PSDB planeja deixar Marconi Perillo em voo solo

Direção nacional do partido está entre o discurso para 2014 e a prática do governador goiano, cada dia mais enrolado no caso Cachoeira. A avaliação é clara: é hora de afastar-se dele

PSDB planeja deixar Marconi Perillo em voo solo
PSDB planeja deixar Marconi Perillo em voo solo (Foto: Edição/247)


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247 – “A falta de conexão entre propaganda e noticiário leva incômodo ao tucanato”, informa o jornalista Josias de Souza em seu blog nesta terça-feira. O texto continua: “Antes unido na defesa de Perillo, o PSDB dividiu-se. Uma parte acha que a legenda deve proteger o governador goiano dos ataques do PT na base do vai ou racha. Outra ala, minoritária, acredita que a biografia de Perillo, já rachada, não vale o sacrifício.

A situação do governador é a de quem está sendo deixado só. E sem a couraça nacional do partido, sua situação fica mais fragilizada. O PSDB está agora diante de um dilema de vida: preservar-se ou correr o risco de enlamear-se no desgaste de Perillo. É o dilema do partido que vê seu discurso destruído na prática.

A seguir, a íntegra do que escreveu Josias (ou leia aqui):

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PSDB exige propaganda em que Aécio fala de 'ética' e racha diante das dúvidas sobre Perillo

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O PSDB atravessa uma quadra paradoxal. Exibe na tevê inserções publicitárias em que seu presidenciável, Aécio Neves, fala de um “sonho”. O sonho “de que a política possa, um dia, ser o espaço da ética.” Simultaneamente, o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, desponta nos telejornais do horário nobre como protagonista de um pesadelo.

A falta de conexão entre propaganda e noticiário leva incômodo ao tucanato. Antes unido na defesa de Perillo, o PSDB dividiu-se. Uma parte acha que a legenda deve proteger o governador goiano dos ataques do PT na base do vai ou racha. Outra ala, minoritária, acredita que a biografia de Perillo, já rachada, não vale o sacrifício.

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A divisão manifesta-se, por ora, apenas em privado. Mas integrantes do grupo dos insatisfeitos começam a manifestar o desejo de explicitar suas opiniões às claras. Em conversa com o blog, uma das vozes desse bloco explicou o que se passa. Disse que se formou no PSDB um consenso.

Avalia-se internamente que a suspeita de infiltração de Carlinhos Cachoeira na administração de Perillo já comprometeu o plano do governador de disputar a reeleição em 2014. Se é assim, por que deveríamos nos associar incondicionalmente a um caso perdido?, pergunta-se o tucano.

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O grande receio do pedaço do partido que olha de esguelha para Perillo é o de que o PSDB saia do Cachoeiragate mais ensopado do que o DEM. Recorda-se que o parceiro de oposição livrou-se de Demóstenes Torres no alvorecer do escândalo. Ouvido, um dirigente do ninho contra-argumentou: os indícios que pesam contra Perillo ainda não autorizam a equiparação com Demóstenes.

A turma do contra não digere essa tese. Olha ao redor e conclui: do ponto de vista político, Perillo tornou-se, sim, uma espécie de Demóstenes. Por quê? Suas explicações já não são levadas a sério. Teme-se que a tática da proteção a qualquer custo converta em pó o núcleo do discurso do PSDB contra o PT. Um discurso que se escora na tese segundo a qual Lula e o alto comando do petismo “passam a mão na cabeça” dos réus do mensalão, contemporizando com os transgressores.

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Ao empurrar o PT para dentro da CPI, um dos objetivos de Lula era justamente o de silenciar as cornetas do mensalão num instante em que o STF prepara-se para julgar o processo. Na origem do escândalo, em 2005, Perillo irritara Lula ao propalar a informação de que o avisara sobre a contaminação monetária de sua base congressual. Algo que pôs em dúvida o lero-lero do “eu não sabia”.

O tucano que falou ao repórter insistiu: a forma mais adequada de responder ao Lula seria o PSDB se diferenciar dele. Não devemos e não podemos tapar o Sol com a peneira, disse. Em seguida, repisou: o DEM foi implacável com Demóstenes. E nós ainda não definimos nem o que fazer com o Leréia. Refere-se ao deputado do PSDB de Goiás Carlos Alberto Leréia, um membro do ‘Clube Nextel’ pilhado nos grampos da Polícia Federal em diálogos vadios com Cachoeira.

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Nesse contexto, as dúvidas relacionadas à venda de uma casa de Perillo, adensadas nesta terça (5), compõem o cenário como mero detalhe. É parte de um pano de fundo que, tomado em seu conjunto, leva a um cenário radioativo.

Inclui, por exemplo: o aparelhamento da polícia goiana, posta a serviço da jogatina ilegal de Cachoeira; a chefe de gabinete do governador, afastada depois de soar nos grampos; a entrega de postos estratégicos como o Detran-GO a prepostos do contraventor; o jornalista que diz ter recebido de empresa fantasma de Cachoeira a remuneração por serviços prestados à campanha de Perillo; e um enorme etc..

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Convocado, Perillo falará à CPI na próxima terça-feira (12). Será crivado de indagações ácidas. O PT dispõe até de um roteiro com dados de extraídos do papelório recebido da PF e do Ministério Público. No dia seguinte, 13, irá ao banco da CPI o governador petista de Brasília, Agnelo Queiroz. O tucanato arma-se para ir à forra.

O PT acredita que, na comparação, Perillo sairá mais chamuscado que Agnelo. Admite-se que os autos da Operação Monte Carlo revelam que Cachoeira tramava ocupar também a administração de Brasília. Porém, a PF teria estourado a quadrilha numa fase em que o contraventor chegara apenas aos arredores de Agnelo. Nessa versão, o esquema ruiu antes que Cachoeira desse o definitivo bote.

Seja como for, um pedaço do PSDB não parece satisfeito com a ideia de travar nas manchetes uma batalha do tipo sujos versos mal lavados. O problema é que os tucanos, à moda dos intelectuais, costumam entregar-se a um estranho fenômeno: a lamentação depois do fato. Vem daí que, a despeito do incômodo crescente, ainda não surgiu um bico com coragem suficiente para grasnar sob holofotes.

Na propaganda institucional que começou a ser veiculada no último final de semana, Aécio declara: “Com coragem para enfrentar os problemas, com transparência e cuidado com cada centavo do dinheiro público, é possível, sim, mudar de verdade a vida das pessoas. Nós do PSDB acreditamos muito nisso. E você?”

A peça promocional compõe um pacote de 40 inserções nacionais que o PSDB decidiu regionalizar. Aécio está sendo levado ao ar em vários Estados. Ao cotejar o “sonho” da propaganda com o pesadelo que vem de Goiás, o eleitor fica tentado a responder ao presidenciável: ‘Não acredito muito nisso.’

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