Alckmin e Pinto aceitam, enfim, ajuda de Dilma

Governador acerta com presidente Dilma ajuda federal sobre caos da segurança pública em São Paulo; reunião com ministro José Eduardo, da Justiça, ocorrerá na próxima semana; hoje subiu para 88 o número de PMs assassinados este ano no Estado; secretário Ferreira Pinto insiste em negar existência do crime organizado em torno do PC; governador não estuda modelo de UPPs que salvou o Rio de Janeiro; desse jeito vai?

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247 – A noite começa a cair nesta quinta-feira 1 sobre a Grande São Paulo. Véspera de Finados. Quantos novos mortos serão contados amanhã pela manhã? Na última madrugada foram oito pessoas mortas a tiros, entre elas dois policiais militares. Na anterior, dez, duas a pauladas. Chega-se agora a um total de 88 PMs mortos desde o início do ano no maior conglomerado urbano do País. O resultado dramático – 57% maior do que o do ano passado inteiro – ainda parece ser pequeno para os bandidos. Na guerra em curso, não admitida pelas autoridades paulistas, eles sem dúvida estão vencendo. O governo erra e os fortalece. Os cidadãos, especialmente dos bairros mais humildes, estão assustados. Não deveriam?

Na tarde da quarta-feira 31, no segundo dia de ocupação da favela de Paraisópolis, a PM encontrou uma lista de policiais militares marcados para morrer. Quarenta nomes, com detalhes de suas rotinas. O governo paulista se nega a reconhecer a existência e o pleno funcionamento do PCC – Primeiro Comando da Capital, sigla com a qual milhares de bandidos se identificam e interagem. Mas o secretário de Segurança Pública Antonio Ferreira Pinto admitiu que ordens diretas para o assassinato de policiais militares nos últimos dias saíram de Paraisópolis. Quanto a lista, que demanda, como qualquer lista, inteligência para ser feita e, no caso, estrutura para ser praticada, por meio dos chamados 'soldados do crime', está sendo "analisada".

Nesta marcha, o secretário vai acabar descobrindo que o crime organizado em torno da sigla PCC tem em Paraisópolis um dos seus quartéis-generais. E que o crime organizado, a partir daquela e de outras áreas,  está em plena execução de um plano que faz de São Paulo uma cidade sem lei e refém do medo. Diante da mais nova prova sobre a plena operação do crime organizado – a lista de PMs a serem abatidos retira o caráter aleatório que se poderia atribuir, como quer o governo paulista, às 88 mortos ocorridas de 1º de janeiro até às 16h45 de 1º de novembro -, talvez o secretário admita que o PCC, que nunca se foi, esteja em erupção.

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Entre as quase duas dezenas de civis mortos na última semana na Grande São Paulo estão desde moradores de rua, a pauladas, no centro da capital mais rica do País, a comerciantes fuzilados por atiradores em motocicletas nos bairros mais afastados.

A lista de PMs a serem mortos foi encontrada numa das casas da favela ocupada há três dias pela Policia Militar. Dois homens foram presos junto do rol macabro. Trata-se de um primeiro resultado concreto da ocupação, que aponta para a existência do crime organizado. A descoberta, associada ao próprio movimento da ocupação, poderá convencer o governador Geraldo Alckmin a mudar a estratégia de segurança pública em São Paulo e promover outra política de Estado para o setor. Mas talvez ele ainda precise de mais elementos para se convencer. Não se pode dizer, afinal, que Alckmin seja um dos administradores mais ágeis do País.

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Com o tucano que cumpre sua terceira gestão no poderoso Palácio dos Bandeirantes, São Paulo pratica exatamente o mesmo tipo de segurança pública dos tempos em que Paulo Maluf era o governador indicado de São Paulo, em plena ditadura militar, na virada das décadas de 1970 para 1980. Uma política voltada para a ronda ostensiva, o confronto direto, a abordagem surpresa, o show pirotécnico de dezenas de carros da PM num só local, quando a ocorrência é importante, enfim, a exibição permanente dos policiais e seus meios para o que der e vier. Circulação quase aleatória em lugar de presença permanente em áreas estratégicas. Assusta? Mas não resolve. Está ai o porcentual de 57% mais mortes violentas de PMs, entre janeiro e agora, do que em todo o ano de 2011, quando 56 policiais militares foram assassinados (o que não é pouco). Pode-se exibir outras estatísticas, mas essa, em particular para a PM, é a prova do fracasso do atual modelo. Seu contigente virou alvo fácil para os bandidos.

