Sociólogo diz que é contra negociar com o crime

Especialista em segurança pública Claudio Beato afirma que, ao contrário do que publicou a Folha de S.Paulo, ele não é a favor de que haja acordo com organizações criminosas: "Jamais tomaria posição genérica num tema tão espinhoso mesmo porque não acredito neste tipo de estratégia"

Sociólogo diz que é contra negociar com o crime
Sociólogo diz que é contra negociar com o crime (Foto: PEDRO SILVEIRA)


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247 – O especialista em segurança pública e professor da UFMG, Claudio Beato, afirmou nesta segunda-feira, por meio de uma nota, que não é a favor de o Estado negociar com organizações criminosas, ao contrário do que foi publicado pela Folha de S.Paulo nesta segunda-feira. Segundo ele, o jornal parece ter-lhe imputado uma posição que significaria "a tese da entrevista" e que este era um "tema absolutamente secundário e sem maior importância no contexto do que estava sendo discutido".

O texto da Folha indica que Beato não seria contra uma negociação entre Estado e crime. "No Brasil, a polícia faz acordos informais com o crime, de acordo com ele, que deveriam ser institucionais", diz a reportagem, atribuindo o pensamento ao entrevistado. O professor diz que não é bem assim: "Não se negocia com organizações criminosas. Muito menos o país deveria adotar algo desta natureza, como foi dito na primeira página", diz sua nota, publicada pelo Twitter.

A reportagem cita exemplos de negociações com criminosos "dos EUA a El Salvador", que teriam sido mencionados por ele como bem-sucedidos. Ele explica que, nesses casos, as negociações foram feitas "por outras organizações que não o Estado, mas a Igreja Católica no caso de El Salvador, ou pastores do Ten Point Coalition, no caso de Boston". Na entrevista, publicada no formato pingue e pongue, Beato chega a dizer: "Não sou contra a negociação, eventualmente, e de forma pontual", deixando claro seu posicionamento.

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O que parece ter incomodado o entrevistado foram as chamadas e os destaques na primeira página: "Embora o texto do corpo da matéria esteja correto, na chamada e na primeira página me foi atribuída a polêmica posição de que eu seria favorável a uma negociação do Estado com o crime organizado. Jamais faria isto". Leia os trechos que o repórter menciona um acordo entre o Estado e o PCC e, abaixo, a íntegra da nota do sociólogo.

Há quem diga que houve um acordo com o PCC.

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Se houve acordo, por que não fazer isso de forma transparente? El Salvador acabou de fazer um grande acordo com as Maras. São grupos mais violentos e com inserção social muito maior do que o PCC. Em El Salvador, houve um investimento muito grande em prisões duras, como algumas de São Paulo. As prisões funcionaram, mas a situação fora piorou. Houve negociação para tirar alguns líderes dessas prisões desde que ajudassem a controlar a situação fora. Foi intermediado pela Igreja Católica.

Você acha que o governo deveria negociar com o PCC?

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Não sou contra a negociação, eventualmente, e de forma pontual. Vou falar uma coisa que será muito criticada. Isso aconteceu em Boston. O projeto mais conhecido de controle da violência nos EUA, chamado "Cessar-Fogo", foi feito por meio de um conjunto de ações da polícia, prendendo de forma mais focalizada o que eles chamam de alavancas do crime.

Houve também ofertas de empregos, melhoria de condições sociais. E a negociação com as gangues foi feita pelos pastores. Eles sentaram com as gangues e policiais e negociaram um cessar-fogo. Em Medellín [Colômbia] também houve acordo.

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Íntegra da nota de Claudio Beato:

Nota de Esclarecimento Público
Claudio Beato

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Em relação a matéria veiculada no dia 19 de novembro de 2012, na página A12 da Folha de São Paulo, gostaria de prestar os seguintes esclarecimentos.
Embora o texto do corpo da matéria esteja correto, na chamada e na primeira página, me foi atribuída a polêmica posição de que eu seria favorável a uma negociação do Estado com o crime organizado. Jamais faria isto. O que fiz foi descrever ao repórter com todas as letras que havia exemplos de processos de mediação de conflitos através de entidades civis que teriam acontecido, e dos problemas e limites deste tipo de estratégia. Jamais tomaria posição genérica num tema tão espinhoso mesmo porque não acredito neste tipo de estratégia. Não se negocia com organizações criminosas. Muito menos o país deveria adotar algo desta natureza, como foi dito na primeira página. Pode se pensar em mecanismos de mediação de conflitos para reduzir e evitar as mortes resultantes. Algo similar ocorreu em outros países em relação a problemas bem específicos e pontuais como, aliás, está dito na entrevista, mas que não encontra expressão nas caixas altas do título da entrevista. Sublinhe-se que, quando foi feito, a mediação era efetivada por outras organizações que não o Estado, mas a Igreja Católica no caso de El Salvador, ou pastores do Ten Point Coalition, no caso de Boston. Nestes casos tratava-se de mediar o conflito entre as gangues para diminuir o número de mortes e jamais para estabelecer uma trégua quando elas estão em conflito com o poder publico. Infelizmente me foi imputado uma posição que parece ser a tese da entrevista, e na realidade é um tema absolutamente secundário e sem maior importância no contexto do que estava sendo dicutido na entrevista.

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