‘Anastasia: um homem menor’

Em artigo no Brasil de Fato, João Paulo Cunha destaca o senador Antonio Anastasia lançou sua pré-candidatura ao governo de Minas Gerais com festa, mas que "a maior presença no evento que marcou o lançamento de sua candidatura foi uma ausência", que ele chama de "o vazio de Aécio Neves"

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aecio
anastasia aecio (Foto: Voney Malta)


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Brasil de Fato/João Paulo Cunha - O senador Antonio Anastasia é pré-candidato tucano ao governo de Minas Gerais. Foi lançado com festa. Mas com barrados no baile. A maior presença no evento que marcou o lançamento de sua candidatura foi uma ausência. Como num buraco negro, não era o brilho da estrela que contava, mas o vórtice de escuridão que sugava toda a energia, como uma ameaça de destruição. Mais que o próprio pré-candidato, o destaque foi o vazio de Aécio Neves.

Homem a ser evitado, Aécio sabia que sua participação na solenidade comprometeria seu seguidor mais fiel. Se é que se pode chamar de fiel alguém que dá as costas ao amigo no momento mais difícil de sua vida. Os fatos já demonstraram que o ex-governador, hoje réu, não merece mesmo consideração. Anastasia, agora, deixa claro que aprendeu com o mestre as lições pragmáticas do egoísmo e do descarte. Quem não se lembra da ameaça de morte de Aécio ao primo que se prestou a mula de propina? Havia humor ali, é certo, mas de um tipo que causa asco.

No entanto, Anastasia não é apenas ingrato. Quer ser esperto. Sua intenção de se descolar da figura de seu mentor é uma operação impossível. O atual postulante tucano é obra de seu criador. Sua vida pública pode ser dividida em dois momentos, antes e depois de Aécio. No primeiro momento de sua trajetória, a. A., construiu uma carreira de servidor público e professor de direito. Sempre fez questão de mostrar precocidade e inteligência. Era discreto, técnico, respeitado. Manteve o ar de menino prodígio, até que o prodígio se mostrasse convencional e a meninice certa infantilidade teatral no trato.

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Com essas credenciais, sem maior brilho que a dedicação à burocracia, conquistou postos públicos de destaque até se aproximar de Aécio Neves, como uma espécie de âncora de credibilidade. Quando duas frutas são postas lado a lado num cesto, o certo é que a podridão de uma tome conta da sanidade da outra, não o contrário. Anastasia não tornou Aécio mais ético, aprendeu com ele as lições do bolor moral. Além de professor considerado, o pré-candidato sempre foi bom aluno. Tomou lição de um mestre e fez no governo o que dele se esperava.

Anastasia sempre fez o que dele se esperava.

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Começa, então, a fase d.A. O maior exemplo de sua submissão foi se responsabilizar pela relatoria do impeachment de Dilma Rousseff no Senado. Fez o serviço sujo, dando sustentação a um pedido inepto, com um relatório atravessado de má-fé. O que ele identificou na gestão financeira da presidenta é troco perto do que deixou como legado em Minas Gerais. Ainda faz parte da memória nacional o ar orgulhoso de Aécio circulando pelo Senado como quem se jacta do trabalho de seu garoto.

Anastasia trocou a ética pela ambição. O que um dia havia sido uma biografia se tornou a memória de uma indignidade. O que mais pesa contra ele não é a defesa do impeachment, mas o fato de sustentar essa operação contra a própria consciência moral e conhecimento jurídico. Mais ainda: contra suas próprias atitudes como gestor. Ele agiu de costas para o direito.

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Ao dar novamente as costas, dessa vez para seu patrono político, o pré-candidato tucano sobe um degrau na escada da política feita de interesses. Para quem sempre emulou o ídolo, chegou a hora de superá-lo. Fiador de mentiras hoje consagradas, como choque gestão e o déficit zero, Anastasia não foi apenas um gestor de quimeras. Há um momento em que o monstro criou vida. Do bastidor para a cena principal, como governador, ele aprofundou os descaminhos fiscais do estado e aumentou a dívida em escala que até hoje impacta as contas públicas.

Suas pegadas estão presentes em vários fatos graves da administração de Minas Gerais, do aumento da dívida previdenciária com a extinção de fundos e incorporação de recursos e aposentados ao tesouro, aos descaminhos na gestão das estatais. Sem falar do não cumprimento de metas orçamentárias na saúde, com o uso de chicanas contábeis. De servil vice-governador, ele se torna um condutor atilado da máquina. O que era desfaçatez em Aécio Neves se tornou método com o seguidor.

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A campanha para o governo de Minas vai ser uma oportunidade para conhecer outras facetas de Anastasia, além das já asseguradas pela história. Há um risco, real, que se revele uma figura ainda mais condenável que seu próprio criador. Em seus méritos, nunca foi mais que medíocre. Arrisca ser igualmente convencional em seus defeitos. Mas não se iluda quem acha que é um mal menor. É um homem menor. E muito mais perigoso.

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