Heróis ou traidores?

Mostrar ao mundo as atrocidades cometidas pelo governo norte-americano em relação a outras nações poderá causar a Bradley Manning e a Edward Snowden a perda da liberdade



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Iniciou-se esta semana o julgamento de Bradley Manning, o soldado norte-americano de 22 anos, ex-agente da Cia, detido desde 2010,  como o responsável pela divulgação à Wikileaks de milhares de documentos confidenciais sobre as guerras no Iraque e Afeganistão, entre muitos outros.

A ação do jovem soldado e seu tratamento por parte do governo movimenta o universo e coloca em cheque os padrões de segurança da rede de informações do Estado americano e os paradigmas de lealdade à Pátria acima de qualquer outro parâmetro de respeito aos direitos humanos e aos direitos dos cidadãos de acesso à informação da verdade dos fatos.

Visto por muitos como herói e por outros como traidor, Manning tem entre seus defensores celebridades como Maggie Gyllenhaal, Russell Brand, Oliver Stone e Moby. Eles e muitos outros que se manifestam pelas redes sociais parecem entender que a maneira como está sendo realizado o julgamento demonstra claramente a tentativa do governo norte-americano de ocultar as atrocidades cometidas pelos EUA divulgadas pelo Wikileaks.

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Quem deveria estar sendo julgado por crimes contra a humanidade é o governo dos EUA. No entanto, o que eles buscam no momento é colocar como crime maior o ato de colaborar para que estas atrocidades sejam do conhecimento de todos. Uma das mais famosas vazadas por Manning são vistas no vídeo conhecido  como "Collateral Murder"  (Assassinato Colateral), com cenas onde  militares norte-americanos num helicóptero Apache, assassinam 12 civis desarmados, dois dos quais jornalistas da Agência Reuters, e ferem duas crianças.

Este tipo de ação não interessa obviamente a grande imprensa americana. Antes de fazer contato com o WikiLeaks, Bradley tentou fazer com que os jornais Washington Post e New York Times publicassem os documentos, mas não recebeu resposta.

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Em audiência preliminar ao conselho de guerra, o analista de inteligência do Exército dos EUA, Bradley Manning relatou o inferno que passou nas mãos dos militares dos EUA: fiquei preso em uma jaula no Kuwait durante dois meses, onde dormía sempre com uma luz frontal apontada em minha direção. Se eu me movia para fugir da luz eles vinham me acordar. A maioria do tempo   restante devia ficar de pé ou sentado numa cama de metal com os pés no solo, sem apoiar-me em nada.

As declarações de Manning sobre suas razões de mostrar à humanidade o que estava acontecendo demonstram que a juventude tem algo que muitos perdem com o passar do tempo: a capacidade de se indignar com o que lhe parece cruel, nefasto, ou desumano.

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Perante o tribunal Manning disse: "Pensei que o vídeo pudesse levar a sociedade norte-americana a reconsiderar a necessidade de envolver-se em operações de antiterrorismo, sem nada saber sobre a situação humana das pessoas contra as quais disparam todos os dias... Fiquei muito perturbado, quando não vi qualquer reação por parte dos soldados ou da chefia militar diante de crianças feridas por seus disparos. Pareciam não dar valor algum à vida humana".

O objetivo do julgamento de Manning, ao que tudo indica, é provar que ele teria facilitado o acesso dos terroristas da Al Qaeda aos documentos confidenciais do governo e com isso aplicar sentença de prisão perpétua. A maioria das testemunhas da defesa foram rejeitadas, enquanto a acusação apresentará mais de 100, a maioria ligada aos serviços de inteligência. Nenhum documento ou relatório do governo poderá ser usado para provar que a segurança dos Estados Unidos não foi colocada em risco.

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E isso nem seria necessário se o julgamento não fosse dirigido para condenar Manning como espião e traidor. Após uma avaliação realizada em agosto de 2010, o então Secretário de Defesa, Robert Gates, sustentou que a publicação dos documentos pelo Wikileaks "não revelou fontes nem métodos de inteligência importantes".

O próprio Manning concordou em se declarar culpado pelo vazamento de documentos que ela acreditava a opinião pública deveria conhecer  mas não por acusações de espionagem e de colaboração com o inimigo.

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Os vazamentos têm crescido e aumentado seu teor de gravidade conforme a compreensão mundial a respeito dos métodos americanos se amplia. As recentes revelações de Edward Snowden foram ainda mais escandalosas que as revelações de Manning. Ele revelou ao jornal "The Guardian" um esquema de espionagem de dados telefônicos por parte do governo dos Estados Unidos.

A ONG Avaaz, que reúne petições e abaixo-assinados online para o mundo inteiro, organiza agora uma petição para que se proteja o ex-agente da CIA, atualmente exilado em Hong Kong. A intenção da organização é atingir a marca de 500 mil assinaturas, o que parece não ser difícil porque 300 mil pessoas já assinaram o documento.

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A petição diz que o ex-agente não deve ser tratado como "criminoso perigoso" mas sim como alguém que agiu com coragem em "nome do interesse público", e  exige ao presidente norte-americano, Barack Obama,  que Snowden, "seja tratado de forma justa, humana e de acordo com o devido processo legal".

A tentativa de se aplicar pena de prisão perpétua sobre Manning e Snowden, sob a acusação de "terem ajudado o inimigo"- apesar de não terem sido revelados dados sobre o sistema de informações de espionagem norte-americano - longe de calar as pessoas deverá aumentar o seu repúdio.

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As ações dos dois fazem lembrar o que fizeram Daniel Ellsberg (que divulgou os "Papéis do Pentágono", no qual se expunham as mentiras do governo Richard Nixon, nos anos de 1970, e que apressaram o fim da Guerra do Vietnam); e Mark Felt, o número dois do FBI de então, que revelou  a espionagem do Partido Democrata pelo Partido Republicano, provocando o escândalo de Watergate.

Não importa a que nacionalidade pertençam, as pessoas não são burras. Cada vez mais percebem que as desculpas criadas pelo governo norte-americano para justiçar o ataque e a invasão de outras Nações, e humilhar seus cidadãos, tem sempre uma razão comum: a razão do capital, princípio maior do imperialismo norte americano, absolutamente diferentes das razões humanitárias defendidas por Manning e Snowden, apesar de contrárias à hierarquia do Exército e do Estado.

Em 17 dezembro de 2010  a morte de um jovem tunisiano que se imolou em protesto contra o governo corrupto de seu país, entrou para a história como o marco de início da Primavera Árabe. A revista Time, reconheceu como Personagem do Ano, um manifestante, em termos genéricos. Nos EUA a história do país irá, com certeza, no futuro, mostrar a foto dos soldados e agentes da CIA, Manning e Snowden, como marcos do início de novos tempos para o povo e os governos norte americanos.

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