PEC que reduz poderes do MP divide Congresso

Proposta de emenda à Constituição causa polêmica ao sugerir que o Ministério Público não faça mais investigações criminais. "Eles querem fazer barba, cabelo e bigode. Querem apurar, processar e dar a sentença", defende o autor da PEC, deputado Lourival Mendes (PTdoB-MA). Senador Pedro Taques (PDT-MT) lidera grupo opositor e diz que proposta é "atentado" ao Estado Democrático de Direito. Petição virtual reúne 9 mil assinaturas contra

PEC que reduz poderes do MP divide Congresso
PEC que reduz poderes do MP divide Congresso (Foto: Edição 247)


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247 - Debate polêmico que deve ser retomado logo no início do próximo ano trata do controle de investigação criminal do País. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 37/11, de autoria do deputado Lourival Mendes (PTdoB-MA), garante exclusividade das ações para as polícias civil e criminal e inviabiliza, assim, a atuação de outros órgãos, como o Ministério Público. O tema, até agora, tem dividido investigadores e parlamentares.

De um lado, integrantes do Ministério Público lançaram uma campanha contra o que chamam de PEC da impunidade. Na outra ponta, representantes de policiais defendem a medida. Para Mendes, é preciso "afastar" o MP das investigações. "Eles querem fazer barba, cabelo e bigode. Quer apurar, processar e dar a sentença. Mas na verdade não conseguem nem fiscalizar o cumprimento da lei, que é a sua atribuição constitucional", afirma o deputado.

Delegado da Polícia Civil de carreira no Maranhão, o deputado defende que o MP atue apenas como titular da ação penal na Justiça. Segundo ele, "a polícia judiciária é responsável pela apuração das infrações penais, exceto as militares. Portanto, nenhum outro órgão mais tem competência para atuar nessa área".

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De acordo com o deputado Bernardo Santana de Vasconcellos (PR-MG), que votou a favor da PEC em comissão especial da Câmara, em novembro, devido a interpretações diferentes da Constituição, o órgão passou a também realizar investigações criminais. "Houve alguns erros de interpretação durante os anos, mas [as competências] são muito claras e dividem os poderes. Até porque uma pessoa não pode, ao mesmo tempo, investigar e oferecer denúncia."

Já o senador Pedro Taques (PDT-MT) lidera o grupo dos que são contra a PEC. Ele organiza uma petição virtual a fim de convencer senadores a rejeitarem a proposta, que "representa um verdadeiro atentado ao Estado Democrático de Direito e mesmo assim já foi aprovada na Câmara". O protesto virtual do senador, que também é professor de Direito Constitucional, reúne cerca de 9,2 mil assinaturas e propõe chegar às 15 mil.

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Entre os procuradores, o vice-presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, José Robalinho Cavalcanti, defende que a aprovação da PEC é um retrocesso provocado pela pressão dos delegados de polícia. "Da forma como foi aprovada, é muito ruim para o País. Todas as provas criminais passarão a ser produzidas apenas pelos delegados de polícia. Não apenas o Ministério Público foi atingido, como também o Executivo. Toda a produção de provas por órgãos como a CGU e o TCU teria que ser repetida na mão de um delegado de Polícia Federal", alega Cavalcanti.

Até agora, a PEC foi aprovada em comissão especial na Câmara criada para analisar seu mérito e pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). A proposta ainda precisa ser votada em dois turnos no Plenário da Câmara, antes de seguir para o Senado, onde, se aprovada, passará a ter vigênci imediata. Na edição desta semana da revista Carta Capital, o colunista Mauricio Dias lembra de uma frase dita pelo advogado Sepúlveda Pertence, quando deixou o cargo de procurador-geral da República: "Eu não sou o Golbery, mas também criei um monstro". Ele falava do Ministério Público.

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Leia abaixo:

"Criei um monstro"

Foi lançado, recentemente, pelos procuradores paulistas um abaixo-assinado contra a Proposta de Emenda Constitucional que põe em jogo o poder de investigação criminal do Ministério Público. É apelidada de "PEC da Impunidade". A referência é, certamente, uma tentativa de ganhar popularidade em decorrência do julgamento do chamado "mensalão" petista.

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Há, no entanto, uma discussão na sociedade em sentido contrário ao que essa PEC da Impunidade busca: manter o direito de o MP investigar. O debate vem de longe e é guiado por uma frase lançada pelo advogado Sepúlveda Pertence, quando se despediu da função de procurador-geral da República (no governo Sarney): "Eu não sou o Golbery, mas também criei um monstro".

Golbery do Couto e Silva, general articulador do golpe de 1964, foi o idealizador e o primeiro chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), que ganhou vida própria e, posteriormente, engoliria o próprio criador por ocasião das bombas do Riocentro em 1981. Golbery pediu a cabeça do general Gentil Marcondes, comandante da Vila Militar de onde haviam saído os terroristas fardados. O general Octávio Medeiros, então chefe do SNI, se opôs com o apoio do ditador Figueiredo. A demissão de Golbery não tardaria.

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Pertence, afastado do Ministério Público, também foi engolido pelo "monstro" criado por Golbery e expurgado do Ministério Público. Para, em 1985, ser escolhido por Tancredo Neves para a Procuradoria-Geral da República. Despediu-se dela com um adeus a um "monstro" perigoso à democracia.

O modelo atual do Ministério Público nasceu da Constituição de 1988. Com a ação do tempo e a ambição dos homens, ampliou indevidamente seus poderes, incluindo o poder investigatório que, de um modo geral, transformou o promotor em um agente a serviço do Estado e não do réu.

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Em vez de "exercer o controle externo da atividade policial", como prevê a Constituição, o MP passou a endossá-lo. É possível ouvir frases como essa entre procuradores que, preocupados, estudam a situação: "Não é aceitável que o MP participe da produção da prova, investigue, -acuse e ainda pertença ao sistema de Justiça".

Lula colaborou com essa deformação. Estabilizou a lista tríplice para escolha do procurador-geral e, ainda mais, indicou sempre o mais votado pelos pares. Assim consolidou o processo eleitoral de escolha, quando, pela Constituição, a indicação é única e exclusivamente da Presidência. A disputa por lista alimenta o monstro.

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O atual procurador-geral, Roberto Gurgel, defende o poder investigatório. Omite sempre, para reforçar a tese, a quantidade de atribuições do Ministério Público brasileiro. Nenhum outro país do mundo as tem: move ação de improbidade, fiscaliza o meio ambiente, defende os direitos dos índios, interfere na saúde e... e resta a pergunta: onde sobra tempo para investigar?

O MP teria um papel importante na fiscalização da situação jurídica dos presos e na aplicação das verbas para a construção de presídios. Mas não o exerce. Não incorre na corresponsabilidade com a calamidade existente nos presídios brasileiros?

Há outras questões mais graves. É o caso da banalização dos aparelhos de escuta telefônica, o chamado "Sistema Guardião". O governo brasileiro não sabe quantos aparelhos há em funcionamento no MP. O sistema é operado sem controle. Para isso, o MP tem agentes de inteligência, os espiões, em seus quadros.

Essa situação é explosiva. O membro do MP pode investigar valendo-se de uma atribuição originária da polícia e utilizando estrutura própria das agências de inteligência, aptas a promover espionagem por pessoas e por aparelhos.

Terá o MP se transformado em agência de espionagem sem marco regulatório?

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