercosul é volumoso. "As trocas comerciais intramercosul são muito maiores que as dos países da Aliança do Pacífico, mas essa última é muito mais agradável aos olhos dos que querem uma liberalização total dos mercados", criticou.

O ex-ministro destacou também a criação da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), em 2008, como mais um passo no sentido de consolidar a autonomia dos países sul-americanos. "Num mundo complexo em que as relações comerciais passam mais por blocos que por países, é preciso fazer alianças fortes na América do Sul, mas sempre no sentido de fortalecimento das democracias. Mas essa política, como se sabe, desagrada fortes interesses", enfatizou.

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