Nogueira defende novo critério na publicidade oficial

Ex-diretor da Globo, jornalista Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, entrou no debate sobre a distribuição de recursos da publicidade oficial; segundo ele, o modelo atual "mantém um exército jornalístico que vai de Arnaldo Jabor a Merval Pereira – e que é inteiramente dedicado a perpetuar um Brasil injusto, desigual, iníquo com uma pregação cotidiana enviesada, tendenciosa e desonesta"

Nogueira defende novo critério na publicidade oficial
Nogueira defende novo critério na publicidade oficial


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247 - Ex-diretor da Editora Globo, o jornalista Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, defende um novo critério para a distribuição da publicidade oficial e afirma que o modelo atual favorece a Globo. Leia abaixo:

Por que a distribuição da publicidade do governo tem que mudar

Por Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo

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Num vídeo recente, Lula aparece falando num encontro do PT.

Ele se refere, em certo momento, à publicidade oficial. E diz que nenhum veículo deixou de receber dinheiro por criticá-lo.

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Pela quantidade de vezes que volta ao tema, fica claro que Lula se orgulha disso.

Mas é um assunto um pouco mais complexo.

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As administrações do PT seguiram, essencialmente, as placas na distribuição do dinheiro da publicidade.

O problema é que as placas refletiam práticas monopolistas — e muitas vezes corrompidas — em todas as mídias.

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Na televisão, por exemplo, a Globo alcançara na publicidade uma dominância formidável graças a uma propina legalizada chamada BV, Bônus por Volume.

Foi uma invenção de Roberto Marinho, e o objetivo foi acorrentar as agências à Globo.

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Quanto mais uma agência anuncia na Globo, maior o bônus – ou propina – que recebe.

Esta a lógica.

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Quando a publicidade clássica entrou numa crise da qual jamais se recuperaria, em meados da década de 1980, o BV da Globo passou a ser um fator de sobrevivência para a maior parte das agências.

Isso configura, entre outras coisas, concorrência desleal, mas concorrer não é exatamente um atributo da Globo e demais companhias de mídia. Até hoje elas gozam de uma bizarra, anacrônica, patética reserva de mercado.

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Como más práticas logo se espalham, as demais empresas seguiram Roberto Marinho na adoção do BV – sem jamais chegar perto, é verdade,  dos resultados da Globo.

Este era o quadro quando o PT assumiu.

Fazia sentido manter uma distorção nascida de uma prática visceralmente corrupta, o BV?

Não fazia, mas foi o que ocorreu.

Nos dez anos de PT, segundo um levantamento oficial, a Globo – mesmo com audiências menores em todas as plataformas, bombardeadas pela internet – recebeu 6 bilhões de reais em publicidade do governo.

Isso mantém um exército jornalístico que vai de Arnaldo Jabor a Merval Pereira – e que é inteiramente dedicado a perpetuar um Brasil injusto, desigual, iníquo com uma pregação cotidiana enviesada, tendenciosa e desonesta.

A sociedade é prejudicada. Então de novo: a administração Lula não deveria ter levado decência para a distribuição da verba publicitária?

Ouça um vídeo de Jabor e você fatalmente dirá: claro que deveria.

Mas isso não foi feito.

Nada, aliás, foi feito.

O problema, por incrível que pareça, aumentou.

Considere. A internet é um freio à mídia corporativa. No mercado como um todo, a fatia da internet na publicidade brasileira já ultrapassa a marca de 12% do total.

Os anunciantes acompanham – com uma certa lentidão – o movimento de seus consumidores rumo à internet. Os consumidores ficam mais e mais na internet e menos nas demais mídias – jornais, revistas, rádio e mesmo tevê.

Mas nas verbas governamentais, conforme os números oficiais de 2012, a internet não vai além de 5%, e a maior parte disso termina nos sites da mídia corporativa.

Mais uma vez: faz sentido?

Não.

Primeiro porque o governo deveria, como os demais anunciantes, acompanhar a marcha rumo à internet, para que sua publicidade seja mais vista, mais lida e mais ouvida porque os consumidores estão conectados.

Segundo porque a sociedade precisa – desesperadamente – da voz alternativa do jornalismo digital.

Ela força, ela acelera o processo de transparência de que o país tanto necessita.

Sem a internet, não saberíamos que o STF pagou uma viagem com dinheiro público para uma jornalista da Globo para que escrevesse textos (favoráveis) sobre uma visita irrelevante de Joaquim Barbosa à Costa Rica.

Modéstia à parte, a revelação foi do Diário.

Sem a internet, e parabéns ao blog O Cafezinho, não saberíamos que a Receita multou a Globo em cerca de 250 milhões de reais por conta de uma trapaça fiscal na compra dos direitos da Copa de 2002.

A sociedade se beneficia da vigilância do jornalismo digital.

Os 5% da internet nas verbas governamentais, por tudo isso, são um erro, um grande erro – assim como tem sido um equívoco a manutenção da situação de dez anos atrás, nascida do monopólio, da propina que atende por BV e da falta de concorrência.

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