Milton Hatoum fala a Libération: Bolsonaro liberou o racismo, o machismo e a homofobia

O jornal Libération desta quarta-feira (12) traz uma longa entrevista com o escritor brasileiro Milton Hatoum, que recebe na quinta-feira (13) o prêmio Roger-Caillois de literatura latino-americana; o texto é uma longa reflexão sobre os “tempos difíceis que se anunciam no Brasil”, diz o jornal francês, com o novo governo que vai se instalar no país

Milton Hatoum fala a Libération: Bolsonaro liberou o racismo, o machismo e a homofobia
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RFI - O jornal Libération desta quarta-feira (12) traz uma longa entrevista com o escritor brasileiro Milton Hatoum, que recebe na quinta-feira (13) o prêmio Roger-Caillois de literatura latino-americana. O texto é uma longa reflexão sobre os “tempos difíceis que se anunciam no Brasil”, diz o jornal francês, com o novo governo que vai se instalar no país.

“A eleição de Bolsonaro foi uma derrota brutal, principalmente para a cultura. Fomos derrotados pela extrema direita, o que não é pouco”, diz Hatoum ao Libé. O escritor faz um apelo à solidariedade da França, que acolheu muitos exilados durante os anos de chumbo das ditaduras militares na América Latina.

Hatoum explica que para Bolsonaro, os intelectuais são os inimigos, “taxados de comunistas, libertinos que querem destruir a família”. O escritor acredita que universitários e artistas também devem estar atentos.

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Mas ele acrescenta que os mais ameaçados são as minorias sexuais, os indígenas, os negros e as mulheres. “A vitória de Bolsonaro liberou o racismo, o machismo e a homofobia. Ele fala de negros como se fossem animais”, diz.

Atrocidades banais

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Hatoum cita, em seguida, atrocidades que já viraram banalidade na biografia do futuro presidente, como dizer que prefere morrer a ter um filho homossexual, declarar que a deputada Maria do Rosário seria feia demais para ser estuprada, ou ter como livro de cabeceira as memórias de um carrasco da ditadura, o coronel Brilhante Ustra.

Questionado se o Brasil perdeu a cabeça ao eleger Bolsonaro, Hatoum explica a conjuntura que levou à eleição do candidato. Começando pelos 13 milhões de desempregados, os desiludidos de esquerda e de direita, todos em busca de algo que fosse contra o sistema vigente. “Apenas uma minoria foi seduzida pela ideologia racista e militarista”, diz.

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Hatoum explica que a direita no Brasil preferiu relativizar a ameaça Bolsonaro a apoiar o candidato petista Fernando Haddad. “Uma boa parte da burguesia que se diz esclarecida defende com unhas e dentes seus privilégios, alegadamente ameaçados pelas políticas de distribuição do PT”.

Sobre o novo gabinete, Hatoum fala de um cenário tragicômico, entre teatro do absurdo e teatro de fantoches, com ministros delirantes, dignos de casos clínicos, medíocres e ultraconservadores em postos-chave.

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"Nova ditadura não terá vez"

Mas Hatoum não teme pela democracia. “Nossas instituições são frágeis, a justiça é tendenciosa, mas funciona. O Brasil mudou muito. É um país mais complexo, instruído, urbano”, explica, acrescentando que uma nova ditadura não terá vez.

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Com uma obra que se passa principalmente no norte do Brasil, de onde é originário, Hatoum faz um alerta para o perigo que sofre a Amazônia e os indígenas. “Os territórios indígenas serão usurpados pela agroindústria e pela mineração. E o governo será arbitrário e cruel com eles”, sentencia o escritor.

Qualificado como pessimista pelo entrevistador, Milton Hatoum se diz antes um “otimista desesperado”.

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