Grandes jornais veem o Brasil à beira do apagão

Globo aponta racionamento de energia informal adotado por grandes empresas, enquanto Estado de S. Paulo e Correio Braziliense dão como manchete principal o risco de apagão, negado pela presidente Dilma Rousseff, mas apontado em editorial da Zero Hora e na coluna de Eliane Cantanhêde, na Folha; e então: é hora de comprar um gerador?

Grandes jornais veem o Brasil à beira do apagão
Grandes jornais veem o Brasil à beira do apagão


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247 -  O brasileiro que se informa pelos jornais terminou o café da manhã convencido de que o Brasil está à beira de um novo racionamento de energia, semelhante ao que ocorreu em 2001, no fim do governo FHC. Embora o risco de apagão seja negado pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro Édison Lobão, de Minas e Energia, ele está em todas as manchetes.

De todas, a mais explícita foi a do Globo, que apontou um "racionamento branco" entre as indústrias eletrointensivas, que são grandes consumidoras de energia. Como o mercado de energia se organiza pela oferta e pela procura, o nível baixo dos reservatórios fez com que os preços subissem muito nos últimos meses. Segundo o jornal, o megawatt/hora hoje custa R$ 554,82, 4.194% a mais do que em janeiro do ano passado. Ouvido pelo Globo, Raimundo de Paula Batista, da Enecel, uma empresa que comercializa energia no mercado livre diz que o governo deveria sugerir, de forma organizada, uma redução do consumo às grandes indústrias.

No Estado de S. Paulo ("Governo já vê risco de racionamento de energia") e no Correio Braziliense ("Risco de o Brasil racionar energia é cada vez maior"), as principais manchetes também apontam para um possível apagão. Além disso, a Zero Hora, de Porto Alegre, também condena o plano da presidente Dilma para reduzir as tarifas de energia. Leia abaixo:

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Ameaça energética

ZERO HORA - 08/01

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O consumidor quer energia a custo menor mas abundante, o que vai exigir do país soluções pragmáticas para prevenir uma cada vez mais uma possível crise numa área de infraestrutura indispensável para a retomada do desenvolvimento.

Dez dias depois de ironizar a possibilidade de uma crise energética no país, a presidente Dilma Rousseff convocou uma reunião emergencial de representantes do setor elétrico para amanhã, com o objetivo de debater alternativas aos baixos níveis dos reservatórios. Em entrevista concedida ontem, o secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Ildo Grüdtner, descartou qualquer possibilidade de apagão, garantindo que as térmicas irão compensar a queda na geração hidráulica. A falta de planejamento e de fiscalização nessa área e a crônica descontinuidade na realização de algumas obras decisivas, porém, recomendam atenção reforçada, para evitar que o país volte a enfrentar um apagão nos investimentos por falta de energia elétrica.

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A presidente da República tem razão ao declarar, como fez no final do último ano, que, quando o sistema cai por causa de um raio, "teve falha humana", e de pedir aos jornalistas que "gargalhem" diante desse tipo de desculpa. Tanto ao longo dos milhares de quilômetros de linhas de transmissão quanto nos canteiros de obras espalhados por todo o país, o que falta é justamente capacidade dos profissionais de enfrentar uma ameaça que só não preocupa mais neste momento pelo fato de a atividade produtiva estar em marcha lenta. Os problemas se avolumam porque, além de dispendiosos, os projetos nessa área exigem longo tempo de execução, passando de um governo para outro sem que nenhum deles seja cobrado sobre eventuais descumprimentos do cronograma e fazendo com que as responsabilidades se diluam.

Reportagem exibida no último domingo pelo Fantástico expôs uma rotina de descontrole nessa área, citando como um dos exemplos de incompetência gerencial a usina Jacuí I, no Rio Grande do Sul, que consumiu volumes incalculáveis de dinheiro público, passou por todos os presidentes do período democrático e segue inacabada, sem perspectiva de conclusão. O descalabro, que se espalha por todo o país, se deve a razões que vão de erros de planejamento e do próprio projeto a atrasos na entrega dos equipamentos, com prejuízos que acabam sempre sendo transferidos para o consumidor final, sobre a forma de escassez ou de custo elevado do serviço.

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Recente decisão do governo federal demonstrou o quanto a questão é politizada, a ponto de a intenção de redução da tarifa, proposta pelo governo federal, ter sido rechaçada por Estados governados por políticos de oposição ao Planalto. O consumidor quer energia a custo menor mas abundante, o que vai exigir do país soluções pragmáticas para prevenir uma cada vez mais possível crise numa área de infraestrutura indispensável para a retomada do desenvolvimento. A imprevisão do passado gerou deformações com as quais os brasileiros não podem mais consentir e que o país precisa afastar a partir de reuniões como a de amanhã para voltar a expandir sua atividade econômica.

Além disso, Eliane Cantanhêde afirma que, agora, só falta apelar a São Pedro, ironizando ainda o nervosismo da presidente Dilma com o tema:

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Pouca chuva, muito raio

BRASÍLIA - Dilma anda às turras exatamente com o seu setor de origem, o de energia. Não pode chegar perto que dá choque, ou vem raio.

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Segundo ela, é "ridículo" falar em racionamento, mas técnicos do setor público e agentes do privado insistem que a coisa está feia.

Choveu pouco em 2012 e o sistema brasileiro é dependente de chuvas. Logo, os reservatórios estão em níveis muito baixos e, por ironia, se as chuvas que castigam o Rio não chegarem -e logo- a Minas, o fornecimento de energia pode ficar difícil.

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Então é torcer para que são Pedro tenha piedade do Rio e deixe de produzir desabrigados por lá, mas que também seja generoso com o país e mande chuva para onde tem de chover: os locais fundamentais para encher os reservatórios, como Minas.

Nessa queda de braço -bem no meio da acusação de que o governo quebra contratos no setor elétrico-, há uma crítica constante à personalidade, ou ao estilo, de Dilma. Nove entre dez pessoas de dentro e de fora do governo reclamam do excesso de centralização e de autoconfiança.

Como nenhum ministro, assessor ou técnico é besta de assumir publicamente a crítica, vamos a alguém que é da oposição, mas é de dentro do sistema elétrico: o secretário de Transportes de Salvador, José Carlos Aleluia (DEM), professor, membro dos conselhos da Light e da Celg (a estatal de energia de Goiás) e ex-relator no Congresso da criação da Aneel (a agência de energia elétrica).

"A Dilma toma decisões sem ouvir as instituições e os técnicos, como se só ela entendesse do assunto e todo mundo fosse ignorante", diz, resumindo uma queixa geral.

Isso vale para energia e também para todo o resto. Como os subalternos, inclusive ou principalmente ministros, morrem de medo e não reagem, tudo é centralizado, nada anda.

Só nos resta rezar, ou, quem sabe, cantar: "Tomara que chova... cem dias sem parar...". Mas, claro, uniformemente e sem tragédias.

E então: será que é hora de comprar um gerador?

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