Será que são só 99 os erros diários da Folha?

Na manchete deste domingo, o jornal da família Frias não encontrou assunto melhor para sua manchete do que uma discussão estéril sobre se raios causam ou não apagões; internamente, o texto da ombudsman Suzana Singer revela que cada edição diária traz, em média, 99 erros de informação; talvez seja bem mais que isso...

Será que são só 99 os erros diários da Folha?
Será que são só 99 os erros diários da Folha?


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247 - No início deste ano, todos estão lembrados, a Folha anunciou que o Brasil enfrentaria um racionamento de energia semelhante ao do governo FHC, em 2001. Depois disso, quando os temores se mostraram infundados, a Folha passou a prever apagões em séria. Em seguida, apaguinhos. Por fim, com a volta das chuvas e o acionamento das térmicas, o tema foi esquecido.

Neste domingo, talvez por falta de assunto, a Folha decidiu retomar a questão elétrica, em sua manchete principal. E usou um documento de Furnas para provar que, ao contrário do que dizia a presidente Dilma Rousseff, raios podem, sim, causar apagões. No ano passado, Dilma afirmou: "No dia em que falarem para vocês que caiu um raio, vocês gargalhem. Cai raio todo dia nesse país. Raio não pode desligar o sistema, se desligou, é falha humana". A Folha, no entanto, usou um documento de Furnas que atribui a raios referido apagão – talvez porque a empresa buscasse escapar de alguma punição do Operador Nacional do Sistema.

A discussão sobre raios e apagões talvez seja tão importante quanto o sexo dos anjos, mas o fato é que está na manchete da Folha para que o jornal prove que está certo e a presidente, errada. Curiosamente, na mesma Folha, a ombudsman Suzana Singer fala sobre um estudo que aponta 99 erros diários de informação no jornal. Talvez seja um poquinho mais...

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Abaixo, o texto sobre a polêmica no setor elétrico:

FOLHA TRANSPARÊNCIA

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Relatório contraria Dilma e diz que raio causou apagão

Presidente dissera que blecaute que afetou 12 Estados em 2012 foi falha humana

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Análise obtida por meio da Lei de Acesso à Informação reafirma posição do diretor-geral do ONS em dezembro

JÚLIA BORBA

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DE BRASÍLIA

Ao contrário do que declarou publicamente a presidente Dilma Rousseff, raios podem deixar o país às escuras, segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).

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Análise do órgão obtida pela Folha sobre o último apagão de 2012, em 15 de dezembro, revela que foi justamente uma "interferência eletromagnética" que levou mais de 3,5 milhões de consumidores, em 12 Estados, a ficar sem luz por uma hora.

"No instante da perturbação havia uma sequência de descargas atmosféricas na região", cita o relatório, do ONS, responsável pela coordenação e pelo controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica.

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Com isso, "o sistema de proteção automático da usina desligou 5 das 6 unidades geradoras [equipamentos responsáveis por gerar energia]".

No ano passado, Dilma chegou a comentar esse apagão: "No dia em que falarem para vocês que caiu um raio, vocês gargalhem. Cai raio todo dia nesse país. Raio não pode desligar o sistema, se desligou, é falha humana".

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Indiretamente, Dilma rebatia as afirmações do diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, e do próprio secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Ildo Grüdtner, que já haviam apontado os raios como motivo para a falha.

A presidente disse ainda ter visto o mapa da distribuição dos raios pelo país no dia em que houve o problema.

"Não é sério dizer que a culpa é do raio."

Por meio da Lei de Acesso à Informação, a Folha recebeu sete análises do ONS sobre falhas no fornecimento de energia do segundo semestre de 2012.

O apagão a que a presidente se referia teve origem na hidrelétrica Itumbiara, no rio Paranaíba, entre Itumbiara (GO) e Araporã (MG).

DESCARGAS

O texto afirma que Furnas, empresa responsável pela usina, precisa diagnosticar por que a interferência de corrente elétrica acionou o sistema de proteção.

Ao Ministério de Minas e Energia Furnas também atribuiu a falha a "provável surto em razão das condições atmosféricas adversas com descargas atmosféricas".

