Especialistas em Previdência são unânimes: PEC de Bolsonaro acaba com a aposentadoria

"Essas regras mínimas para a obtenção do benefício, valor mínimo de benefício, reajuste, isso tudo que era minimamente desenhado na Constituição, foi retirado e passado para lei infraconstitucional, trazendo a possibilidade de uma reforma previdenciária constante. Acabou o mínimo de proteção social da Previdência", diz o jurista Marcus Orione

Especialistas em Previdência são unânimes: PEC de Bolsonaro acaba com a aposentadoria
Especialistas em Previdência são unânimes: PEC de Bolsonaro acaba com a aposentadoria (Foto: Roberto Parizotti)


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Do Brasil de Fato - Um dia após a apresentação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Previdência no Congresso Nacional, o Brasil de Fato conversou com três especialistas em política previdenciária e mercado de trabalho. Eles analisam a proposta do governo Bolsonaro (PSL) sob diferentes pontos de vista, mas são unânimes: a aprovação da PEC impediria o acesso dos brasileiros à aposentadoria.

O jurista Marcus Orione, professor do Departamento de Direito do Trabalho e da Seguridade Social da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), disse que o texto propõe reduzir garantias mínimas de direitos dos trabalhadores.

"Essas regras mínimas para a obtenção do benefício, valor mínimo de benefício, reajuste, isso tudo que era minimamente desenhado na Constituição, foi retirado e passado para lei infraconstitucional, trazendo a possibilidade de uma reforma previdenciária constante. Acabou o mínimo de proteção social da Previdência", lamentou.

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Segundo o jurista, as mudanças são tão radicais em favor do "capitalismo predatório" que contradizem até o neoliberalismo econômico – defendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

"O neoliberalismo tem pressupostos que não foram respeitados nessa emenda. Por exemplo, a excessiva carga contributiva sobre os servidores públicos e os trabalhadores, que vão ter que pagar por um tempo enorme na vida sem ter o retorno na mesma medida. Há uma radicalização de extração de mais valor pelo capital", acrescentou o jurista.

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Inconstitucional

A proposta do governo prevê uma alíquota de contribuição de 22% para os servidores públicos. Além disso, para ter direito a uma aposentadoria com valor próximo ao salário atual, os trabalhadores, servidores ou da iniciativa privada, terão que contribuir por 40 anos.

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Para Flávio Roberto Batista, professor da Escola Paulista de Direito Social, a idade mínima, que é o eixo principal da emenda, representa um grande obstáculo para a concessão dos benefícios, considerando a realidade do mercado de trabalho no Brasil.

"Dizer que existe idade mínima em outros países é uma forma obtusa de se fazer a discussão. No Brasil, existe um contingente enorme de trabalhadores diretamente braçais, com nível de mecanização baixo, que tem o vigor físico exigido para o exercício do trabalho. Nesse contexto, a idade mínima existe para impedir o acesso à aposentadoria", declarou.

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Batista também aponta que a emenda de Bolsonaro é inconstitucional ao propor o aumento da alíquota de contribuição e a criação do regime de capitalização. "Se essa contribuição é destinada ao mesmo Orçamento que o remunera, ela corresponde, na prática, a uma redução nominal de salário, que é vetado por cláusula pétrea. Então, é inconstitucional", disse.

O professor também contesta a proposta de Bolsonaro de cortar para R$ 400,00 o valor do benefício assistencial dos idosos de baixa renda com idade entre 65 e 69 anos, que atualmente é de um salário mínimo.

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Como o dinheiro do benefício é usado para compra de bens de consumo e movimenta a economia, a taxa de retorno tributária é alta. "É quase de um para um. Em termos tributários, nenhum outro pagamento tem uma taxa de retorno tão alta. É uma política bem sucedida, que sustenta a economia de diversos municípios", explicou.

Para o conselheiro jurídico da Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas (Cobap), Guilherme Portanova, o pagamento de benefícios com valor abaixo do salário mínimo deve aumentar a miséria. "Teremos um país de idosos e trabalhadores pedindo esmola nas ruas", disse.

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Resposta das ruas

Em repúdio à proposta de reforma da Previdência, a Praça da Sé, no centro de São Paulo (SP), foi tomada por movimentos populares e centrais sindicais na última quarta-feira (20).

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Os trabalhadores lançaram a Assembleia Nacional da Classe Trabalhadora, com manifestações em pelo menos 11 estados do país, para traçar uma agenda de ações contra a proposta de Bolsonaro e Guedes.

Em nota, a Força Sindical denunciou nesta quinta que a emenda é " uma perversidade, que só prejudica os trabalhadores menos favorecidos economicamente".

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) analisou a PEC e ressaltou que a proposta de Bolsonaro acaba com a possibilidade de aposentadoria dos professores, com regras mais duras. As professoras terão de trabalhar pelo menos mais dez anos e os professores, mais cinco anos para alcançar a idade mínima de 60 anos para requerer a aposentadoria.

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