Senador quebra decoro ao ajudar boliviano a fugir

Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES) ultrapassou todas as regras de convivência entre dois países amigos e vizinhos; ele cumpriu papel decisivo na fuga do senador Roger Pinto Molina, investigado por corrupção e narcotráfico na Bolívia, e se gabou de ser um "crítico da falta de determinação da diplomacia brasileira"; ao apoiar um fugitivo internacional, ironizou que o governo brasileiro é "às vezes muito companheiro dos nosso vizinhos bolivarianos"; se o exemplo frutificar, onde irão parar a legislação e os acordos internacionais?; criada mais uma saia justa para a presidente Dilma

Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES) ultrapassou todas as regras de convivência entre dois países amigos e vizinhos; ele cumpriu papel decisivo na fuga do senador Roger Pinto Molina, investigado por corrupção e narcotráfico na Bolívia, e se gabou de ser um "crítico da falta de determinação da diplomacia brasileira"; ao apoiar um fugitivo internacional, ironizou que o governo brasileiro é "às vezes muito companheiro dos nosso vizinhos bolivarianos"; se o exemplo frutificar, onde irão parar a legislação e os acordos internacionais?; criada mais uma saia justa para a presidente Dilma
Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES) ultrapassou todas as regras de convivência entre dois países amigos e vizinhos; ele cumpriu papel decisivo na fuga do senador Roger Pinto Molina, investigado por corrupção e narcotráfico na Bolívia, e se gabou de ser um "crítico da falta de determinação da diplomacia brasileira"; ao apoiar um fugitivo internacional, ironizou que o governo brasileiro é "às vezes muito companheiro dos nosso vizinhos bolivarianos"; se o exemplo frutificar, onde irão parar a legislação e os acordos internacionais?; criada mais uma saia justa para a presidente Dilma (Foto: Sheila Lopes)


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247 – A julgar pela participação e desenvoltura na trama de fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina de La Paz para Corumbá (MS) e, em seguida, para Brasília, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, quebrou todos os padrões de decoro para o cargo.

Ele foi o personagem mais graduado na execução do plano de fuga de Molina para o Brasil, elaborado pelo diplomata Eduardo Sabóia, encarregado de negócios da embaixada brasileira em La Paz.

Ferraço arrumou um avião emprestado, cuja origem ele ainda não revelou, recebeu Molina no aeroporto de Corumbá e o levou para Brasília. Antes, havia se encontrado com o senador boliviano duas vezes na embaixada brasileira. Ferraço conhecia todas as circunstâncias do caso.

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Com 20 processos em curso na Bolívia, inclusive por prática de corrupção e participação no esquema de narcotráfico do país, Molina teve sua prisão decretada pelo governo do presidente Evo Morales. Em 2011, para escapar da cadeia, refugiou-se na embaixada brasileira em La Paz, onde permaneceu por 455 dias, até ser retirado, clandestinamente, por Sabóia.

"SOU CRÍTICO DO ITAMARATY" - Neste processo, Ferraço disse ter tido contato duas vezes e se apiedou de sua situação. Avaliações médicas apontavam para uma forte depressão com tendência ao suicídio. Mas o senador brasileiro já afirmou que, além das questões ditas humanitárias, também agiu politicamente.

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"Sou um crítico da falta de determinação da diplomacia brasileira nesse caso", disse o senador brasileiro ao jornalista Josias de Souza, do jornal Folha de S. Paulo."Nossa diplomacia por vezes é muito companheira dos nossos vizinhos bolivarianos".

Sem dividir suas preocupações com ninguém, Ferraço avaliou, decidiu e agiu como se fosse uma autoridade executiva ao participar do plano de Sabóia. Com a diferença de não estar cumprindo a lei. O que Ferraço fez se iguala uma uma situação hipotética de um condenado pela Justiça brasileira, mas refugiado na embaixada boliviana em Brasília, contar com a ajuda de um político da Bolívia para chegar clandestinamente a um lugar que considerasse seguro.

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ZÉ DIRCEU - Para que se entenda melhor: se José Dirceu, uma vez condenado pelo STF, corresse para uma embaixada e, de lá, em fuga planejada por diplomatas, ainda conseguisse apoio político ao chegar a outro país, isso mereceria aplausos no Brasil? 

O diplomata Sabóia, em defesa de seu plano, sustenta que temia o suicídio de Molina, que ficou 455 dias confinado na missão brasileira. Mesmo sendo assim, Sabóia pode ser expulso da carreira diplomática, por insubordinação. Com Ferraço, na Comissão de Relações Exteriores, uma medida semelhante pode ser tomada, sob pena de ser quebrada a confiança da comunidade internacional nesse organismo do Senado da República.

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E SE FOSSE EM WASHINGTON? - É o caso de se perguntar se o o diplomata Sabóia e senador Ferraço mostrariam a mesma perfomance corajosa se um refugiado nas mesmas circunstâncias de depressão estivesse na embaixada brasileira em Washington. Haveria tanta determinação por "razões humanitárias" na dupla de brasileiros ou prevaleceria o previsível medo de criarem um caso de repercussão com a nação mais poderosa do mundo, com todas as suas consequências?

Em rebatimento aos processos que sofre, o senador Molina acusa o governo de Evo Morales de ter ministros ligados ao narcotráfico e, por ser de oposição, sofrer perseguição política. É uma alegação muito semelhante à do fundador do Wikileaks, Julian Assange, ao se refugir na embaixada do Equador em Londres. Para Assange, as autoridades inglesas o entregaram ao governo da Suécia, onde é acusado de estupro, e este o encaminhará para os Estados Unidos. Finalmente, ali, ele seria processado por espionagem e teria um julgamento absolutamente político, com uma condenação pode décadas. Para fugir a esse destino, Assange está na embaixada equatoriana desde 19 de junho de 2012. E de lá não há previsão que saia tão cedo, uma vez que as autoridades inglesas não abrem mão da sua prisão.

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Como Assange agora, e Molina, antes da fuga, há casos de refugiados em embaixadas pelo mundo que só conseguiram uma solução para seus casos, com prisão ou liberdade, depois de cinco anos de situação transitória.

SAIA JUSTA PARA DILMA - O governo da Bolívia, em relação a Molina, agiu do mesmo modo que a Inglaterra fez com Assange, não concedendo ao senador o salvo-conduto solicitado pelo governo brasileiro, que decidiu aceitá-lo como exilado, sem, no entanto, conseguir trazê-lo legalmente ao Brasil. O diplomata Sabóia e o senador Ferraço resolveram fazer justiça com as próprias mãos e trouxeram Molina clandestinamente. Talvez, por que não?, queiram algum dia fazer o mesmo em relação a Assange e outros. Ferraço, lembre-se, se interessou diretamente pelo caso dos torcedores do Corinthians presos em Oruro, também na Bolívia, aos quais visitou mais de uma vez. Antes da solução diplomática, que os trouxe de volta ao Brasil, será que Ferraço, por razões humanitárias, pode ter pensando numa alternativa radical como a executada a favor de Molina?

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Entre casos imaginários e reais, o certo é que um diplomata e um senador da República criaram uma estreita saia justa para a presidente Dilma Rousseff e o governo brasileiro. Irão ganhar, pelo ridículo, destaque na mídia mundial. Quanto a presidente, ela não tem outra alternativa, diante do que foi feito, de aceitar, caso seja formulado, o esperado pedido de extradição de Molina pelas autoridades bolivianas. Fora da lei ou dos acordos, a alternativa sempre é a ilegalidade.

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