Os efeitos do desligamento em Itumbiara foram tão severos que levaram a perda de sincronismo no sistema elétrico nacional, separando-o em três "ilhas".

Em outro caso de interrupção no fornecimento de energia, ocorrido no Espírito Santo e no Rio, em 31 de outubro, um raio foi mais uma vez apontado pelo ONS como uma das causas do apagão.

Dessa vez, entretanto, a perturbação começou com curto-circuito em linha de transmissão entre Campos (RJ) e Cachoeiro de Itapemirim (ES).

Quando a falha ocorreu, outra linha da usina de Campos não respondeu aos comandos, pois já havia sido desligada devido a rupturas dos cabos que ocorreu após "descarga atmosférica".

Abaixo, o texto da ombudsman Suzana Singer:

99 erros

Estudo mostra que cada página da Folha traz duas informações incorretas; só 3% dos erros são corrigidos

Não era Leonardo Medeiros, era Leonardo Moreira. Cesar Maia nunca foi governador do Rio. O investimento para a Expo-2020 é de R$ 24 bilhões, e não de R$ 24 milhões. O parque Ibirapuera é cem vezes maior do que se disse.

Quem lê a Folha está habituado a encontrar correções como essas, publicadas nas últimas semanas. Diariamente, saem três ou quatro "erramos", ao pé do "Painel do Leitor", mas, sabemos bem, isso é apenas a ponta do iceberg.

Para descobrir o tamanho da montanha diária de erros, a Folha reuniu uma equipe que refez a apuração de todos os textos publicados em três edições do ano passado.

Os jornalistas conversaram com entrevistados, consultaram dados de sites oficiais, revisaram traduções, refizeram contas e até assistiram a partidas de futebol para conferir as descrições em "Esporte".

Como o foco eram os erros de informação, foram ignorados os problemas de português e de padronização. Resultado: a Folha publica 99 informações erradas por edição. Dá, em média, dois erros por página editorial (sem anúncio).

Por ser trabalhoso e caro, o estudo, apelidado internamente de "autópsia de uma edição", só havia sido feito uma vez, entre 1997 e 1998. Naquela época, foram encontrados 105 erros por edição.

Em 15 anos, pouca coisa mudou. Uma queda de 6% não é motivo de comemoração, já que hoje, com a internet, é mais fácil checar dados.

A maior parcela dos erros, no passado e agora, está nos "serviços": roteiro de cinema, programação de TV, preços de passagem aérea etc. É o que mais irrita o leitor, porque o faz perder tempo.

Na quinta-feira passada, quem consultou o "Acontece" e tentou ligar para o Cine Segall ouviu uma gravação avisando que o número mudou. Quem foi ao cinema no Shopping JK Iguatemi pagou pelo ingresso mais do que estava no jornal.

Uma checagem mais rígida diminuiria esses erros, mas parte da responsabilidade pelas informações desatualizadas é dos próprios cinemas, que mudam a programação depois que as edições da "Ilustrada" e do "Guia" estão concluídas.

Grafia de nomes, confusão entre números e problemas de edição são outros mananciais de erros que poderiam ser combatidos com apuração e revisão mais cuidadosas.

Cabe ao jornal estabelecer metas de diminuição de erros, mas não adianta sonhar com o "erro zero", porque a quantidade de informação publicada é enorme. Uma edição de quarta-feira da Folha tem praticamente o mesmo número de caracteres que "Os Lusíadas". Aos domingos, a Redação produz 30% a mais que a obra de Luís de Camões.

Se não há perfeição, a transparência na correção é a garantia de qualidade do produto. O estudo mostra que, em média, os "erramos" correspondem a apenas 3% dos erros cometidos.

É preciso estimular os leitores e as fontes de informação a apontar incorreções e, assim que forem detectadas, corrigi-las sem eufemismo. Dos grandes órgãos de comunicação do país, a Folha é o que mais se corrige, o que é sinal de saúde, não de doença. Como notou Arthur Brisbane, ex-ombudsman do "New York Times", "por mais paradoxal que pareça, quanto mais correções você vir no jornal, melhor".

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