Gaspari sente falta de uma Thatcher no Brasil

Para escritor, a primeira-ministra ajudou a construir um país com um conservadorismo autêntico enquanto que, de evento em evento, a plutocracia brasileira safou-se da bancarrota econômica e política da ditadura

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247 – O que seria do Brasil se a ditadura militar tivesse seguido os passos conservadores de Margareth Thacther no Reino Unido? É o que questiona o escritor Elio Gaspari em artigo na Folha. Leia:

A falta que faz ao Brasil uma Thatcher

Conservadores de verdade ajudam a construir um país; os de Pindorama são de mentirinha, e desgraçam-no

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MARGARET THATCHER foi criada atrás do balcão da armazém de seu pai. Tinha horror a consenso, deficit, inflação, sindicatos, empresas estatais, socialismo e desordem. Em 1975, ela conquistou a liderança do Partido Conservador, quatro anos depois tornou-se primeira-ministra e derrotou-os todos.

O Brasil vivia a mais longa ditadura de sua história e nenhum dos cinco generais que governavam o país, bem como os políticos e empresários que os apoiavam, assumiram-se como conservadores. No máximo diziam-se centristas. Era a jabuticabeira plantada em 1964: uma ditadura em nome da democracia.

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Na origem da baronesa Thatcher esteve a figura esquecida de Keith Joseph (1918-1994), um agitador de ideias que encerrou o conservadorismo moderado de seu partido. Em 1974, criou um foro de debates, o Centre for Policy Studies, com uma plataforma simples: a direita tinha que ir para a direita, sem flertes. Quando tivesse votos, prevaleceria. Cinco anos depois, teve-os. Em Washington, intelectuais e empresários haviam criado uma instituição parecida, a Heritage Foundation. No seu elenco estava o ex-ator de cinema Ronald Reagan. Juntas, as duas instituições trabalhavam com um orçamento anual de 563 mil dólares.

Em 1975, noves fora as dezenas de visitas do embaixador da Federação das Indústrias de São Paulo ao DOPS, o governo e a plutocracia nacional organizavam eventos. Torraram pelo menos cinco milhões de dólares organizando um seminário internacional que reuniu magnatas em Salzburgo. O maestro Herbert von Karajan cancelou os ensaios da Filarmônica de Viena para liberar a sala da Konzerthaus. Baixaram na pequena cidade dois mil banqueiros e empresários americanos, europeus e brasileiros. A comitiva nacional teve três ministros e trezentas pessoas. O Banco do Brasil mandou nove representantes. (O Wikileaks acaba de mostrar que a Câmara de Comércio Americana só patrocinou a festa porque pretendia alavancar pleitos em Brasília.) A festa foi concebida e organizada pelo empresário Mário Garnero, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos. Ele diria: "Nem Mozart deve ter levado, num só dia, tanta gente à Konzertaus". Vinte e oito anos depois, Garnero organizaria, com sucesso, o discreto evento da aproximação do comissariado do Partido dos Trabalhadores com a Casa Branca de George W. Bush.

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De evento em evento, a plutocracia brasileira safou-se da bancarrota econômica e política da ditadura. No ano da festa de Salzburgo, o Citibank, desprezando as próprias regras, dobrou sua carteira de empréstimos ao Brasil. Em 1984 um de seus diretores tornou-se chefe do cartel que cobrava o calote.

Thatcher e Keith Joseph foram o que foram porque chutaram o conservadorismo fingido e foram atrás do voto popular. Deus negou a Pindorama esse tipo de direita. Quando seu andar de cima organizou a festa de Salzburgo, não convidou para o evento um morador da cidade, o economista Friedrich von Hayek. Ele vivia no andar de baixo, numa casa que pertencera a um bombeiro, comprada com a venda de sua biblioteca. O autor de "O Caminho da Servidão", monumental manifesto liberal, poderia ensinar-lhes algumas coisas, mas talvez achassem que economista pobre é economista burro.

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