Cunha escreve sobre as paixões desencontradas de "Equador"

Livro do português Miguel Souza Tavares, que trata da história e do amor, "encanta" os leitores, afirma João Paulo Cunha, em seu blog; "Belíssimo romance", na avaliação do ex-deputado, "consegue entabular dados e informações históricas e capta a alma humana, suas paixões desencontradas e nossa impotência diante daquilo que sonhamos fazer e a realidade teima em dizer não"

Livro do português Miguel Souza Tavares, que trata da história e do amor, "encanta" os leitores, afirma João Paulo Cunha, em seu blog; "Belíssimo romance", na avaliação do ex-deputado, "consegue entabular dados e informações históricas e capta a alma humana, suas paixões desencontradas e nossa impotência diante daquilo que sonhamos fazer e a realidade teima em dizer não"
Livro do português Miguel Souza Tavares, que trata da história e do amor, "encanta" os leitores, afirma João Paulo Cunha, em seu blog; "Belíssimo romance", na avaliação do ex-deputado, "consegue entabular dados e informações históricas e capta a alma humana, suas paixões desencontradas e nossa impotência diante daquilo que sonhamos fazer e a realidade teima em dizer não" (Foto: Gisele Federicce)


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247 - Em sua nova resenha, o ex-deputado federal João Paulo Cunha escreve sobre o livro "Equador", do português Miguel Souza Tavares, que trata da história e do amor e "encanta" os leitores, na opinião de Cunha. "Belíssimo romance", define ele.

Leia em seu blog ou abaixo a íntegra da resenha:

Não há calendário para o amor. Ele subverte qualquer regra. O tempo dele é próprio. Para os acontecimentos políticos e sociais a história reserva as circunstâncias, o homem e suas idiossincrasias de poder, justiça, opressão e ganância. O Português Miguel Souza Tavares encanta seus leitores com o livro "Equador", da Editora Nova Fronteira, tratando da história e do amor.

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No final do século XIX, começo do XX, o mundo excomungava a escravidão. As potências imperiais europeias fugiam deste pecado como o diabo da cruz. Portugal já tinha visto sua maior colônia, o Brasil, se livrar dos três séculos de escravidão. Mas Lisboa não tinha resolvido os problemas das colônias africanas que mantinham ainda esse tipo de trabalho.

Um jovem lisboeta, Luís Bernardo, estabelecido com negócios de comércio exterior, produz reflexões nos jornais da cidade sobre os problemas do trabalho escravo nas colônias ultramar de Portugal. Isto desperta a atenção do rei D. Carlos, que o convida para assumir o cargo de governador de São Tomé e Príncipe, uma pequena ilha na África, onde se produz essencialmente cacau, que concorre com o produto inglês. Duas razões movem o rei: evitar uma revolução de independência na ilha e salvar a produção de cacau de uma denúncia que a Inglaterra ameaçava fazer em decorrência do uso da mão de obra escrava, que gerava concorrência desleal com o produto inglês.

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Luís Bernardo aceita o desafio. Mas isso implica em deixar para trás um romance recentíssimo e complicado com a prima de um amigo, o circuito das artes, gastronomia, bebidas e a alta sociedade portuguesa para enfrentar a solidão da ilha ("as ilhas são lugares de solidão"). Leva inscrito em sua memória as palavras que seu amigo, Bernardo Pindela, secretário particular do rei, recita em sua despedida: "Que mais de grandioso poderá levar você da vida?". Era um convite do rei!

Ao partir, deixa a monarquia portuguesa agonizando, mas leva as palavras do rei: "Convença os roceiros de que devem aceitar" suas decisões. "Faça isso com a necessária ponderação... para não pôr em causa a propriedade" e que deixe claro ao cônsul inglês "que quem manda ali é Portugal". Esse cônsul seria o responsável pelo relatório a ser enviado a Londres, relatando as condições de trabalho na ilha.

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Luís Bernardo chega e se instala na ilha. Estabelece relações e passa a conhecer os hábitos, costumes e a cultura de São Tomé. Aguarda, sem pressa, a chegada do cônsul inglês. A Inglaterra manda o jovem David Jameson, com sua esposa Ann, que depois de um fracasso político e pessoal na Índia ganha de consolo o consulado em São Tomé e Príncipe.

