O Lulo-petismo e a práxis da canalhice

Marconi Perillo foi destaque, neste final de semana, por ter se referido ao ex-presidente Lula como "canalha". As relações entre os dois, que já foram muito amistosas, se deslocaram da rivalidade cordial para a inimizade. Foi Lula quem quis assim



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O governador Marconi Perillo foi destaque na mídia nacional, neste final de semana, por ter se referido ao ex-presidente Lula como "Canalha". Durante a convenção nacional do PSDB, sábado passado, em Brasília, Marconi exortou a militância tucana lutar com garra pela reconquista do poder nacional. E fez um desabafo, ao lembrar a perseguição implacável que lhe move o ex-presidente. As relações entre os dois, que já foram muito amistosas no passado, se deslocaram da rivalidade cordial para a inimizade pessoal. Foi Lula quem quis assim.

Quando Roberto Jefferson denunciou o chamado "mensalão", o então presidente Lula se esquivou de toda e qualquer responsabilidade, alegando nada saber. Esta alegação perdeu credibilidade quando o governador Marconi Perillo declarou à imprensa que, tendo tomado conhecimento das estripulias de José Dirceu, Delúbio Soares e o resto, alertou o presidente, advertiu-o da gravidade da situação.

A declaração de Marconi tirou Lula da sua zona de conforto. Afinal, era melhor, para ele, passar a imagem de que não era senhor em sua própria casa do que ser visto como chefe de quadrilha. Ainda hoje pairam fundadas suspeitas de que Lula nunca foi inocente nesta história. É implausível que ele, sendo quem sempre foi, não tivesse conhecimento do que se passava ali, bem debaixo de sua encanecida barba. Se as circunstâncias autorizavam a suposição de que ele certamente sabia de tudo, tendo o "domínio dos fatos", a declaração de Marconi elevou o suposto a verificado.

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A cada dia vão surgindo fatos que jogam por terra a alegada inocência de Lula. Valério resolveu falar do que sabe. Certo que, sendo ele quem é, não tem muita credibilidade. Mas, cotejado com outras informações, o testemunho de Valério ajuda a desenhar um quadro em que a responsabilidade do ex-presidente vai ganhando nitidez. Resta saber a dimensão da responsabilidade do ex-presidente. José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares comandaram sozinhas as operações criminosas a que se deram o nome geral de "Mensalão"? A única forma de aceitar que os três foram os únicos chefes da quadrilha é admitir que Lula não passava, afinal, de um paspalho. Mas quem conhece Lula sabe que ele, de bobo, nunca teve nada.

Não só nunca foi bobo como, de resto, sempre foi tinhoso. Lula é o político mais mineiro que já nasceu em Pernambuco e se formou em São Paulo. O único espertalhão que a esquerda brasileira produziu.

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Mas, ao contrário dos políticos da escola mineira, Lula é homem de rancores, que se compraz em ajuntar mágoas e em se vingar dos inimigos. No dia que Marconi lhe fez uma advertência de amigo – quem avisa amigo é, diz-se -, ganhou um inimigo vingativo, cujo ressentimento parece eterno. A partir daí, Lula tomou a si a condução do combate a Marconi Perillo, tornando-se o verdadeiro chefe das oposições goianas.

Lula deu ao oposicionismo em Goiás o caráter de uma guerra a santa. O fanatismo tomou o lugar da razão. O único programa da frente lulista de oposição é o ódio ao governador goiano. Não tendo um verdadeiro programa, e não pautando sua conduta por princípios éticos elevados, esta oposição vive de oportunismo e demagogia. Quando o discurso de uma corrente política se reduz a queixas levianas contra buracos nas estradas, é porque, em termos ideológicos, chegou ao fundo do poço e mergulhou na mais espessa mediocridade. Aliás, nem é o fundo do poço, mas o sub-solo do fundo do poço. Nunca o oposicionismo em Goiás caiu tão baixo.

