Janio de Freitas pede transparência na imprensa

Decano dos jornalistas brasileiros e membro do conselho editorial da Folha, ele abre uma discusso relevante nos grandes jornais ao dizer que marginais, quando oferecem algum tipo de informao, servem prpria marginalidade

 Janio de Freitas pede transparência na imprensa
Janio de Freitas pede transparência na imprensa (Foto: Divulgação)


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247 – Nascido em 1932, Jânio de Freitas é, aos 80 anos, um dos mais ativos e respeitados profissionais da imprensa brasileira. Como jornalista, ele já passou por publicações como Manchete, Jornal do Brasil e Correio da Manhã. Hoje, além de colunista, é membro do conselho editorial da Folha de S. Paulo, onde acaba de abrir uma discussão relevante, ao pedir transparência nos meios de comunicação. “Não há motivo para que a imprensa brasileira seja tão omissa quando trata da transparência de si mesma”.

Seu artigo desta terça-feira, 17 de abril, intitulado “Imprensas”, é uma resposta direta à capa de Veja, em que a revista defende relações de seus profissionais, em especial do jornalista Policarpo Júnior, com o círculo do bicheiro Carlos Cachoeira.

Eis o que diz Veja, na capa desta semana, que denuncia supostos ataques à liberdade de expressão embutidos na CPI sobre o caso Carlos Cachoeira:

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“Qualquer repórter iniciante sabe que maus cidadãos podem ser portadores de boas informações. As chances de um repórter obter informações verdadeiras sobre um ato de corrupção com quem participou dele são muito maiores do que com quem nunca esteve envolvido. A ética do jornalista não pode variar conforme a ética da fonte que está lhe dando informações. Isso é básico. Disso sabem os promotores que, valendo-se do mecanismo da delação premiada, obtêm informações valiosas de um criminoso, oferecendo-lhe em troca recompensas como o abrandamento da pena.”

Segundo Janio de Freitas, não é tão básico assim. Eis o que diz o decano dos jornalistas brasileiros:

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“A depender das circunstâncias, o contato com a marginalidade pode ser jornalístico e legítimo. Não há como saber se o é na maioria ou na minoria das vezes. Mas sempre deveria estar, e não está, submetido ao cuidado de ponderar sobre a finalidade de quem dá a informação. Na marginalidade, a tendência do propósito é servir à própria marginalidade. E, quando é assim, o jornalista e sua publicação servem também à marginalidade.”

A discussão é complexa e delicada. Em geral, por trás dos gigantes interesses comerciais e políticos da marginalidade, há um quê de interesse público – não fosse assim, as reportagens não seriam publicadas. Mas, em geral, o interesse público é um troco diante do interesse privado. E o caso se torna ainda mais grave quando as evidências surgem a partir de grampos clandestinos e, portanto, ilegais.

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Eis alguns casos recentes que ganharam destaque no jornalismo investigativo no Brasil:

1) Grampos do BNDES, 1998 – A Folha os publicou sabendo que eram ilícitos. Tomou tal decisão em nome do interesse público, que era revelar bastidores da privatização. Não revelou, no entanto, que o interesse oculto era impedir que o BNDES recomprasse as ações da chamadas telegangue (La Fonte, Andrade Gutierrez, Macal e Inepar) na Oi, que chegou à privatização sem recursos. Hoje, este grupo, liderado pelos empresários Carlos Jereissati e Sérgio Andrade, controla metade da telefonia no Brasil.

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2) Caso Roseana, 2002 – Época divulgou as cenas do dinheiro apreendido na Lunus, que implodiram a candidatura de Roseana Sarney. O interesse oculto era atrair o antigo PFL para a candidatura de José Serra.

3) Waldomiro Diniz, 2004 – Ex-assessor da Casa Civil foi gravado pedindo propina na época em que era assessor da Loterj, no Rio de Janeiro. A divulgação, na revista Veja, serviu aos interesses da multinacional americana GTech e do bicheiro Carlos Cachoeira, que tentavam renovar um contrato milionário na Caixa Econômica Federal, o que conseguiram.

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4) Maurício Marinho, 2005 – Veja publicou a cena do ex-funcionário dos Correios recebendo R$ 3 mil, que também foi filmada pela gangue de Cachoeira. O bicheiro tinha interesse em fazer do senador Demóstenes Torres secretário Nacional de Justiça, cargo em que o parlamentar poderia se dedicar à liberação do jogo no Brasil.

Estes são apenas alguns exemplos recentes que ganharam destaque nas páginas dos principais jornais revistas do País. Os jornalistas, que tanto cobram transparência dos outros poderes, não deveriam se furtar à discussão.

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