A multiplicidade de Juçara Marçal

Dona da potente voz feminina do Met Met, a cantora divide-se entre seus inmeros projetos, as aulas em faculdade e colhe os frutos do bom momento que favorece artistas independentes

A multiplicidade de Juçara Marçal
A multiplicidade de Juçara Marçal (Foto: Divulgação/Crewactive)


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Aline Oliveira _247 - “Minha música é para cem de cada vez. Posso até atingir um milhão de pessoas, mas será aos poucos”. Juçara Marçal sabe que sua voz canta para um público pequeno. Tão seleto quanto às escolhas que fez para sua carreira musical, iniciada no final dos anos 1980. Ela nunca quis estar no mainstream ou gravar cd solo. “Sempre me encantei por trabalhos em que pudesse pesquisar sobre a música brasileira, descobrir minúcias, jeitos diferentes de fazer”, conta.

Juçara é peça integrante, e fundamental, da geração de músicos que mudou o cenário alternativo cultural nos últimos anos, sobretudo em São Paulo, cidade que abriga artistas como Criolo, Rodrigo Campos, Romulo Fróes, Marcelo Cabral, Kiko Dinucci e Thiago França. Estes dois últimos, aliás, formam com Juçara o Metá Metá, trio que lançou em 2011 um dos discos mais elogiados do ano, com recomendações da revista inglesa The Wire e do site francês Vibrations Music.

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Sentada à mesa de um amplo apartamento localizado em um dos poucos bairros residenciais de São Paulo, a dona da potente voz feminina do Metá Metá fala baixo e reflete, numa tarde de fevereiro, sobre o momento atual que favorece artistas independentes. “A internet mostra que existe um universo musical para além do que toca no rádio. E isso não muda mais”, diz.

A repercussão do álbum Metá Metá, lançando em maio somente na web, foi responsável por projetar o trio, que fez shows bem sucedidos em Brasília, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Além, é claro, de São Paulo, onde lota casas como Studio SP, Serralheria, Casa de Francisca e algumas unidades do SESC.

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Essa repercussão digital é, para Juçara, o que diferencia o Metá Metá de outros projetos, como o Padê – álbum de ritmos africanos, que resgata o universo do candomblé - feito, também, em parceria com o Kiko. “Padê foi lançando em 2008 com uma tiragem de mil exemplares. Já o álbum do Metá Metá foi baixado, em um mês, por mais de dez mil pessoas”, conta.

O encontro com Kiko foi em 2004 e Juçara ficou impressionada com a qualidade artística do compositor. “Ele tinha umas misturas que eu nunca tinha visto. Era uma coisa muito paulista, lembrava um pouco Adoniran, mas também tinha algo muito vigoroso artisticamente”, explica. A sintonia entre os músicos foi tanta, que ambos decidiram registrar o encontro gravando pela primeira vez um álbum. “Me deu vontade de cantar as músicas dele, e o Padê nasceu dessa necessidade. Nos divertíamos muito”.

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Juçara é despretensiosamente alegre. Entre uma resposta e outra, solta gargalhadas e brincadeiras capazes de desinibir qualquer entrevistador. Tal leveza transparece, claramente, no palco, onde ela conduz a plateia com sua voz ora suave, ora firme.

Além da parceria com Kiko, a cantora faz parte de outros projetos, dentre eles A Barca, coletivo de artistas que trabalham o repertório da música presente na cultura popular tradicional brasileira. Para isso, eles viajam pelo Brasil a fim de conhecer as canções produzidas nas comunidades do País afora. “A Barca foi um divisor de águas na minha carreira, porque me abriu um leque de conhecimento da música tradicional brasileira, que até então eu não tinha”, relembra a cantora, que está no grupo desde sua formação, em 1998.

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Apaixonada pelo “encontro de diferentes vozes”, Juçara é uma das cantoras do Vésper Vocal, grupo de mulheres que, desde 1992, interpreta canções no formato a capela. Além disso, ela integra também o bloco do Ilú Obá de Min, que, no carnaval, desfila no centro de São Paulo.

Embora distintos, os trabalhos de Juçara têm em comum a união de pessoas, a soma das vozes, a pesquisa e o fato de um projeto ter levado a outro. Foi assim desde que a carioca (que se mudou pequena com os pais para São Paulo) entrou na USP - onde cursou Jornalismo, Letras, e fez um mestrado sobre o memorialista Pedro Nava – para tentar fugir do que mais gostava. “A carreira musical é muito irregular, não há uma estabilidade, eu precisava de um trabalho fixo”.

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Só que a paixão pela música falou mais alto e logo nos primeiros anos de faculdade, Juçara se inscreveu no coral da faculdade. “De alguma forma, levei a música em paralelo, meio como hobby”. A diversão começou a se formalizar quando, já formada, entrou para a Companhia Coral e começou a ser remunerada pelo trabalho. A esta altura, Juçara já tinha iniciado um trabalho em jornalismo transmitindo boletins informativos por telefone, em que dizia a situação “do tempo, as principais notícias e informações sobre o Corinthians e o São Paulo”, frisa, aos risos, a são-paulina.

Com seus projetos musicais em andamento, Juçara passou a se dividir entre a música e as aulas em faculdade, profissão que exerce até hoje.“Comecei dando aulas em Letras na UNIP e na PUC e Comunicação na Anhembi Morumbi, mas hoje consegui direcionar o trabalho de lecionar para a música”. Agora, Juçara leciona música na faculdade Anhembi Morumbi. A vivência dos shows e os projetos que atua são matéria-prima para o curso que ministra. “Todo conhecimento que adquiri é um instrumento educacional”, conta.

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Agenda 
Festival São Paulo Representa 
Metá Metá
Trio se apresenta na Funarte, em São Paulo, no dia 17 de março às 19h30 

 

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