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Óleo e água se misturam? Não em condições normais de temperatura e pressão. A alta temperatura, qualquer cozinheiro sabe disso, óleo e água se misturam. Lula elevou as condições de pressão e temperatura para que o PT e o PMDB goianos se misturassem, e se tornassem farinha do mesmo saco. O partido que nascera da insubmissão dissidente de veteranos militantes do MDB, cuja aversão ao irismo era a essência mesma de seu ser político, jogou-se nos braços de Íris em acatamento as determinações imperiais de Lula. Ao determinar aos petistas goianos esse constrangedor alinhamento ao mais retrógrado dos partidos goianos, Lula não levou em conta os interesses de Goiás. Não levou em conta os interesses de seu partido, que, em nosso Estado, vinha crescendo e se firmando no respeito da opinião pública.

Lula levou em conta unicamente seu ódio a Marconi, sem bem mais valioso. Não bastou atrelar o petismo goiano ao irismo, subordinando o PT ao PMDB e rebaixando o arrojado protagonismo petista ao oba-oba inconseqüente dos peemedebistas. Era preciso atingir o governador, feri-lo em sua honra, impor-lhe humilhações. Sempre à espreita, esperando de tocaia a hora certa de golpear pelas costas, Lula determinou à sua bancada no Congresso que abrisse CPI para abater Marconi. A CPI do Cachoeira tinha por objetivo declarado apurar as maracutáias da Empreiteira Delta, de Fernando Cavendish, e da qual se dizia que tinha Carlos Cachoeira como sócio comanditário. Logo nos primeiros dias ficou absolutamente claro que os negócios da Delta era o que menos importava. A CPI fora criada para pegar Marconi, para envolvê-lo no escândalo Demóstenes/Cachoeira.

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A partir daí, tentou-se de tudo. A venda de uma casa do governador, negócio particular entre particulares que nada tem a ver com os negócios públicos, foi esmiuçada de modo a dar aos mais insignificantes detalhes uma relevância política artificiosa. Marconi enfrentou esta CPI e a ridicularizou. A imprensa nacional foi perdendo o interesse no que ali se discutia. Por fim, ela foi concluída sem que nada fosse provado. A chanchada deu em nada, como no velho samba.

Enquanto durou, a CPI do Cachoeira forneceu combustível a uma agitaçãozinha por aqui. O deputado Mauro Rubens, uma espécie de cego Tirésias da província, arregimentou meia dúzia de bobalhões para ir às ruas gritar "Fora, Marconi". O que se pretendia era criar um vasto movimento popular que coagisse a Assembléia Legislativa de Goiás a decretar o afastamento do governador. A pantomima fracassou porque, necessariamente, teria que fracassar. O "movimento de Massa" intentado por Mauro Rubens não tinha outra ideologia senão o ódio ao governador. Queria o impeachment, mas não foi capaz sequer de imputar a Marconi algum crime de responsabilidade. O fundamento legal do impeachment é que haja, pelo menos em tese, um crime de responsabilidade imputável ao governador. Todavia, para a demagogia moralista dos fariseus do PT, o critério subjetivo, unilateral e arbitrário do deputado eram razões mais do que suficientes para instruir um processo contra Marconi e substituem com vantagem a lei escrita e publicada. O que resultou disso tudo foi ter-se evidenciado um lado do petismo que desconhecíamos: a vocação para o golpismo, a afeição a métodos fascistas, o desapego aos valores universais da democracia.

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Deu em nada o rompante moralista dos agentes locais do lulo-petismo porque faltou povo. As massas não foram na conversa. O proletariado não se identificou com a causa. A juventude estudantil não viu ali uma bandeira que valesse a pena desfraldar. O golpismo petista restringiu-se aos gatos pingados que, depois do fiasco das manifestações, sumiram de uma vez por todas das ruas.

