Gás de xisto: riqueza ou perigo?

A produção do gás de xisto, ou gás não convencional, está prestes a ser explorada no Brasil, mesmo sem nenhuma discussão da sociedade sobre os perigos da atividade para o meio ambiente e os cidadãos das regiões envolvidas



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No filme "Promised Land", lançado em dezembro de 2012 nos EUA,  Matt Damon interpreta o papel do executivo de uma produtora de gás natural que tenta alugar direitos de exploração na zona rural do estado americano da Pensilvânia onde o fraturamento hidráulico, ou "fracking", tornou-se uma técnica bastante difundida para extrair gás natural de depósitos de xisto argiloso.

O personagem tem sua atuação questionada quando o rebanho de uma cidade começa a morrer após beber água contaminada. O filme segue a linha do documentário "Gasland", de 2011, que mostra um morador "incendiando" a água da torneira com um fósforo.

Não se trata de ficção, apenas. O tema chegou a Hollywood porque é preocupante e as atividades vem crescendo nos EUA e no mundo. A polêmica em torno desta fonte de energia gera milhões de ações na Justiça no Canadá e nos EUA - o maior produtor mundial - e sua exploração é proibida em  países como França e  Bulgária.

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A produção do gás de xisto, ou gás não convencional, está prestes a ser explorada no Brasil, mesmo sem nenhuma discussão da sociedade sobre os perigos da atividade para o meio ambiente e os cidadãos das regiões envolvidas, como a contaminação da água, explosões geradas pela liberação do gás metano e terremotos. Nos EUA, acredita-se que um terremoto ocorrido em Oklahoma esteja relacionado à exploração do gás de xisto.

Este é o momento de aprofundarmos a análise a respeito. Em apenas três meses o Brasil realizará seu primeiro leilão para exploração de gás de xisto, marcado pela Agência Nacional do Petróleo -ANP, para 31 de outubro, quando serão oferecidos blocos nas bacias de Parecis (em Mato Grosso ); do Recôncavo (na Bahia); do Acre;  do São Francisco (entre Minas Gerais e Bahia); e na do Paraná (entre Paraná e Mato Grosso do Sul). Importantes bacias hidrográficas do país correm o risco de sofrerem conseqüências inimagináveis.

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Enquanto empresas como Petra, OGX, HRT, Orteng, Cemig e Petrobras avaliam oportunidades na produção do gás não convencional no Brasil, o Ministério do Meio Ambiente não está envolvido no assunto e não existe nada específico sendo estudado pelo Ibama, ou pela Agência Nacional de Água – ANA.

Para esclarecer aos leigos no assunto, e obviamente eles representam a maioria da sociedade brasileira, o xisto é uma camada de mineral situada a três ou quatro quilômetros abaixo da superfície do solo, onde se encontra gás aprisionado.

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Para libertar este gás é necessário "fraturar" o xisto, o que é feito por meio de explosões com o uso de substâncias químicas e  jatos de água a alta pressão ocasionando a subida do gás.

Os problemas ambientais originam-se do fato de que grande quantidade de água tem de ser usada, misturada com areia e um "coquetel" de substâncias químicas (cuja composição tem sido mantida em sigilo pelas empresas) para "fraturar" o xisto. Cerca de 50% a 70% da água injetada é recuperada e trazida de volta para a superfície, onde é colocada em lagoas que podem poluir o lençol freático.

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Além disso, o gás liberado do xisto não é metano puro, vem acompanhado de nitrogênio (que não queima) e de várias impurezas, como sulfato de hidrogênio (que é tóxico e corrosivo), tolueno e outros solventes.

Nos EUA, a redução do preço do gás de xisto a níveis muito baixos tem incentivado a instalação de novas indústrias no país tendo ocorrido uma "explosão" da produção a partir de 2000 quando  ele representava  apenas 1% do gás natural produzido. Em 2010 passou para 20% e existem previsões de que em 2035 serão quase 50%. Num período de apenas dez anos foram abertos cerca de 20 mil poços de gás de xisto no país.

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O sonho americano de independência energética passa por ai, mas ainda está longe de se transformar em realidade. Apesar do país estar importando menos petróleo, uma vez que o gás vem substituindo derivados do petróleo tanto na indústria quanto no transporte, eles ainda importam do Oriente Médio metade do petróleo que consomem (cerca de 10 milhões de barris por dia), a um custo de mais de US$ 300 bilhões por ano.

Não são poucos os que acreditam, como afirmei em meu último artigo Fim do complexo de vira-latas, que as guerras naquela região do mundo (principalmente no Iraque) têm a ver com a necessidade de garantir o fornecimento de petróleo por governos “menos” nacionalistas.

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A exploração de gás de xisto no Brasil e no mundo é um assunto árido quando visto pelo lado do cidadão comum, e tóxico, literalmente, quando se trata do meio ambiente e dos interesses de corporações e governos, mas devemos ter a coragem de enfrentá-lo já.

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Quando falamos que Deus é brasileiro ou que o país é  abençoado por Deus, como diz a música, não estamos brincando. É a mais  pura verdade quando nos comparamos em termos ambientais a várias regiões do mundo: não temos nevascas, nem terremotos, ou furacões. Pelo menos por enquanto.

Está provado, no entanto, que o homem em nome de um falso  “progresso da civilização” vem destruindo irremediavelmente a natureza, causando efeitos conhecidos e talvez até muitos outros desconhecidos. A pergunta que devemos nos fazer é: que preço pagaremos por isso ? A hora de pesquisar sobre a questão é agora!

Porque entrar nesta aventura de exploração do gás de xisto se o Brasil tem grandes reservas de gás natural em várias regiões do país que não foram exploradas ? Em visita à bacia de Urucum, na Amazônia, por exemplo, vi de perto a grandeza de um belíssimo projeto da Petrobras que não está sendo ainda explorado na sua totalidade.

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