João Paulo Cunha fala de “O tempo entre costuras”

Obra da escritora espanhola Maria Dueñas combina três fatores determinantes para seu sucesso, opina o ex-deputado, em nova resenha; para ele, são essenciais a personagem envolvente – Sira, "uma mulher que amadurece com as dificuldades que a vida apresenta" – dois fatos históricos e aspectos geográficos que atraem a atenção do leitor

Obra da escritora espanhola Maria Dueñas combina três fatores determinantes para seu sucesso, opina o ex-deputado, em nova resenha; para ele, são essenciais a personagem envolvente – Sira, "uma mulher que amadurece com as dificuldades que a vida apresenta" – dois fatos históricos e aspectos geográficos que atraem a atenção do leitor
Obra da escritora espanhola Maria Dueñas combina três fatores determinantes para seu sucesso, opina o ex-deputado, em nova resenha; para ele, são essenciais a personagem envolvente – Sira, "uma mulher que amadurece com as dificuldades que a vida apresenta" – dois fatos históricos e aspectos geográficos que atraem a atenção do leitor (Foto: Gisele Federicce)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

247 – A nova resenha de João Paulo Cunha trata de "O tempo entre costuras", da espanhola Maria Dueñas. O ex-deputado avalia que existe uma combinação de três fatores determinantes para o sucesso da obra: "Uma personagem envolvente que se relaciona com vultos reais da história, num ambiente de ficção romanceada; dois fatos históricos (Guerra Civil Espanhola e Segunda Guerra Mundial) fundamentais para compreender um pouco dos acontecimentos do século XX; e aspectos geográficos que atraem facilmente a atenção: Madri e sua efervescência, Marrocos e seus mistérios e a bela e velha Lisboa". Leia abaixo a íntegra da resenha, publicada em seu blog:

"O tempo entre costuras"

O livro "O tempo entre costuras", de Maria Dueñas, da Editora Planeta, combina três fatores que são determinantes para o seu sucesso. Uma personagem envolvente que se relaciona com vultos reais da história, num ambiente de ficção romanceada; dois fatos históricos (Guerra Civil Espanhola e Segunda Guerra Mundial) fundamentais para compreender um pouco dos acontecimentos do século XX; e aspectos geográficos que atraem facilmente a atenção: Madri e sua efervescência, Marrocos e seus mistérios e a bela e velha Lisboa.

continua após o anúncio

As contracapas do livro atraem o leitor rapidamente. Ao esparramar mapas que mostram o estreito de Gibraltar ligando dois continentes e misturando as águas de dois oceanos, imaginamos uma história bonita, movimentada e complexa. E é exatamente assim que o roteiro de Maria Dueñas conduz seus leitores.

Prestes a eclodir a Guerra Civil Espanhola, a menina Madrilena Sira Quiroga, criada pela mãe (Dolores) e iniciada no ofício de costurar no pequeno Atelier de Dona Manuela, sonha ter uma vida normal com o namorado (Ignácio), transformando-o em marido. Seu desejo é "passar o resto da vida adulta sem ter que acordar a cada manhã com a boca cheia de sabor de solidão". Ela mirava a mãe! Depois o tempo encarregará de definir para o que, para Sira, é normalidade: "...no lugar para onde eu quisesse me dirigir ou cravar os pilares da minha vida, lá estaria ela, minha normalidade".

continua após o anúncio

A vida é como caminhar numa navalha espichada na horizontal. No livro, uma máquina de datilografar e uma circunstância do acaso mudam a vida da menina. Ela é arrancada do caminho do altar, do atelier de D. Manuela e de sua mãe. É arremessada da pacatez de "uma rua estreita de um bairro de Madri" para um caminho sobressaltado que obrigaria Sira a encontrar rapidamente a altivez para lhe dar coragem. E ela vai precisar dessa coragem para construir uma nova vida, mesmo sabendo que "o medo não quis ficar, foi comigo" para o desconhecido.

Na nova vida, já com o homem (Ramiro) que lhe arrebatou o coração, Sira se decepciona. Perde tudo (até um filho em gestação) e chega ao fundo do poço quando é abandonada em terras estrangeiras por quem ela tanto amou. Entretanto, acreditando no talento herdado da mãe, ela descobre forças para se levantar. Esse ofício –destes que a gente nunca esquece- serviria tanto para momentos difíceis, como para momentos tranquilos. Assim, na hora da precisão, Sira surge ancorada numa mulher solidária ("companheira Candelária"), como uma grande costureira numa cidade desconhecida e finca as primeiras bases de uma nova vida que surgiria pelas linhas de sua costura.

continua após o anúncio

O romance, usando as mãos hábeis dessa costureira e sua amizade com uma inglesa simpática e faladora (uma de suas conversas tem como fundo musical Billie Holiday cantando Summertime) deixa o sofrimento para trás e nos leva aos bastidores da guerra espanhola e dos preparativos para a segunda guerra mundial. Mostra, pespontando, colando e cingindo seus tecidos, as traficâncias da política e os horrores da guerra.

Acreditando ser o melhor caminho para a Espanha se juntar aos aliados (sua mãe aconselha: "Ajude, colabore. Nossa pobre Espanha não pode entrar em outra guerra, não tem mais forças." O país estava encerrando sua guerra civil), Sira não teme se engajar nas espionagens da Grã-Bretanha, combatendo com seu ofício de costureira o alinhamento da Ditadura Espanhola Franquista ao Nazismo Alemão. Muda de nome, de amigos e deixa o coração livre se abrir novamente.

continua após o anúncio

O tempo nos mostra uma mulher que amadurece com as dificuldades que a vida apresenta: "Quantas vezes eu afundara até ficar sem fôlego e quantas vezes conseguira tirar a cabeça d'agua".

À medida que a leitura avança, Sira cresce. É sensível a percepção inicial de uma menina frágil e limitada e que ao longo do livro cresce se transformando numa grande, corajosa ("Por isso e por todas as missões vindouras nas quais tornarei a arriscar a pele, dou-lhe minha palavra. Minha palavra de costureira e minha palavra de espiã") e destemida mulher.

continua após o anúncio

A autora deixa Sira se redescobrir com o amor de um jornalista (Marcus) que ela conheceu no Marrocos, reencontrou em Lisboa e estava presente em Madri. Em seu primeiro encontro já demonstrava sua vocação para juntar roupa e prazer. "Com a seda crua, fiz um conjuntinho de grandes lapelas, acinturado e com saia evasê...o complemento era uma flor de tecido cor de tabaco no ombro..."

É o sinal de que a mulher que teve "um amor traído, uma dívida para pagar...um empenho diário para tocar um negócio, uma pátria cheia de sangue e a saudade de uma mãe" conseguira superar as agruras da vida e se mostrava disposta a recomeçar, sabendo que um pouco de risco sempre corremos. É a saga duma mulher de "rosto cetrino" que acreditou que a vida continua!

continua após o anúncio

João Paulo Cunha
Agosto/2014

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247