Afinal, Neca Setubal é banqueira ou educadora?

Coordenadora do programa de governo de Marina Silva, Neca Setubal deflagra, nesta quinta-feira, uma operação midiática para sair das cordas e deixar de representar um peso para sua candidata; em entrevista ao Estado de S. Paulo, ela diz ser alvo de "preconceito"; na Folha, conta com uma generosa reportagem em que é sempre identificada como "educadora"; no entanto, ela própria diz que vive com os dividendos que recebe como acionista do Itaú e foi na condição de banqueira, não de educadora, que ela doou R$ 1 milhão ou 83% de todos os recursos do instituto de Marina Silva; na primeira entrevista que concedeu, após a morte de Eduardo Campos, a acionista do Itaú defendeu a agenda dos bancos e não mencionou a palavra educação uma única vez; até o fim da disputa, Neca não sairá da linha de tiro

Brasil, S„o Paulo, SP, 31/08/2010. Retrato da candidata ‡ PresidÍncia da Rep˙blica pelo Partido Verde (PV), Marina Silva(e), que se re˙ne com um grupo de mulheres de diferentes ·reas de atuaÁ„o para falar sobre as propostas do programa de governo e da lid
Brasil, S„o Paulo, SP, 31/08/2010. Retrato da candidata ‡ PresidÍncia da Rep˙blica pelo Partido Verde (PV), Marina Silva(e), que se re˙ne com um grupo de mulheres de diferentes ·reas de atuaÁ„o para falar sobre as propostas do programa de governo e da lid (Foto: Leonardo Attuch)


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247 - A coordenadora do programa de governo de Marina Silva, Maria Alice Setubal, conhecida como Neca, deflagrou, nesta quinta-feira, uma operação para tentar sair das cordas e deixar de representar um peso para sua candidata, depois que as pesquisas eleitorais desta semana apontaram os primeiros problemas na campanha do PSB. Em dois levantamentos, da CNT/MDA e do Datafolha, Marina perdeu pontos e passou a estar em empate técnico com a presidente Dilma Rousseff no segundo turno. Uma das razões é o fato de Marina estar extremamente associada a Neca, herdeira do Banco Itaú, que deu a ela R$ 1 milhão no ano passado (83% de toda a receita do seu instituto).

A ação de imagem de Neca Setubal envolveu dois jornais paulistas. Ao Estado de S. Paulo, ela concedeu uma entrevista à colunista Sonia Racy, em que diz ser alvo de um preconceito contra banqueiros que vem desde a Idade Média. Na mesma entrevista, enfatiza sua condição de "educadora" (leia aqui). Na Folha, ela contou com uma generosa reportagem, que vai na mesma linha. "Acionista do Itaú e colaboradora de Marina viveu afastada dos negócios da família", diz o título (leia aqui).

O tom da reportagem não poderia ser mais claro:

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Aos 63 anos, a educadora Maria Alice Setubal, mais conhecida como Neca, é dona de 1,3% das ações do grupo (o equivalente a 0,5% do Itaú Unibanco), mas nunca teve cargo nas empresas comandadas pela família.

Ela já deu aula em escolas e numa faculdade, e trabalha há anos com educação, cultura e projetos sociais. Seus filhos também estão fora do Itaú. Os dois rapazes trabalham em bancos concorrentes. A filha é psicanalista.

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Neca não tem, praticamente, nada a ver com os destinos do Itaú. E a orientação interna da Folha, que talvez tenha marinado, parece ser tratá-la sempre como "educadora".

O problema, no entanto, é que foi a própria Neca quem escolheu desempenhar o papel de banqueira e porta-voz da agenda dos bancos na campanha de Marina.

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Afinal, foi na condição de banqueira ou educadora que ela doou 83% dos recursos do instituto que se dedica a alimentar o mito Marina Silva? 

O ponto mais importante não é esse. Logo após a morte de Eduardo Campos, Neca Setubal passou a falar em nome da candidata Marina Silva, numa entrevista concedida ao jornalista Fernando Rodrigues, e defendeu a agenda dos bancos. O título da reportagem foi explícito: "Marina Silva acena ao mercado e promete autonomia para o BC" (leia aqui).

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Na longa entrevista, a "educadora" Neca Setúbal não menciona uma única vez a palavra "educação". No entanto, discorre longamente sobre metas de inflação, autonomia do Banco Central e outros temas econômicos. Diz, inclusive, que Marina concederá autonomia ao BC, mesmo sem concordar com esta tese. Eis um trecho:

Eduardo Campos falou várias vezes que a meta de inflação seria perseguir 4,5% nos próximos quatro anos para assumir uma meta, de 3%, a partir de 2019. Isso vai estar explicitado no programa?

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Vai.

Dessa forma?
Dessa forma. Exatamente. A meta de inflação vai para o centro, para 4,5%, ao longo do governo de quatro anos. Para depois chegar a 3%. Isso está explícito.

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Economistas ortodoxos e alguns do governo dizem que para reduzir a inflação ao longo de quatro anos nesse nível seria necessário aumentar juros e produzir desemprego no país. Esse tema é tratado no programa?
Não dessa forma, não vai dizer. Acho que não existe "vou aumentar juros". Nenhum programa vai colocar dessa forma.
O capítulo de economia tem um olhar que combina com uma parte da gestão de recursos naturais. Busca-se um diálogo com o desenvolvimento sustentável.
O Eduardo [Campos] tinha um compromisso com o social. Ao mesmo tempo que enfatizava a gestão, nunca perdia de vista o compromisso com a questão social. Ele dizia que conseguiria compor: trazer a inflação [para o centro da meta] e ter responsabilidade fiscal. No programa de governo tem o que ele falou. Ele já havia falado de ter um conselho de fiscalização.

Marina, como o programa já está pronto, concordava com todos esses pontos e vai assumi-los?
Vai assumi-los. Vai assumir todos os programas. Ela tinha se posicionado em alguns pontos de uma forma diferente do Eduardo. Por exemplo, o caso do Banco Central. Ela achava que não era necessário ter uma autonomia formal do Banco Central. Ela não achava que precisaria... 

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De uma lei...
...De uma lei para dar mais autonomia. Mas acho que são os consensos. Existiam diferenças e o programa reflete o que é de consenso. Então ela, enfim, aceitou isso.

No caso do Banco Central, como Eduardo propunha autonomia, mandatos para o presidente e diretores, isso tudo está mantido e será assumido por Marina?
Será assumido pela Marina. A declaração dela é que vai assumir todos os compromissos do Eduardo.

No caso do Banco Central, uma lei seria proposta?
Muitas vezes, Marina falava: "Bom, isso não era a minha posição, mas essa foi a posição do Eduardo e a gente concordou com isso". Então, ela vai assumir essas posições.

A autonomia do Banco Central?
É.

A entrevista de Neca Setubal após a morte de Campos deixa absolutamente claro que ela não falava como "educadora", mas sim como "banqueira". Ou, na melhor das hipóteses, como herdeira de um grande banco, cujos dividendos a sustentam, assim como o instituto Marina Silva.

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