Eles, contudo, não desistem. No início deste ano, badalou-se muito em torno da municipalização da Saneago em Goiânia. Tudo não passou de provocação inconseqüente de irresponsáveis. O assunto foi enterrado sob uma pesadíssima pedra de silêncio. Mais recentemente, porém, surge novo ataque. A revista Carta Capital, órgão oficioso do PT, joga na lama a credibilidade que ainda lhe restava estampando uma das denúncias mais alopradas que já se viu na história da imprensa nacional. A denúncia sobre o hacker Mr. Magoo, cuja existência sequer foi confirmada, é uma história sem pé nem cabeça que ninguém levou a sério, nem os adversários de Marconi. Morreu por si mesma, como morrem os corpos que nascem sem alma.

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Finalmente, a filiação de Júnior Friboi ao PMDB, espetáculo deprimente em que a mão invisível, mas poderosa, do ex-presidente Lula se fez sentir. Este arrivista que representa tudo que o PT já combateu, espera que a militância do PT vá carregá-lo nos ombros. Não duvidem: Lula poderá muito bem impor mais esta humilhação aos petistas goianos. Afinal, para derrotar Marconi vale tudo, até cuspir na própria reputação.

Goiás já foi um dos estados mais pobres da Federação. Depois da falência da mineração aurífera, a população goiana se introvertera. Por mais de 20º anos ficamos isolados do resto do Brasil, como se Goiás fosse outro país e os goianos outro povo. Ainda hoje esta determinante histórica marca o "volksgeist " regional, sendo um traço de nossa cultura um certo acanhamento, um certo distanciamento em face da nacionalidade. No plano econômico, a superação deste isolamento começa com a Fundação de Goiânia, por Pedro Ludovico; prossegue em outro patamar com inovações político-administrativas de Mauro Borges, ganha novo impulso a partir de l983 – graças a forte influência que Mauro e Santillo exerciam no governo peemedebista – e ganham ímpeto irresistível a partir de l998, com a eleição de Marconi Perillo.

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O estado de Goiás está, hoje, entre os dez mais ricos da Federação. Isoladamente, cresceu nos últimos anos num ritmo verdadeiramente chinês. A atividade industrial cresce febrilmente, vai se diversificando, enquanto no setor rural as velhas relações semi-feudais foram totalmente ultrapassadas por um capitalismo arrojado. Este crescimento, claro, é resultado da ação de agentes privados, mas esta ação foi planejada e coordenada pelo governo estadual. E isto se reflete na cultura local, que vai perdendo seu ranço provinciano. Se reflete na mentalidade da população, que sendo absorvida pela modernidade. Paralelo a este vertiginoso desenvolvimento sócio-econômico, o governo desenvolve uma profilática política social-democrata visando anular os efeitos colaterais do capitalismo absorvente.

No comando dessas forças políticas e econômicas que vêm fazendo o estado prosperar e sair da solidão histórica, está o Sr. Marconi Perillo, o homem que Lula odeia. Recentemente, ele comandou em Brasília uma manifestação contra a unificação do ICMS, projeto que, se aprovado, será ruinoso para Goiás. O governador conclamou todos os goianos a se unirem neta causa acima das divergências partidárias. O PT de Goiás não estava lá. O partido que se dizia a confraria das forças progressistas de Goiás, se submete docilmente aos interesses mais reacionários e às forças mais retrogradas deste Estado por força de uma filial e cega obediência a Lula. Trai, assim, seus ideais e seus princípios. Não percebe que vai, a cada dia, se tornando um partido de direita. Quando , porém, resolver tirar a máscara, verá que ela se colou à cara, como em "Tabacaria", de Fernando Pessoa.

Lula deve explicações à opinião pública. Como explica o crescimento meteórico das fortuna do seu filho Lulinha senão pelo tráfico de influência – e isto numa perspectiva caridosa? Que  tipo de relacionamento tinha, ou tem, com a tal secretária, cujo nome dona Letícia nem que ouvir? Por que o presidente insiste em se imiscuir em assuntos do governo Dilma, agindo como se ainda fosse chefe do governo? Canalhice também tem limites.

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