Em contrapartida, quartéis em número insuficiente, com estrutura tecnológica inadequada, delegacias esvaziadas e departamentos de inteligência mal equipados. A tal ponto que o governador Alckimin, alegando querer reequipar a área de Segurança do Estado, pediu formalmente R$ 146 milhões ao governo federal. Até listou o que compraria com o dinheiro: equipamentos de comunicação etc. A recusa do Ministério da Justiça incluiu lembrar a Alckmin que a administração federal não tem de, necessariamente, bancar receitas ordinárias dos Estados. Eles próprios podem fazer isso.

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Na tarde desta quinta 1, finalmente o governo do Estado aceitou receber ajuda federal. Num telefonema para a presidente Dilma Rousseff, o governador Alckmin já pré-agendou uma reunião em São Paulo, no começo da próxima semana, com o ministro da Justiça José Eduardo Martins Cardoso. Será o início da ajuda do governo federal para São Paulo. 

O Estado de São Paulo tem recursos, é claro, para comprar equipamentos por conta própria. O que o governo Alckmin realmente não consegue fazer é mudar o curso da atual política de segurança pública e admitir que a implantação do modelo UPP – Unidade de Polícia Pacificadora, com presença física permanente em área de conflito, policiais 24 horas do dia, melhor armados e, também, remunerados – é a única solução testada e aprovada para combater o crime organizado. Funciona no Rio desde 2008 e tem derrubado, verdadeiramente, todas as estatísticas da violência. A implantação das UPPs, porem, demanda um esforoço de inteligência policial, estrutura logística, recursos e, sobretudo, o reconhecimento de sua eficácia frente ao crime organizado.

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Em São Paulo, nem mesmo o reconhecimento de que o crime está organizado é feito. Quando isso for admitido, e, por decorrência, custar o cargo ao secretário de Segurança Antonio Ferreira Pinto (ele, afinal, poderá passar a conviver com uma realidade que sempre disse não existir? Nessa medida, terá mesmo condições de enfrentá-la? Ou, já que se fala tanto em renovação, alguém mais capacitado deveria assumir, como parece claro?), só aí as coisas começarão a mudar em São Paulo.

Até que uma guinada ocorra, a tendência é que o sangue de policiais militares e cidadãos paulistanos continue a correr nas madrugadas.

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Abaixo, notícia da Agência Brasil sobre a onda de crimes em São Paulo e vídeo sobre a apreensão da lista de PMs marcados para morrer:

Sobe para 88 o número de policiais mortos em São Paulo

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01/11/2012 - 15h25

Nacional

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Da Agência Brasil

São Paulo – Mais dois policiais militares foram mortos a tiros no final da noite de ontem (31), na Favela de Heliópolis, na zona sul da capital paulista. Com essas mortes, sobe para 88 o número de policiais assassinados este ano no estado de São Paulo. Do total, 18 eram aposentados. A quantidade de policiais militares assassinados, entre janeiro e outubro deste ano, já é 57% maior do que todo o ano passado, quando foram registradas 56 mortes.

Segundo a Polícia Militar (PM), os dois policiais foram baleados quando circulavam de motocicleta pelas ruas da favela. Eles foram levados a um pronto-socorro, mas não resistiram aos ferimentos. A assessoria de imprensa da corporação informou que o caso está sendo investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), com apoio da Corregedoria da Polícia Militar.

Na última terça-feira (30), o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto, disse que partiu da Favela Paraisópolis, na zona sul da capital, a ordem para que seis policiais militares fossem assassinados no estado. Ele atribui as ordens a Francisco Antonio Cesário, conhecido como Piauí, preso na cidade de Itajaí (SC) há cerca de um mês, pela Polícia Federal.

De acordo com o secretário, as ordens resultaram "nas primeiras mortes" da atual onda de violência, mas os motivos ainda estão sob investigação. Os assassinatos teriam ocorrido em maio. Na época, o acusado vivia na Favela Paraisópolis, que, desde segunda-feira (29), é alvo de uma grande operação policial, com a presença de cerca de 600 homens.

Edição: Carolina Pimentel

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