Safatle: poder teológico-político não é risco só em países muçulmanos
Vladimir Safatle destaca o perigo da eleição de Marcelo Crivella, pastor da Igreja Universal e sobrinho de Edir Macedo, para a Prefeitura do Rio; Para Safatle, a Universal e outras igrejas têm um projeto de poder claro no desmonte da capacidade de assistência social do Estado brasileiro:"assim, igrejas como a dele serão, ao final, as únicas responsáveis pela assistência social, criando uma relação perversa de dependência de populações carentes que se verão diante de um Estado cuja única função será deixar os ricos cada vez mais ricos"
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247 - A mistura de política e religião é uma cominação perigosa não apenas nos países muçulmanos e é cada vez mais evidente no Brasil, analisa Vladimir Safatle em sua coluna na Folha de S.Paulo. Ele destaca a presença cada vez mais forte de pastores-deputados aliados saudosos da ditadura militar e diz que o maior isco, hoje, é a eleição de Marcelo Crivella, pastor da Igreja Universal e sobrinho de Edir Macedo, para a Prefeitura do Rio de Janeiro. Segundo Safatle, a Universal e outras igrejas têm um projeto de poder claro no desmonte da capacidade de assistência social do Estado brasileiro. "Pois, assim, igrejas como a dele serão, ao final, as únicas responsáveis pela assistência social, criando uma relação perversa de dependência de populações carentes que se verão diante de um Estado cuja única função será deixar os ricos cada vez mais ricos."
"Tal consolidação do poder teológico-político alcançará um grau inaudito caso o pastor Marcelo Crivella seja eleito prefeito da segunda maior cidade do país.
Ele é, na verdade, o principal representante político de um megaempreendimento religioso chamado Igreja Universal do Reino de Deus, comandado por seu tio, o arquiconhecido Edir Macedo. Sua eleição significa que a cidade mais emblemática do Brasil será governada pela Igreja Universal.
Alguém poderia perguntar qual o problema com o fato de um igreja governar o Rio de Janeiro. Afinal, Genebra foi governada por Calvino. Mas a Universal tem suas peculiaridades. Seu líder, cuja fortuna foi estimada pela revista "Forbes", em 2013, em R$ 2 bilhões, foi preso nos anos 1990 por charlatanismo, estelionato e curandeirismo.
Posteriormente, foi denunciado várias vezes pelo Ministério Público por crimes que vão de importação fraudulenta, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Crivella é o representante maior dessa associação com condutas, no mínimo, passíveis de questionamento judicial.
Mas não é só a obscuridade ética que ronda a Igreja Universal. Detentora de redes de televisão e emissoras de rádio, a igreja se consolidou, sob os governos Lula e Dilma, como um poder político terreno incontornável. Um poder que procura cada vez mais impor sua agenda ao país e que nada tem a ver com a ideia de uma república laica, plural e radicalmente tolerante."
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