Desafio de substituir Chávez

O maior desafio de Nicolás Maduro não é derrotar Henrique Capriles na eleição presidencial venezuelana do próximo dia 14, mas impedir que, nos próximos anos, as conquistas da era chavista se percam



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O maior desafio de Nicolás Maduro não é derrotar Henrique Capriles na eleição presidencial venezuelana do próximo dia 14. Maduro é o favorito na disputa – afinal, foi indicado para a sucessão pelo próprio Hugo Chávez, que morreu em 5 de março, reconhecido pelo povo de seu país como o presidente que promoveu a distribuição da renda gerada pelo petróleo, combateu a fome e o analfabetismo e garantiu moradia, saúde e dignidade às classes mais sofridas da Venezuela.

O maior desafio de Nicolás Maduro é impedir que, nos próximos anos, essas conquistas da era chavista se percam, e a Venezuela seja novamente entregue a uma aristocracia corrupta e insensível – representada por Capriles.

Chávez, eleito e reeleito presidente sempre de forma democrática, rompeu radicalmente com a forma como a tradicional classe dirigente venezuelana geria o país: as benesses do petróleo divididas entre poucos privilegiados, e as migalhas para o restante do povo. Chávez inverteu essa lógica. Transformou a estatal petroleira PDVSA na principal financiadora dos programas sociais que – como também ocorreu no Brasil, nos governos Lula e Dilma – permitiram a milhares de venezuelanos escapar da situação de pobreza extrema a que haviam sido historicamente relegados.

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É por isso que a morte de Chávez, após dois anos de luta contra o câncer, causou tamanha comoção entre a imensa maioria da população da Venezuela. Mas é pelos mesmos motivos que sua morte foi celebrada nos bairros ricos de Caracas. A antiga elite viu na morte do líder popular a oportunidade de recuperar o poder e restaurar seu regime de desigualdade e injustiça.

Chávez foi um símbolo tão importante na batalha pela proliferação de governos populares e progressistas em todo o continente americano, que sua morte também foi comemorada por políticos republicanos nos EUA e por congressistas do DEM e do PSDB no Brasil, em um espetáculo de mau gosto e oportunismo. É um claro sinal da dimensão alcançada pela figura de Chávez e do medo que ela projetava nos setores mais retrógrados das Américas.

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Esses setores não alimentam grandes expectativas de uma vitória de Henrique Capriles na próxima eleição. Sabem que o povo da Venezuela é grato a Chávez e vai reconhecer em Nicolás Maduro – inclusive nas urnas – seu legítimo herdeiro político. Mas a elite e a mídia conservadoras acreditam que o chavismo não vai sobreviver muito tempo sem a liderança e sem o carisma de seu fundador. Trabalham pelo fracasso do futuro governo de Maduro, mesmo que isso resulte na piora da qualidade de vida de milhões de venezuelanos.

O futuro presidente da Venezuela vai ter de lidar com desafios concretos, cada vez mais próximos no horizonte. A oposição pode não se preocupar com isso – aliás, percebe-se, por seus atos e declarações, que torce para que o país entre em crise. Mas Maduro, que desde dezembro ocupa o cargo de presidente interino da nação, sabe que tem a responsabilidade de manter a Venezuela no rumo traçado por Chávez. Para isso, ele já anunciou que investirá US$ 1 bilhão na ampliação do Fundo Bicentenário, que foi criado por Chávez e destina recursos do petróleo para projetos socioprodutivos. Também pretende mudar o nome do fundo para "Fundo Bicentenário Alba-Mercosul" e ampliar as possibilidades de substituição de importações, avançando na questão do abastecimento de alimentos e visando tornar a Venezuela uma potência exportadora. Em outra frente, o atual presidente já declarou sua preocupação em adotar medidas para o controle da inflação e o combate à violência.

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Maduro também enfrentará desafios no campo político-militar. É preciso manter o apoio anunciado das forças armadas e consolidar a unidade do PSUV (Partido Socialista Unido de Venezuela), onde se concentram as forças políticas apoiadoras da revolução bolivariana liderada por Chávez. Não será pouca coisa, mas Maduro não deve esmorecer. Chávez assumiu o poder em uma Venezuela sem importância internacional e mergulhada em uma corrupção que parecia intrínseca ao caráter de seus dirigentes. Transformou o país em referência para todos aqueles que acreditam que a democracia deve ser exercida em favor da maioria.

E o comandante deixou clara sua estratégia para seguir transformando a Venezuela, promovendo o desenvolvimento de uma economia produtiva e com sentido socialista, fortalecendo sua contribuição com a unidade da América Latina e do Caribe. A luta de Maduro deve ser a luta de todos nós. Como gritava o povo durante o cortejo do corpo de Chávez pelas ruas de Caracas: "Chávez vive, la lucha sigue".

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