Atenção, aliados do PMDB: Dilma não é um pato manco

Na famosa gíria diplomática, pato manco é o presidente em final de mandato, que já cumpriu reeleição e sofre de popularidade declinante; decididamente, não é o caso da presidente Dilma Rousseff; recordista de aprovações nas pesquisas de opinião e disposta a concorrer, com garra, à reeleição em 2014, ela ainda conta com o apoio do igualmente popular Lula e superou seus problemas de relacionamento com o PT; quando os aliados do PMDB do vice-presidente Michel Temer, do presidente da Câmara, Henrique Alves, e do líder Eduardo Cunha vão perceber que erram feio quando jogam pressão clientelista sobre a presidente?; querem que desenhe?

Atenção, aliados do PMDB: Dilma não é um pato manco
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247 - Pato manco é uma das gírias mais engraçadas e politicamente definitivas do jargão diplomático. Representa o chefe de Executivo em final de mandato, sem direito à reeleição e com pouca influência sobre sua sucessão, em razão da popularidade declinante. Nos Estados Unidos pré-Barack Obama, o George W. Bush todo poderoso às vésperas de conseguir seu segundo mandato tornou-se um pato manco quatro anos depois, quando mal tinha influência sobre o seu partido republicano.

No Brasil, tem gente confundido as figuras. O PMDB, por exemplo. Segundo maior partido do Congresso, inferior em número de parlamentares ao PT, e sem a força do passado -- em 1986, por exemplo, quando José Sarney chefiava a Nação, a legenda fez nada menos que 22 dos 23 governadores eleitos naquele ano, mas hoje comanda apenas cinco Estados, ente os quais Rondônia e o Rio de Janeiro do ex-tucano Sergio Cabral --, ainda assim o PMDB, presidido pelo senador Valdir Raupp (RO) durante a licença do vice-presidente da República Michel Temer, enxerga uma presidente Dilma diferente do que realmente ela é.

Nesta sexta-feira 10, depois de comandar uma verdadeira balbúrdia no plenário da Câmara, resultando na suspensão da sessão que discutia a MP dos Portos, de interesse direto da presidente, o líder do PMDB, Eduardo Cunha, ainda saiu falando grosso. Procurado pelo jornal Valor Econômico, ele, que sempre foi econômico em entrevistas, mantendo largo distanciamento da imprensa, se viu na posição de disparar recados. Disse que a presidente comanda um governo que não faz política, é dominado pela tecnocracia e não dá cargos ao partido na administração pública. Senhor dos anéis, Cunha pontificou que, do jeito que estão as relações, para 2014 o PMDB tem de repensar sua posição de aliado do PT e de Dilma.

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À medida que não é, politicamente, quem Cunha está pensando, a presidente está pronta a fazer truco, a não ser que haja uma retratação. E ela tem todas as condições para isso. Egresso do PMDB fluminense, cuja cúpula é formada pelo governador Sergio Cabral e o prefeito da capital, Eduardo Paes, ex-PSDB, Cunha não aprendeu uma lição recente. Cartinha assinada pelo presidente do PMDB local, Jorge Picciani, lida sem repercussão na convenção nacional do partido, dois meses atrás, cai no vazio das provocações sem base política. Em combinação com Cabral e o vice-governador Luiz Fernando Pezão, Picciani tentou emparedar, simultaneamente, a presidente e o PT, ameaçando rejeitar a candidatura do senador Lindbergh Farias, do PT, ao governo do Estado, sob pena de rompimento de uma aliança que, até aqui, só tem favorecido o PMDB fluminense.

Na prática, a carta de Picciani foi rasgada assim que veio a público. O primeiro a dizer que o PT não mudaria em sequer um milímetro a sua posição no Rio foi o presidente nacional petista Rui Falcão. Em seguida, o ex-presidente Lula confirmou que o PMDB do Rio não está com essa bola toda para ditar padrões de comportamento para a sua legenda. E, por fim, a presidente Dilma deixou claro que, em nome da boa conviência, aceitaria analisar as chances de ter o chamado "palanque duplo" no Rio, apoiando o senador de seu partido sem tripudiar do vice-governador seu aliado, apesar de Lindbergh ser um dos favoritos nas pesquisas e Pezão, o lanterna.

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Eduardo Cunha, próximo do vice-presidente Michel Temer e do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, não entendeu ou desdenhou daquele primeiro momento de tensão. Como se não fosse, ele próprio, um dos pilares mais importantes para a manutenção dessa aliança, Cunha bateu no governo como se fosse um oposicionista sem responsabilidades com a organicidade da base de apoio da administração Dilma. Em plenário e em página inteira do jornal Valor Econômico, Cunha pareceu pular do PMDB para a mais radical das legendas. Qual seria? O PSTU, o PCO – Partido da Causa Operária – ou o conservador DEM?

Pouco importa, na verdade, o que Cunha acredita ser, mas vale lembrar o que ele realmente é: líder de uma bancada de parlamentares que, por compromissos anteriores, cumpridos e desenvolvidos ao longo do mandato presidencial, na medida das possibilidades e da correção do relacionamento, apóia, repita-se, apóia o governo. Não um partido que está na base, e tem presença nos ministérios, trair, chantagear, solapar o governo.

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Raciocinando, ao que parece, momento a momento, de acordo com seus interesses pessoais, acima até mesmo da missão partidária que lhe foi confiada, Cunha erra na avaliação que faz da presidente Dilma. Do alto de sua popularidade, e por todos os gestos políticos e administrativos que a presidente vem dedicando ao Rio de Janeiro, é o PMDB fluminense, e não Dilma, quem só tem a perder com a perda de paciência presidencial sobre este tipo de comportamento. Se Dilma disser tchau, adeus poder no Rio para a legenda. Porque Sergio Cabral, apesar de popular, é ele sim um pato manco, à medida em que não tem mais direito à reeleição.

Como líder, ao falar, Cunha sabe que não vocaliza apenas si mesmo. Em sua voz sempre haverá tons de caciques como o vice Michel Temer, o presidente Alves, o presidente do Senado, Renan Calheiros, Cabral, Paes, Pezão e dezenas de deputados. Ou essas lideranças dão uma enquadrada, e das boas, daquelas cujos termos são duros de serem reproduzidos até para a mulher quando se chega em casa, no líder, ou terá falado por todos. E a decepção da presidente, por erro de avaliação que levou à soberba, terá não mais, apenas, uma solução de resgate de autoridade com dimensões regionais, mas nacionais.

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Dilma, que está mais para cisne no esplendor do firmamento, em razão, repita-se, da popularidade anos luz à frente dos opositores, do regime de pleno emprego que sustenta na economia, da expressão global que vai dando ao Brasil, entre outros predicados, poderá levar o PMDB a pagar pela língua de Cunha. A presidente não está disposta a conviver com desaforos feitos sob medida para arrancar dela favores político-administrativas. Para curvar-se assim, só sendo um pato manco.

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