O governador Luís Bernardo recebe o cônsul e sua esposa e inicia uma amizade com o casal. Contudo, seus olhos têm uma direção mais frequente e mais atenta para a beleza de Ann. No brilho de seus olhos esverdeados havia algo de desejo.

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Envolvido com a tarefa de mostrar aos produtores do campo que aquele tipo de mão de obra precisava acabar, com a chegada do cônsul, Luís Bernardo assumiu a outra ponta da tarefa, que era convencer o inglês das intenções de Portugal em mudar o estado atual da ilha. Entretanto, tocado pelo encanto da consulesa, acabou deixando o coração definir sua prioridade.

Correspondido em sua paixão, o governador se entrega na aventura com a consulesa e constroi um romance juvenil e vulcânico. Ele é tocado pelo amor: "A luz suave da manhã nascente –a única hora do dia em que o sol é delicado nos trópicos- acentuava a pureza dos seus traços, o verde líquido dos olhos, a beleza inteira e exposta do seu rosto". Era assim que enxergava Ann.

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Arrebatado pela paixão, não percebeu que a ilha toda tomara conhecimento do caso. Os ruralistas mais radicais, que exigiam uma posição flexível em relação ao trabalho escravos, aproveitando a situação vulnerável do governador, resolveram pressioná-lo. Diante de sua negativa colérica - pois estavam invadindo sua privacidade - o líder dos roceiros apresenta enfaticamente ao governador a hipótese de divulgar ao país sua participação no crime de adultério e que isso poderia trazer prejuízos à ilha.

Abatido, Luís Bernardo volta meditando para o palácio: "...De repente, numa explosão em que ...só via estrelas cintilando no fundo dos olhos e o azul ou verde dos olhos de Ann servindo de céu a todo aquele caos e, mesmo no segundo antes de se sentir perder e deixar ir no mais fundo dela e de si mesmo, teve ainda tempo para um último assomo de lucidez, onde lhe surgiu nítida e perfeitamente crua a certeza de que se perdera para sempre no corpo, no olhar e no abismo daquela mulher".

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Considerava-se a essa altura um fracassado na política (não conseguira dar dignidade aos trabalhadores rurais que viviam como escravos), não conseguira apaziguar a ilha e não convenceu o cônsul inglês que o governo português estava disposto a mudar a situação de São Tomé. Pensando neste fracasso e no escândalo da traição a ser publicado, concluiu: "Tudo o resto estava perdido. Dever, orgulho, honra, amizade, lealdade e espírito de missão. Restava só o amor de um pelo outro, era tudo que havia para salvar".

Refletindo sobre a situação, pensou em fugir com a consulesa no primeiro navio. Mas ai deparou com outra complicação: Ann "prometeu a si mesma que não deixaria nunca o marido". Luís Bernardo insistiu e, no derradeiro ato, quase no desespero, vendo o cônsul partir para uma pescaria a noite, resolveu reiterar com Ann e partirem no navio da madrugada. Tomado pela loucura, correu até a casa de Ann e seguro de que David Jameson estava pescando foi entrando na casa e sofreu a dor mais forte que um homem pode encontrar: sua Ann nos braços de outro homem. Assim completou seu fracasso.

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Olhando o mar e sozinho no sofá da sala, deu um tiro no coração, pondo fim à sua própria vida. Deixou uma carta ao rei e outra ao seu amigo, Bernardo Pindela, incentivador de sua ida a São Tome. Na carta ao amigo, recupera suas palavras quando do convite do rei: "Que mais de grandioso poderá levar você da vida?" Agora, ele respondia: "Deixei aqui a minha vida; que mais de grandioso poderia eu dar ao Rei?". E por ironia do destino, Bernardo Pindela, entristecido, olhava a outra carta, aquela destinada ao rei, e comentava sozinho: "Enfim, uma carta de um homem que morreu depois de escrever, para outro que morreu antes de ler". O rei morreu três dias depois de Luís Bernardo se matar.

Belíssimo romance! Miguel Sousa Tavares consegue entabular dados e informações históricas e capta a alma humana, suas paixões desencontradas e nossa impotência diante daquilo que sonhamos fazer e a realidade teima em dizer não. E assim, diante dos fatos, Bernardo Pindela, o secretário particular do rei e amigo de Luís Bernardo, conclui: "O que é que ainda poderá ter interesse agora? Tudo acabou ou acabará em breve: é o fim de uma época."

Nasceu a República!

João Paulo Cunha
Maio/2014

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