Aos 45 anos, Veja esquece a sua história

Na época ainda não tinha sido inventada a expressão “mídia golpista”, até porque estávamos todos, da esquerda radical ao liberal mais democrata, empenhados numa luta comum contra a ditadura



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

A Veja que está nas bancas vem acompanhada de um calhamaço de mais de 290 páginas, sendo que pelo menos 1/3 de propaganda, contando a história dela mesma. 

Uma comemoração gloriosa  para uma senhora que completa  45 anos e se diz em plena forma –  a quantidade de anúncios é, sem dúvida, um sinal de vitalidade desse semanário que, nos áureos tempos, chegou a ter circulação de 1 milhão de exemplares. 

Nós,  a conhecemos desde a sua gestação. Isso significa que estivemos presentes a partir dos chamados números zero da revista e a acompanhamos durante quase oito anos. 

continua após o anúncio

Na época ainda não tinha sido inventada a expressão “mídia golpista”, até porque estávamos todos, da esquerda radical ao liberal mais democrata,  empenhados numa luta comum contra a ditadura. 

Veja esteve sob a severa vigilância da censura do regime militar desde o número em que noticiou o AI-5, na edição com data de capa de 18 de dezembro de 1968, à edição de 2 de junho de 1976.  Isso tudo, a revista lembra com um justificado orgulho.

continua após o anúncio

Ao contar a sua história, no entanto, Veja deixa de mencionar aspectos outros aspectos que nos parecem interessantes  e que colaborariam por dar um tom ainda mais épico à sua caminhada. 

Poderia aproveitar esse aniversário para lembrar as  dificuldades de quem ousou lançar no mercado uma revistinha com escassas ilustrações, a maioria em preto e branco, textos muito longos. 

continua após o anúncio

Uma publicação que tentava repetir no Brasil o sucesso do padrão Time-Newsweek,  no formato revista semanal  newsmagazine , sucesso nos EUA e que, foi, diga-se, de  imediato rejeitado pelos leitores brasileiros. 

Lançada com um estardalhaço único da história da mídia – 5 minutos de propaganda simultânea em todos os canais de tevê no domingo à noite - o leitor ficou chocado com o que viu. 

continua após o anúncio

Ele esperava uma revista grandulhona, entupida de fotos, algo como um super Paris-Match. Ou uma Life policromática.

A propaganda vendeu 650 mil exemplares. Fez-se nova rodagem, de mais 150 mil. Esgotada.  Na semana seguinte, vendeu 350 mil. Na outra, a metade disso. 

continua após o anúncio

Resumo. A revista foi se desmilinguindo semana após semana. Perdia milhares de leitores a cada edição.

O diretor comercial, o sempre bem humorado Paulo Augusto de Almeida, fazia diagnósticos semanais, claro que reservados aos ouvidos da direção. 

continua após o anúncio

Os números e a análise do departamento comercial soavam como um alerta vermelho piscando com insistência.

“ Por enquanto, não adianta fazer nada, anúncio, promoção, relançamento, nada…Precisamos chegar no fundo do poço”. Esse era o diagnóstico do Paulo Augusto.

continua após o anúncio

É fácil imaginar a tensão vivida pela redação dentro daquele imenso porta-aviões, com uma tripulação selecionada a dedo de cerca de 150 pessoas, que afundava a cada semana ali na Marginal do Tietê, perto da Ponte do Piqueri. 

O lançamento de Veja coincidira com a mudança para o então novo prédio da Editora Abril, onde ainda hoje funciona uma parte da gráfica. Até a redação chegavam apenas os rumores de que o naufrágio era não só plausível, como iminente. 

Estávamos todos olhando para o fundo poço…Quando – e como -  chegaríamos lá? 

Ainda hoje há dúvidas sobre o “fundo do poço”. Na redação falava-se em 28 mil exemplares, número que acabaria sendo consagrado como extra-oficial. No entanto, certa vez, numa conversa, o Paulo Augusto, relembrando aqueles dias de terror,  confidenciou que o buraco ficava mais em baixo.

Houve uma semana em que a Veja, entre vendas em banca e assinaturas, caiu para uma circulação de 19 mil exemplares.

E aí começam as dúvida. Qual a capa que vendeu menos?  A que marcou o definitivo fundo do poço?

Há quem aposte na capa em que o então ministro do Planejamento, Reis Veloso, responsável pelos recém- lançados “projetos-impacto”, aparecia vestido como se estivesse prestes a dizer “Shazam”.

Essa capa valeu a Reis Veloso o apelido de Capitão Marvel, dado pelo seu colega, ministro, Delfim Netto. 

Na época ambos ainda passavam a maior parte do tempo no Rio de Janeiro, na antiga sede do Ministério da Fazenda, Reis Veloso no sexto andar, Delfim no décimo. 

Delfim sempre chegou aos ministérios que ocupou no mais tardar às 7 da manhã. Tinha assim uma vantagem de 2 ou até 3 horas para espalhar cascas de banana ou comentários irônicos pelo caminho para seus “colegas” escorregarem. Era seu estilo.

Mas estamos avançando depressa demais. Teríamos de  contar, por exemplo, como a revista começou sua lenta e sofrida escalada para sair do fundo do poço. 

Teríamos de contar tanta coisa ...

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247