De Gaspari a Graça Foster: deixe Eike quebrar

Colunista Elio Gaspari recomenda à presidente da Petrobras, Graça Foster, que não se envolva com os maus negócios do empresário Eike Batista; segundo o jornalista, negócios do grupo EBX não trazem risco sistêmico e qualquer tentativa de resgate, como o uso do Porto do Açu pela estatal, seria transformar o Brasil no paraíso do "capitalismo de compadrio"; Gaspari lembra ainda que Eike tem patrimônio, pois oferece jatinhos para políticos como Sergio Cabral e possui uma Mercedes SLR Mclaren na sua sala de estar

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247 - O colunista Elio Gaspari, um dos mais influentes da imprensa brasileira, publicou artigo, neste domingo, em que aconselha a presidente da Petrobras, Graça Foster, a manter distância do empresário Eike Batista. Segundo ele, qualquer tentativa de resgate feita pela Petrobras, como o que se discute, por exemplo, no Porto do Açu, consagraria, no Brasil, o capitalismo de compadrio. Gaspari lembra ainda que Eike, que costumava criticar a falta da "cultura de risco" de seus pares, tem patrimônio para resolver seus problemas sozinho. Leia abaixo:

O capitalismo de compadrio entrou em cena

As cotações de Eike Batista nada têm a ver com a imagem do Brasil, muito menos com risco sistêmico

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Quem comprou um lote de ações da OGX de Eike Batista quando ela foi lançada, em 2008, pagou R$ 1.200. Hoje ele vale R$ 150. Milhares de pessoas tomaram esse tombo, sem que houvesse uma crise na economia ou cataclismo. Pequenos e grandes investidores acreditaram num negócio e deram-se mal. Assim é o mercado.

Diante das dificuldades do bilionário brasileiro, surgiram duas linhas de argumentação defendendo um socorro da Viúva. Quase todas vindas da privataria, outras, do comissariado.

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Numa, Eike Batista deve ser amparado para evitar que suas dificuldades comprometam a imagem do Brasil junto ao mercado de investidores internacionais.

Ou então ele deve receber alguma proteção para evitar um risco sistêmico.

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O primeiro argumento é uma falsidade. Imagine-se um investidor americano, em seu escritório de Chicago, recebendo a informação de que o governo brasileiro amparou o empresário que em 2011 foi listado como o homem mais rico do país, com US$ 30 bilhões, e anunciou que pretendia ser o primeiro do mundo. Ele tem grandes empreendimentos, mantém uma Mercedes SLR McLaren atrás de uma vidraça de sua sala de estar e disputou num programa de televisão a lingerie que pertencera a sua mulher. Já veio a público defender o seu direito de emprestar um jatinho para autoridades federais, estaduais e municipais. Na última campanha do governador Sérgio Cabral pingou R$ 2 milhões. Noutra, do prefeito Eduardo Paes, botou R$ 500 mil. Ademais, ele tem patrimônio para oferecer ao mercado. O governo ampararia um empresário que em 2007 criticava a falta de "cultura de risco" de seus pares.

O sinal que o investidor estrangeiro recebe é o do triunfo, no Brasil, do capitalismo de compadrio. Ele já viu o fim desse filme na Coreia em 1997, na Espanha em 2008 e na Grécia em 2010.

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O segundo argumento, mencionando um "risco sistêmico", merece ser traduzido: trata-se de usar dinheiro da Viúva para blindar bancos oficiais e privados que emprestaram dinheiro ao grupo EBX, assumindo riscos maiores que os dos acionistas. Típico resgate do andar de cima. Coisa de pelo menos R$ 13 bilhões. Uns oito bilhões saíram do BNDES e da Caixa, que lidam com recursos públicos. Outros R$ 5 bilhões foram emprestados por banqueiros e fundos que tinham "cultura de risco".

Imagine-se a seguinte situação: Em 2008 Guido Coutinho comprou R$ 1,2 milhão de ações da OGX. Nesse mesmo ano, um grande banco emprestou R$ 120 milhões a uma empresa de Eike Batista. Mais tarde, sem relação com o investimento que fizera, Guido fez um empréstimo de R$ 1,2 milhão no mesmo banco que comprou o "risco Eike". Hoje, o bom Guido está com R$ 150 mil na sua carteira de ações e, com seu trabalho, tudo paga o que deve ao banco. Ele sabe que nos próximos anos não recuperará o investimento que fez nas ações, mas o banco que emprestou a Eike quer o seu. Como metade do crédito saiu do BNDES, o capitalismo de compadrio poderá colocar Guido Coutinho no pior dos mundos: Perdeu nas ações, pagou o que devia e o dinheiro dos seus impostos, convertido em aportes do Tesouro, seria usado para refrescar os bancos que emprestaram a Eike. O mesmo acontecerá se, por meio de alguma gambiarra, a Viúva capitalizar as empresas X para fechar a conta com a banca privada.

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Fracassada a tentativa de transferir um estaleiro capixaba para a carteira do grupo X, surgiu uma manobra no mercado: a Petrobras pode entrar no empreendimento do porto de Açu. Metade dessa grande obra está pronta, recebeu R$ 4 bilhões de investimentos, emprega oito mil pessoas e tem muito para dar certo. A doutora Graça Foster informou que a empresa ainda não pensou nesse assunto. Se a Petrobras quiser entrar no Açu pode-se perguntar porque esse interesse só apareceu agora, já que o projeto existe desde 2007.

Se a estatal se decidir por essa transação, fará bem se exibir uma transparência a que não está habituada, mostrando todos os números aos seus acionistas. O petrocomissariado pode provar que está diante de uma boa ocasião para fechar um grande negócio: basta contratar uma auditoria internacional para referendar sua opinião, mostrando custos e preços.

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