João Paulo presta homenagem a Eduardo Galeano

Ex-deputado do PT e ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha publica ‘adeus’ ao escritor uruguaio Eduardo Galeano: “O mundo ficou mais raso. Partiu um animador de sonhos, um conhecedor da alma humana e um escritor que fez do seu ofício um abrigo da justiça”, diz João Paulo Cunha 

Ex-deputado do PT e ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha publica ‘adeus’ ao escritor uruguaio Eduardo Galeano: “O mundo ficou mais raso. Partiu um animador de sonhos, um conhecedor da alma humana e um escritor que fez do seu ofício um abrigo da justiça”, diz João Paulo Cunha 
Ex-deputado do PT e ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha publica ‘adeus’ ao escritor uruguaio Eduardo Galeano: “O mundo ficou mais raso. Partiu um animador de sonhos, um conhecedor da alma humana e um escritor que fez do seu ofício um abrigo da justiça”, diz João Paulo Cunha  (Foto: Roberta Namour)


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247 – Em homenagem ao escritor uruguaio Eduardo Galeano, ex-deputado do PT e ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha lamenta sua morte e exalta seu legado:

“O mundo ficou mais raso. Partiu um animador de sonhos, um conhecedor da alma humana e um escritor que fez do seu ofício um abrigo da justiça”, diz.

Leia abaixo o ‘Adeus a Eduardo Galeano’

O mundo ficou mais raso. Partiu um animador de sonhos, um conhecedor da alma humana e um escritor que fez do seu ofício um abrigo da justiça. Morreu Eduardo Galeano.

Ele nasceu no Uruguai, mas era do mundo. Deixou uma bela obra que faz pensar, sorrir, animar e sonhar.

Lembro na década de setenta quando um padre amigo sugeriu que eu lesse “As veias abertas da América Latina”. Li e não esqueci mais. É claro que o mundo mudou e nós mudamos. Depois acompanhei os passos de Galeano. Perseguido, exilado, injustiçado, mas sempre buscando a utopia.

Escrevendo singelezas profundas e significativas e herméticas obras, foi reconhecido com muitos prêmios e muitas honrarias. Esteve um ano atrás em Brasília para a abertura da Bienal do Livro. Naquele outono eu não pude sair de casa.

Uma vez ouvi alguém falar da utopia a partir de uma definição de Eduardo Galeano. Carrego-a comigo: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” Não é isso mesmo a utopia?

Com o tempo descobri que o sério escritor era amante do futebol. Mais uma coisa em comum! Lendo seu opúsculo “O futebol ao sol e a sombra” me encontrei na figura do torcedor: “Uma vez por semana, o torcedor foge de casa e vai ao estádio. Ondulam as bandeiras, soam as matracas, os foguetes, os tambores, chovem serpentinas e papel picado: a cidade desaparece, a rotina se esquece, só existe o templo. Neste espaço sagrado, a única religião que não tem ateus exibe suas divindades. Embora o torcedor possa contemplar o milagre, mais comodamente, na tela de sua televisão, prefere cumprir a peregrinação até o lugar onde possa ver em carne e osso seus anjos lutando em duelo contra os demônios da rodada. Aqui o torcedor agita o lenço, engole saliva, engole veneno, come o boné, sussurra preces e maldições, e de repente arrebenta a garganta numa ovação e salta feito pulga abraçando o desconhecido que grita gol ao seu lado. Enquanto dura a missa paga, o torcedor é muitos. Compartilha com milhares de devotos a certeza de que somos os melhores, todos os juízes estão vendidos, todos os rivais são trapaceiros.” E não é isso mesmo, meus companheiros são-paulinos?

No episódio do mensalão, quando muitos inocentes repetiam os absurdos e as barbaridades da imprensa, busquei em um texto magnifico de Galeano (A cultura do Terror/6) para responder, visto que por mais que falássemos não éramos ouvidos.

Partilho novamente a mensagem: “Pedro Algorta, advogado, mostrou-me o gordo expediente do assassinato de duas mulheres. O crime duplo tinha sido à faca, no final de 1982, num subúrbio de Montevidéu. A acusada, Alma Di Agosto, tinha confessado. Estava presa fazia mais de um ano; e parecia condenada a apodrecer no cárcere o resto da vida. Seguindo o costume, os policiais tinham violado e torturado a mulher. Depois de um mês de contínuas surras, tinham arrancado de Alma várias confissões. As confissões não eram muito parecidas entre si, como se ela tivesse cometido o mesmo assassinato de maneiras muito diferentes. Em cada confissão havia personagens diferentes, pitorescos fantasmas sem nome ou domicílio, porque a máquina de dar choques converte qualquer um em fecundo romancista; e em todos os casos a autora demonstrava ter a agilidade de uma atleta olímpica, os músculos de uma forçuda de parque de diversões e a destreza de uma matadora profissional. Mas o que mais surpreendia era a riqueza de detalhes: em cada confissão, a acusada descrevia com precisão milimétrica roupas, gestos, cenários, situações, objetos...

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Alma Di Agosto era cega.

Seus vizinhos, que a conheciam e gostavam dela, estavam convencidos de que ela era culpada.
- Por quê? – Perguntou o advogado.
- Porque os jornais dizem.
- Mas os jornais mentem – disse o advogado.

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- Mas o rádio também diz – explicaram os vizinhos. – E até a televisão!”

Esse foi o genial Eduardo Galeano. Descanse em Paz!

João Paulo Cunha

 

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