Pois é, Marconi. Quem te viu, quem te vê

Em quase 16 anos no poder, Marconi Perillo mudou muito. Sou testemunha. Mudou de opinião, mudou de companheiros políticos, mudou de amigos



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Conheci Marconi Perillo muito antes dele ser eleito governador de Goiás pela primeiro vez, em 1998. Não é mais o mesmo.

Conheço Marconi dos temos em que ele pedia pelo amor de Deus um espaço no jornal. Eu era editor, ele deputado estadual de oposição. Muito pouca gente dava espaço a ele. Não dava nem crédito. Eu o conheci.

Depois viajei com ele uma vez pelo norte do Estado e fomos parar em Muquém, nos cafundós de Niquelândia. Fomos celebrar Nossa Senhora D’Abadia do Muquém, de quem ele é devoto e eu também. Na campanha de 1998 eu vi cada passo de sua ascensão. Estava em Vianópolis, na casa de meus pais, região da Estrada de Ferro, no dia da primeira carreata da campanha.

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Foi carreata porque ninguém conhecia direito Marconi e era preciso apresentá-lo, no início de julho, para Goiás. De mãos dadas com Ronaldo Caiado, Roberto Balestra, Lúcia Vânia e tantos outros líderes, Marconi Perillo foi se transformando no “moço da camisa azul” contra o velho da “panelinha” Iris Rezende, do PMDB que por 16 anos mandava e desmandava no Estado.

Marconi ganhou a candidatura de bandeja, porque antes dele houve uma união da oposição como só se viu dois anos antes, na eleição do tucano Nion Albernaz, em Goiânia, e como nunca se viu mais. Havia uma união, faltava um candidato. Então ele, esnobado para a vice na chapa de Iris, aceitou. E aí venceu.

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O Marconi Perillo que assumiu o poder em 1998 era um jovem de 36 anos com pressa de entrar para a história. O novo em um Estado adormecido. O alegre e retumbante desbravador de um novo tempo. Era isso.

Com o tempo novo a seu favor, Marconi foi abrindo picada para suas ideias e sua gente. Aos poucos, ficaram pelo caminho companheiros de guerra como Caiado, Balestra e Lúcia Vânia. Em nome do tempo novo, os três, e outros tantos – como os 16, que depois viraram cerca de 30 prefeitos ‘de primeira hora’ –, foram passo a passo atropelados, e depois reconquistados, e mais uma vez atropelados, e reconquistados, e...

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Na conquista do terceiro mandado, Marconi Perillo tanto fez que era o Iris da vez, contra outro Iris, remoçado com as derrotas para o Senado e o governo. Marconi não venceu: como aluno aplicado de Maquiavel, tomou o poder; fez o diabo, e ganhou porque, diz o professor, feio é perder.

Marconi Perillo cantou vitória então com Carlinhos Cachoeira. Não só com Cachoeira. Com tantos outros que nem o maior de seus inimigos imaginava. Com gente que espantou inclusive amigos do peito, que preferiram nem participar do governo. De um (que está calado e quieto, observando tudo de longe), ouvi, em segredo de amizade fraterna: “Eu, no governo? Tá doido? Não quero sair algemado!”

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Em quase 16 anos no poder, Marconi Perillo mudou muito. Sou testemunha. Mudou de opinião, mudou de companheiros políticos, mudou de amigos. Basta uma olhada no governo atual para se encontrar encastelados em cargos de proa bastiões do áureos tempos do PMDB.

A ponto de se poder dizer que Marconi ajudou na renovação – ainda que cambaleante – peemedebista. Inclusive na renovação dos que pintavam de novo sem ser, e que foram subtraídos para seus braços antes que envelhecessem na prática o atual PMDB.

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O Marconi Perillo que se vê hoje é um velho raivoso, obcecado com o poder de que se acha merecedor – tanto quanto Iris, em 1998 –, alguém disposto a vender a alma a Cachoeira e outras famílias, sócios o quem der mais para voltar e se perpetuar no trono, e que é capaz de bater em jovens que bradam um simples... #ForaMarconi!

Eu não conheço mais Marconi Perillo. O rapaz de sorriso fácil e gesto determinado é agora um senhor duro, com cara de mal, que contrata jagunços que nem sabem escrever para assassinar reputações em nome de uma honra, a sua, que se enleva nas cascatas de elogios e bajulações, e que se alimentam de cheques, contracheques e gordas verbas públicas muito bem direcionadas.

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Contrata mais jagunços que se escondem atrás de outros porque são covardes o bastante para colocar a cara e encarar os antes ‘amigos’, quer dizer, os agora inimigos de ocasião, por conta (bancária) da situação. Jagunços de toda ordem, enfim, no Palácio ou em redes.

Acreditem, Marconi Perillo, este devoto de Nossa Senhora D’Abadia, já foi peregrino no caminho da salvação. Hoje não peregrina mais. Hoje corre desesperado ainda em busca da salvação. Dos goianos? Não. De si próprio.

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Mas a salvação de Marconi não está em uma CPI, muito menos nas mãos de Kakai. A salvação está na volta ao tempo. Ao tempo novo de 1998. Bons tempos que não voltam mais...

Confesso. Tenho saudade desse tempo. Velho tempo, tempo velho, o que já era. Como Marconi já foi e jamais será de novo.

 

* Vassil Oliveira é jornalista

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